A 5ª Jornada do Sommelier, realizada pela Associação Brasileira de Sommeliers – seccional Rio Grande do Sul (ABS-RS), marcou um momento de reflexão e celebração para o setor vitivinícola. O evento reuniu nomes de destaque do mercado do vinho, especialistas em consumo e tecnologia, representantes institucionais e profissionais da sommellerie para debater os rumos da profissão e os desafios do vinho brasileiro em um cenário global cada vez mais competitivo.
A presidente da ABS-RS, Caroline Dani, abriu o evento relembrando os desafios enfrentados pela instituição em uma década de atuação. “Assim como a videira, que enfrenta diferentes estações, também nós passamos por floração, frutificação e dormência. E seguimos com resiliência”, afirmou.
Desde sua fundação, a ABS-RS já formou mais de 1.200 sommeliers e destinou cerca de R$ 300 mil para projetos sociais, unindo formação profissional ao compromisso com a comunidade. “A Jornada do Sommelier é um símbolo da valorização da cultura do vinho e da formação contínua dos nossos profissionais”, completou Caroline.
Durante a solenidade, o presidente da ABS Nacional, Danio Braga, ressaltou a importância da atuação institucional da entidade e a necessidade de adaptação constante. “Ser sommelier é viver no palco todos os dias. É encantar, ensinar e transformar a experiência do consumidor”, disse.
O deputado estadual Guilherme Pasin aproveitou o momento para chamar atenção às ameaças tributárias enfrentadas pelo vinho nacional. “Mais da metade do valor de uma garrafa é imposto. Estamos às vésperas de uma reforma que pode elevar ainda mais essa carga e colocar o vinho brasileiro em desvantagem frente aos importados”, alertou.
A crítica se estendeu à falta de organização política do setor: “Não basta ter produto de qualidade, é preciso defender a cadeia produtiva com estratégia, articulação e voz ativa.”
Mudanças no consumo e evolução da profissão
Painéis temáticos abordaram as mudanças no perfil do consumidor de vinho, a diversificação das bebidas nos cardápios e a necessidade de uma formação mais ampla para os profissionais da sommellerie, como destacou a presidente da ABS-Goiás, Letticiae Bittencourt. “Hoje o sommelier precisa dominar cervejas, drinks, saquês e outras bebidas. O consumidor quer variedade, quer saber mais e experimentar mais.”
Wallace Neves, eleito o melhor sommelier do Brasil em 2022, reforçou o papel do profissional como embaixador da cultura do vinho. “O futuro do sommelier está na capacidade de se conectar com o público, de gerar experiências sensoriais e de estar antenado às novas fronteiras do conhecimento”, afirmou. Ele citou a exigência de domínio sobre regiões produtoras menos tradicionais, como Azerbaijão e Moldávia, além da importância da presença digital.
O Sebrae-RS, representado por Roger Klafke, destacou a importância dos micro e pequenos negócios nas cadeias de alimentos e bebidas e o papel estratégico do sommelier na conexão entre os elos produtivos. “O sommelier é um tradutor entre o campo e a mesa. Ele transforma conhecimento em experiência, e isso agrega valor a todo o setor”, afirmou.
Segundo Klafke, o crescimento do varejo especializado em vinhos e a criação de comunidades de consumo mostram o potencial de expansão do vinho brasileiro como vetor de desenvolvimento econômico e cultural.

IA, mercado e comportamento do consumidor
No painel sobre o futuro da profissão, especialistas discutiram o papel da inteligência artificial na análise de tendências e consumo. Felipe Augusto Chies, da AWS, ressaltou que a IA pode ser uma aliada, mas não substitui o fator humano. Já Rodrigo Darvas Lanari (Winext) alertou sobre a queda do consumo global de vinho e criticou a falta de posicionamento do setor em relação ao debate sobre álcool. “Temos uma oportunidade de defender o vinho como patrimônio cultural e produto humano, e não apenas como uma bebida”, disse.
Mesmo diante desse cenário, há otimismo: o Brasil figura entre os poucos países com potencial de crescimento no setor vitivinícola, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. O uso estratégico da IA pode apoiar tanto a produção quanto a distribuição, tornando o mercado mais eficiente.
O CEO da Ideal.BI, Felipe Galtaroca, chamou atenção para o excesso de oferta global e os reflexos no Brasil. “O país é alvo de exportadores por causa da queda do consumo em mercados como China e Europa. Precisamos investir em estrutura para crescer com sustentabilidade e defender o valor do vinho nacional”, explicou.
Galtaroca ressaltou que o vinho de mesa ainda representa mais da metade do volume consumido no Brasil, e que o país precisa fortalecer a cultura do vinho para além da pandemia, ampliando acesso, conhecimento e valorização do produto nacional.

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