“O vinho deve ser acompanhado como se fosse um filho”

Conheça um pouco mais sobre Dirceu Scottá, escolhido como ‘Enólogo do Ano 2012’, pela ABE

O vinho deve ser

Eleito pelos próprios colegas de profissão, Dirceu Scottá é o Enólogo do Ano 2012. A homenagem foi prestada durante jantar em comemoração ao Dia do Enólogo, realizado na Vinícola Lovara no dia 19 de outubro, numa promoção da Associação Brasileira de Enologia (ABE). A votação, de 9 a 15 de outubro, mobilizou os associados da entidade que manifestaram sua vontade através do voto, um reconhecimento ao trabalho do profissional.

 

Scottá atua como enólogo da Dal Pizzol Vinhos Finos há 20 anos, onde, além de liderar o processo de elaboração dos vinhos e espumantes, também conduz degustações e administra o marketing da empresa. De lá para cá, construiu sua trajetória baseada na ética e no profissionalismo, além de ter atuado como presidente da ABE por duas gestões, no período de 2004 a 2007.

 

A distinção foi criada pela ABE em 2004 com o objetivo de enaltecer o enólogo, que durante sua vida, soube conduzir seu trabalho, não só qualificando o vinho, mas aportando ao mundo do vinho algo a mais.

 

Desde a primeira edição, já foram homenageados nove profissionais de Enologia. Como parte da homenagem, a entidade premia o enólogo que obtiver a maior votação com uma viagem à Europa, para visitar uma feira do setor vitivinícola, de modo a ampliar e atualizar seus conhecimentos. Abaixo, confira uma entrevista com o ‘Enólogo do Ano 2012’. Ele nos conta como iniciou na carreira e opina sobre o setor vitivinícola no Brasil atualmente.

 

A Vindima: Sua família era produtora de uva e vinho? De que forma entrou no mundo do vinho?
Dirceu Scottá: Nas famílias, por parte de pai e de mãe, sempre foram elaborados pequenos volumes de vinho colonial para consumo próprio e pequenas vendas dos volumes excedentes. Tudo começou quando estava cursando a 8ª série do primário, e meu pai era professor de Técnicas Agrícolas, despertando em mim um interesse cada vez maior pela agricultura. Conversando em nossa casa sobre qual seria meu próximo passo nos estudos, ele comentou que existia uma escola técnica em enologia, onde se aprenderia a lidar com vinhedos e elaborar vinhos. Achei a proposta interessante e aceitei na hora.

 

Ao findar a oitava série prestei o exame seletivo para ingresso na Escola Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubitschek no ano de 1989. Com 15 anos, tive que mudar para o internato do colégio, e visitar a família uma vez a cada 15 dias, sofrido no início, mas não me arrependo de absolutamente nada. Nas férias de inverno de 1991, resolvi trabalhar como recepcionista em uma empresa vinícola durante a Fenavinho daquele ano. A empresa era a Dal Pizzol. Aproveitei para acertar o estágio que tínhamos de realizar nas vinícolas para completar o curso de enologia. Fiz o estágio na Dal Pizzol, acompanhado na época pelo enólogo Ademir Brandelli, o qual era o enólogo da mesma. Ele me acompanhou por um período de três anos até acontecer a transição. Hoje, agradeço imensamente pelo apoio e incentivo recebidos de meus pais, Elio e Inez Scottá. Com o apoio deles eu pude chegar até os dias de hoje como um enológo que aprendeu e viveu muitos momentos marcantes na enologia, e que tem muito a prender e viver ainda.

 

A Vindima: Quem é seu grande exemplo na enologia?
Scottá: Difícil ter um só exemplo a seguir, ou relembrar, mas os professores do curso técnico, (Firmino, Tonia, Faustino, Angheben, Sirlene) e com certeza quem me acompanhou por mais tempo. Considero um grande mestre, o enólogo Ademir Brandelli.

 

A Vindima: Antes da Dal Pizzol, quais foram suas experiências em vinícolas?
Scottá: Não tive experiência em outra empresa, estagiei e comecei efetivado como funcionário na Dal Pizzol.

 

A Vindima: Nesses anos como enólogo, existe um produto que você tenha elaborado e que tenha lhe marcado?
Scottá: Resposta difícil esta. É como perguntar para um pai com vários filhos qual é o seu preferido, considero todos os vinhos elaborados como filhos, portanto todos são muito marcantes e de grande relevância.

 

A Vindima: O que um vinho deve ter para se diferenciar, tornando-se um grande vinho?
Scottá: Primeiramente deve ser elaborado com zelo, carinho e amor, acompanhá-lo como se fosse realmente seu filho. Observar e por em prática todos os ensinamentos e cuidar os critérios de qualidade desde o vinhedo até o vinho na taça. E, principalmente, saber entender o que o consumidor busca ao provar e comprar um vinho de seu gosto.

 

A Vindima: Como você define os vinhos brasileiros atualmente?
Scottá: Poderemos dizer que os vinhos brasileiros evoluíram muito nos últimos anos, porém sabe-se também que poderemos evoluir muito mais em termos qualitativos. Se desconsiderarmos os preconceitos dos consumidores, temos no mercado atual excelentes vinhos, porém precisamos trabalhar para que cada vez tenhamos um volume maior destes vinhos.

 

A Vindima: Qual é sua opinião sobre o setor vitivinícola brasileiro?
Scottá: Acompanhamos, nos últimos anos, uma evolução em termos organizacionais, porém temos alguns pontos específicos, tais como: custos de produção, qualidade das uvas e vinhos, competitividade, cenário mundial, política agrícola específica para o setor (como acontece em vários outros países), formação de profissionais específicos para o mercado do vinho (área comercial), que devem ser debatidos com mais ênfase.

 

A Vindima: Algum conselho para quem deseja seguir na profissão de enólogo?
Scottá: Se você ama o que faz toda a profissão é fantástica. O vinho é a única bebida no mundo que tem o poder de congregar (unir, agrupar) pessoas para degustá-lo, saboreá-lo, identificar defeitos, harmonizar com uma boa comida, passar momentos descontraídos e agradáveis, conhecer pessoas das quais você nunca imaginou um dia conhecê-las. Enfim, o vinho é uma bebida fantástica, que ao ingressar neste mundo, você jamais sairá.: Se você ama o que faz toda a profissão é fantástica. O vinho é a única bebida no mundo que tem o poder de congregar (unir, agrupar) pessoas para degustá-lo, saboreá-lo, identificar defeitos, harmonizar com uma boa comida, passar momentos descontraídos e agradáveis, conhecer pessoas das quais você nunca imaginou um dia conhecê-las. Enfim, o vinho é uma bebida fantástica, que ao ingressar neste mundo, você jamais sairá.

 

A Vindima: Um país que todo enólogo deve conhecer…
Scottá: Aonde tiver uma videira plantada e destas uvas se elabora um vinho é motivo para se conhecer e ver todas as particularidades que existem neste mundo vitivinícola.

 

Christian Bernardi, presidente da ABE; Dirceu Scottá, enólogo da Dal Pizzol, Daniel Dalla Valle, enólogo da Casa Valduga

Christian Bernardi, presidente da ABE; Dirceu Scottá, enólogo da Dal Pizzol, Daniel Dalla Valle, enólogo da Casa Valduga