Momento de agir preventivamente contra as doenças da videira

Cancros de antracnose nos ramos/escoriose nos ramos/folha com lesões provocadas por podridão.

Cancros de antracnose nos ramos/escoriose nos ramos/folha com lesões provocadas por podridão.(Foto: Divulgação / Embrapa Uva e Vinho)

Meados de junho a meados de julho é o período em que o viticultor deve começar a agir no sentido do controle de doenças da videira, como antracnose, escoriose e as diversas podridões – descendente, da uva madura (a Glomerella) e cinzenta. Para tanto, é preciso centrar esforços na eliminação das partes das plantas contaminadas (nas quais estão as ‘fontes de inóculo’, ou seja, as ‘sementes’ dos fungos) que tenham sobrado da safra anterior, explica o pesquisador em Fitopatologia Lucas da Ressurreição Garrido, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho. A casca seca e restos culturais infectados (ramos e cachos ‘mumificados’) são onde se localizam as tais ‘fontes’.

 

Assim sendo, aponta Garrido, uma das principais medidas a serem tomadas é a poda e retirada do material contaminado, para posterior enterramento ou compostagem (o processo para obtenção de adubo, no qual, com a aceleração da decomposição, são mortos os fungos e outros micro-organismos causadores de doenças em plantas). O pesquisador assinala que a queima dos restos infectados não é mais (considerando que já foi, antes do contexto das mudanças no clima) uma prática recomendada, por se tratar, afinal, de uma forma de degradação ambiental, tendo em vista a liberação de CO2, o gás carbônico, para a atmosfera.

 

Depois da retirada, é hora de aplicação, no vinhedo, de calda sulfocálcica (à disposição no mercado, em recipientes de diversos tamanhos, carecendo apenas de posterior diluição, conforme a orientação do fabricante). A calda, segundo Garrido, além de eliminar estruturas de fungos e insetos que ainda tenham ficado na vegetação, depois facilita o desprendimento da casca seca do tronco das plantas.

 

O expert em Fitopatologia observa que há produtores de uva resistentes quanto ao emprego da calda, por temor de que ela possa corroer o arame e partes em metal do vinhedo. O receio é infundado: no Chile e na Argentina, por exemplo, a utilização da substância é uma prática comum, já consolidada. O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho anota que em relação ao uso de pulverizador a recomendação é a aplicação de ácido acético a 10% (vinagre) sobre as partes metálicas do equipamento, para neutralizar qualquer eventual efeito da calda sobre elas.

 

A respeito das doenças, Garrido comenta que a antracnose é a ‘de início de ciclo’ de mais difícil controle. Já a que mais tem afetado a Serra Gaúcha – dentre as mencionadas na primeira linha deste texto –, de acordo com os relatos dos produtores, é a podridão da uva madura/Glomerella. Contudo, viticultores que efetuam a erradicação dos materiais contaminados e a aplicação de calda na época recomendada não tem enfrentado dificuldades em relação a tal podridão, diz o pesquisador em Fitopatologia. “O problema é o produtor achar que se controla as doenças da videira apenas com o uso de fungicidas”, acrescenta ele, segundo quem o ideal é o manejo integrado de doenças e pragas.

 

Cuidado especial com a podridão descendente
Momento de agir1Também é importante, nesta época, o viticultor observar se não há podridões internas nos ramos ou no tronco, indícios de acometimento por podridão descendente, doença que ocasiona, inicialmente, a redução de vigor da planta, até chegar ao ponto de causar o seu declínio e morte. Tendo sido encontrada parte infectada, é necessário que se faça a poda até encontrar o tecido verde do ramo ou tronco ainda sadio. Aí, explica Lucas da Ressurreição Garrido, efetua-se a aplicação de pasta à base de algum fungicida ou agente de controle biológico, como o Trichoderma, visando à proteção e à cicatrização do ferimento. O pesquisador aponta que é importante fazer o tratamento dos cortes o mais rápido possível depois da poda (no máximo, 15 dias), para não se correr o risco de recontaminação.

 

As características das principais doenças
Após a colheita e durante o período de dormência, muitos fungos sobrevivem nos restos culturais ou mesmo na própria planta, causando doenças na safra seguinte.

 

A podridão cinzenta (Botrytis cinerea) e a podridão da uva madura (Glomerella cingulata) sobrevivem nos cachos mumificados ou mesmo em ramos infectados deixados no vinhedo, constituindo-se nas fontes de inóculo (‘sementes’ dos fungos) para a safra seguinte.

 

Da mesma forma, as doenças de início de ciclo, como a antracnose (Elsinoe ampelina) e a escoriose (Phomopsis viticola), permanecem também durante o período de dormência da videira em cancros presentes nos ramos infectados.
Além destas doenças, a podridão ou morte-descendente (Botryosphaeria sp. e Eutypa lata) vem ganhando importância nos últimos anos, em virtude do desconhecimento por parte dos produtores quanto aos potenciais danos causados ao vinhedo. Esta última também tem como meio de sobrevivência os restos culturais infectados, os esporões que não brotam e os ramos secos mantidos nas plantas.

 

Por Giovani Capra