É possível alimentar bem a humanidade

Praticamente 60 anos depois que os venenos entraram na agricultura com o pretexto de combater insetos e doenças, aumentar a produtividade agrícola e acabar de vez com a fome no mundo, quase metade da população da Terra está mal-alimentada. Aproximadamente uma sexta parte passa fome, outra sexta parte sofre de malnutrição, enquanto uma sexta parte está obesa.
Esses problemas, no entanto, podem ser erradicados. Conforme o relator especial das Nações Unidas (ONU) sobre Direito à Alimentação, Olivier De Schutter, a erradicação da fome e da malnutrição é um objetivo alcançável. A afirmação consta no relatório que este professor belga elaborou ao final de um mandato de seis anos, denominado “O potencial transformador do direito à alimentação”. O relatório foi apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Neste trabalho, o especialista diz que a segurança alimentar precisa ser construída a partir da garantia de prosperidade dos Agricultores familiares e que a chave para este processo é reestruturar os investimentos de apoio a formas de produção agroecológicas.
Entre outros pontos, o relatório destaca que os governos devem apoiar a adoção de práticas agroecológicas como componente essencial para o futuro da segurança alimentar e da garantia do direito à alimentação. O texto ressalta os benefícios ambientais, sociais e à saúde proporcionados pela agroecologia, dando destaque para o fato de que sistemas agrícolas diversificados contribuem para que  as comunidades que produzem sua própria comida tenham dietas também mais diversificadas, melhorando, assim, a nutrição.
Alerta também para o fato de que a agroecologia reduz os custos de produção ao minimizar o uso de insumos caros, melhorando as condições de vida das famílias Agricultoras, particularmente aquelas mais vulneráveis economicamente. Segundo o texto, a agroecologia também cria oportunidades de trabalho nas áreas rurais e promove o desenvolvimento rural.
Diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, De Schutter afirmou que a democracia alimentar precisa ser construída de baixo para cima, no nível de comunidades, regiões e municípios, mas que as iniciativas locais só terão sucesso se forem apoiadas e complementadas por políticas públicas nacionais.
Como exemplo de fortalecimento da Agricultura Familiar,  ele citou a promoção de circuitos curtos de comercialização, que aproxima produtores de consumidores e reduz a dependência de alimentos de outros países.
Na próxima edição veja como as Cooperativas vitivinícolas da Serra Gaúcha podem interferir nesse cenário.

Maria José Guazzelli
Engenheira Agrônoma