Pesquisa revela perfil da agricultura familiar da Serra Gaúcha

Os sistemas produtivos desenvolvidos pelos agricultores familiares da Serra Gaúcha ao longo dos anos são resultado de um processo contínuo de adaptação, aprendizagem e inovação das famílias e comunidades rurais. A implantação da viticultura remonta ao final do século 19 com a chegada dos primeiros imigrantes italianos.

 

A viticultura encontra-se presente, na atualidade, em aproximadamente 12 mil estabelecimentos agrícolas familiares na região, que cultivam cerca de 31 mil hectares de vinhedos. Para potencializar e qualificar a produção vitivinícola da Serra Gaúcha, desde 2010, a FECOVINHO, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e parceria dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e IBRAVIN, realiza o Programa de Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER). Participam da iniciativa agricultores de 18 municípios associados de nove cooperativas, além de grupos ligados a sindicatos.

 

Uma pesquisa sistematizada por especialistas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, organizada e aplicada por técnicos do Programa ATER, apontou dados expressivos do universo da agricultura familiar. Foram pesquisadas 597 unidades produtivas rurais. A primeira informação revela o envelhecimento da agricultura familiar.  Apenas 4% das pessoas que vivem nessas unidades produtivas têm entre 14 e 17 anos. Na faixa dos 30 aos 60 anos são 45% das pessoas. Acima dos 60 anos, 21%. Enquanto que, 11%  por cento das pessoas que vivem nessas famílias têm até 14 anos e 18% têm entre 18 e 30 anos.

 

Outro dado importante refere-se ao grau de escolarização. Entre os avós do responsável pelos estabelecimentos rurais, 25% não tinham qualquer escolarização e 75% tiveram até a quarta série do ensino fundamental. Entre os responsáveis pela propriedade, 41% tiveram o ensino fundamental completo, até o 9º ano, 10% têm nível médio completo e 3% estão cursando ou tem nível superior. Entre os filhos dos responsáveis pelas propriedades, 46% tiveram acesso ao ensino médio e 27% ao ensino superior, completo ou incompleto.

 

Quanto ao tamanho das propriedades, 75% delas possuem área entre 10 e 50 hectares, sendo que, em 72% dos estabelecimentos pesquisados, a área considerada produtiva não ultrapassa 15 hectares. Sobre as atividades produtivas de importância comercial, 99% apontaram a uva como atividade importante. Enquanto que 62% apontaram a viticultura como única atividade comercial. A estratégia de sobrevivência é diversificada, porque inclui também a produção de frutas, cebola, hortaliças, alho, milho, feijão, mel e reflorestamento, além de avicultura, gado de leite e suinocultura.

 

Na produção de uva, as “uvas comuns” (variedades americanas ou híbridas) são bem mais frequentes que as uvas viníferas. Essas foram mencionadas com um componente dos sistemas produtivos dos agricultores com uma frequência de 23%. As uvas americanas ou híbridas foram lembradas com uma frequência de 76%. Segundo a pesquisadora Maria José Guazzelli, as uvas de mesa são as que dão sustentação à produção familiar.

 

Programa ATER
As práticas tecnológicas utilizadas pelos agricultores no manejo de suas propriedades produtivas são resultado de uma trajetória histórica de interação das famílias com o meio ambiente. Os estilos de agricultura desenvolvidos pelos agricultores ao longo do tempo são resultado das experiências e conhecimentos acumulados pelas famílias, mas, também, de influências que emergem na sua relação com os mercados, as políticas públicas para a agricultura e com diferentes agentes envolvidos no trabalho de assistência técnica.

 

Com a implantação do Programa ATER, algumas medidas de qualificação da produção já aparecem na pesquisa. Os dados apontem que 81% das unidades já realizam análise de solo, 72% realizam poda verde, 28% usam barreiras de quebra-vento e 21% utilizam algum tipo de manejo agroecológico.

 

Dado preocupante
Um dado preocupante chamou a atenção dos pesquisadores: 92% responderam que ainda utilizam a aplicação de herbicidas. Para 56% dos entrevistados, a maior preocupação na área da saúde é a intoxicação por agrotóxico ou sofrer por doenças decorrentes do uso de agrotóxicos. Na avaliação dos técnicos, a preocupação é importante, mas a cultura da utilização de agrotóxicos ainda impede que os agricultores abandonem a sua utilização massiva.

 

Quanto às alternativas de sustentabilidade para a agricultura familiar, 92% acreditam no cooperativismo como a modalidade para perpetuar a produção de base familiar. A cooperativa aparece também como principal referência da difusão de informações relacionadas às tecnologias de produção. 45% dos entrevistados apontam que têm na cooperativa o principal canal de busca de informações sobre a atividade produtiva. 34% buscam informação com os amigos, 18% através do rádio, 17% através da TV, 16% na EMATER, 14% nas casas agrícolas, 11 no sindicato e 10% nos jornais.

 

Para o tecnólogo em Viticultura, Leandro Venturin, a pesquisa revelou a existência de uma grande diversidade de situações familiares, formas de organização social e produtiva e de relação de negócios.  Neste contexto, a produção vitivinícola convive com as oscilações de mercado, as novas demandas por qualidade, os custos dos insumos e as expectativas das novas gerações em relação aos resultados econômicos e a qualidade de vida. “As comunidades rurais da Serra Gaúcha não são apenas um lugar de produção, mas um espaço de vida onde homens e mulheres constroem seu dia a dia e suas perspectivas de futuro”.

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