Mario Olivo Giordano – Um cidadão honorário do vinho

Em dezembro de 1997, o caxiense Mario Olivo Giordano recebeu o título de ‘Cidadão Honorário’ de Flores da Cunha concedido pela Câmara Municipal de Vereadores. A homenagem era destinada as pessoas que não eram naturais do município, mas que tiveram relevantes trabalhos prestados na comunidade. No caso de Giordano, os serviços se deviam, em grande parte, ao trabalho que ele havia desenvolvido na vitivinicultura de Flores da Cunha, especialmente a frente da União de Vinhos do Rio Grande do Sul.

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Mario Olivo Giordano. (Foto: Arquivo familiar)

Mario Olivo Giordano nasceu em 1º de dezembro de 1915, na localidade de São Remédio, então distrito de Caxias do Sul. Seus pais Angelo Giordano e Maria Dalfovo Giordano se estabeleceram na localidade desde a chegada da Itália e lá cultivaram hortifrutigranjeiros e criação de cavalos, porcos e galinhas. Seu Angelo queria que todos os filhos estudassem e com Mario não foi diferente. Ele se formou em contabilidade no colégio Carmo. Iniciou sua carreira como contador na Industrial Madeireira, ainda em Caxias do Sul.

 

Nessa época, Mario Olivo conheceu Maria Triches Giordano, com quem namorou por sete anos e casou em 24 de janeiro de 1940. Com Maria, ele teve sua única filha Maria de Lurdes Giordano, que lhe deu dois netos Fabrício e Cíndia. No ano de 1942, chegou a Flores da Cunha a convite de algumas pessoas que tentavam reerguer uma vinícola em decadência, a União de Vinhos do Rio Grande do Sul. Por meio dos sócios, Olivo foi convidado a ocupar o cargo de diretor da empresa. “A cantina estava para fechar devido as muitas dívidas. Os sócios souberam do trabalho que meu pai fazia na Madeireira e fizeram a proposta para ele dirigir essa vinícola”, relembra a filha Maria de Lurdes. Segundo ela, foi uma aventura para a família. “Tanto meu pai e minha mãe eram de Caxias e minha mãe estava acostumada a morar no centro, a frequentar os clubes sociais e acabou indo morar em Flores da Cunha, no meio do mato”, conta.

 

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Mario Olivo (sentado) junto com a esposa Maria Triches, a filha Maria de Lurdes (de pé no centro) e os netos Fabrício e Cíndia.

O trabalho de Mario na cantina foi duro. Durante três anos, ele foi a procura de novos sócios e atrás daqueles que haviam debandado. Comprou um cavalo, galochas e uma capa e começou a percorrer a colônia para angariar fornecedores. As investidas de Mario deram certo e em poucos anos a União de Vinhos já tinha muitos sócios e clientes. “Ele inspirava confiança e era um homem muito correto, por isso os colonos acreditaram nele e voltaram para a cantina”, acredita a filha. Carisma e coragem, essas que foram reconhecidas. “Meu pai deve ter mais de cem afilhados e com o nome Olivo, em homenagem a ele muitos também. Só eu conheci quatro”, diz.

 

Dedicação
Mesmo nunca tendo trabalhado com vinhos, Mario Olivo se dedicou a fundo. Não é a toa que permaneceu na empresa até 1973, quando se aposentou. Sob a marca Adorável, os vinhos da cantina faziam sucesso na região sudeste. O diretor costumava viajar constantemente para São Paulo e Rio de Janeiro em busca de novos clientes e para vender a bebida que era transportada em pipas e garrafões.

 

O contato com o vinho também o fez desenvolver um hábito peculiar: toda a refeição ao meio-dia tinha que ser feita com uma taça da bebida, em especial o vinho branco. Mario também dedicou-se a produção de uvas, num parreiral que ocupava parte do atual bairro São José.

 

Outro hábito estava no contato com os fornecedores. A filha Maria de Lurdes lembra que ele era muito envolvido com as causas sociais e sempre ajudava os colonos quando precisavam. “Muitas vezes, os agricultores batiam lá em casa desesperados porque um temporal havia destruído os parreirais e meu pai levantava na madrugada e com chuva e ia com eles verificar a situação. Tinha um coração do tamanho do mundo e era um líder nato, não desses que pedem para ser líder, mas que se tornam”, afirma a filha.

 

A dedicação à União de Vinhos e o carinho dos colonos foi reconhecido quando Mario Olivo se aposentou. Os associados se reuniram e deram de presente ao diretor um Ford Landau. E mesmo aposentado ele continuou dando conselhos para os viticultores.”Foi uma pessoa muito querida em Flores da Cunha e amava a cidade. Tanto ele, quanto minha mãe, aprenderam a gostar e nunca mais quiseram sair de lá”.

 

Na política
Além do vinho, Mario Olivo se dedicava a outras causas. Uma delas era a política, sua paixão. Ingressou no ramo como fundador do Partido Social Democrático, participando de sua executiva até a extinção da sigla em 1966. Em 1951, elegeu-se vice-prefeito, na gestão de Raymundo Paviani (nessa época os candidatos a vice concorriam separadamente, cada um pela sua legenda). E atuou novamente na prefeitura de Flores da Cunha, também como vice-prefeito, de 1969 a 1973, durante a gestão de Horácio Borghetti. “Sempre foi metido em política e gostava muito. Era muito ético e lembro que minha mãe contava que a prefeitura tinha um carro para os afazeres, mas ele não usava e preferia ir com o dele. Minha mãe dava bronca para ele usar o veículo da prefeitura, mas ele não achava certo utilizar”, relembra Maria de Lurdes.

 

Na política também foi vereador de 1956 a 1959. E ajudou a fundar a Aliança Renovadora Nacional (Arena) em Flores da Cunha.
Aliás, ajudou na fundação de muitas entidades. No Lions Club, em que atuou até o final da vida, foi um dos fundadores e presidente de 1963 a 1964. Nesta entidade, recebeu o título de sócio-monarca. Ajudou na formação do Grêmio Esportivo Independente, onde fez parte do Conselho Deliberativo; na fundação do Grupo de Escoteiros Alberto Mattioni e nas sociedades de Bochas Frei Eugênio e Recreativa Aquarius; além de colaborar com a instalação da Apae no município. Exerceu ainda o cargo de presidente da Festa do Centenário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul em 1975 e participou ativamente da Festa Nacional da Vindima.

 

Mario Olivo faleceu em 21 de agosto de 2005, aos 88 anos, vítima de falência múltiplas dos órgãos. Morreu seis meses após o falecimento da esposa. “Eles sempre foram muito unidos e ele ficou muito triste após o falecimento dela”, recorda a filha, que conclui: “era um homem muito dedicado. Sempre o vi fazendo conta de cabeça. Cheguei a lhe dar um calculadora de presente, mas ele nunca usou. Quando ele morreu encontrei ela novinha dentro da caixa”.

 

Fontes: Maria de Lurdes Giordano (filha de Mario Olivo) e jornal O Florense.