Aposta na diversificação de culturas no Vale do Caí

Agricultor caxiense Valter Brustolin investiu no plantio de frutas diversas

 

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Morangos são o carro-chefe do agricultor Valter Brustolin. (Foto: Danúbia Otobelli)

A opção pela diversificação de culturas foi a aposta do agricultor Valter Brustolin, 46 anos, para permanecer na colônia. Natural de Caxias do Sul e filho de viticultores, no início de 1990 ele decidiu se mudar para Bom Princípio, às margens do rio Caí, para tentar a sorte na produção de milho e olericulturas. A intenção era trabalhar numa área mais plana do que a Serra Gaúcha e que pudessem ser usadas máquinas no trabalho. Os primeiros anos não foram nada fáceis. Valter enfrentava dificuldades com o clima úmido e as mudanças de temperatura constantes que dificultavam a sanidade das verduras.

Aliado a isso, estavam as dificuldades econômicas da década de 1990, com a aceleração da inflação elevada e uma taxa de câmbio desvalorizada, que dificultavam as vendas no Ceasa. “A diferença de preços era muita, quando recebíamos o pagamento não conseguíamos comprar nada. Foi uma época difícil”, recorda Valter.

Os tempos estavam tão desanimadores que o agricultor abandonou a colônia e retornou para Caxias do Sul para trabalhar como mecânico. Permaneceu dois anos nessa função, mas como a agricultura estava no sangue resolveu retornar para Bom Princípio e investir em novas culturas. O cenário econômico havia mudado, o Plano Real começava a ser implantado e surgiam novas condições para a agricultura. “Quando vi que todas as verduras estavam caras, eu pensei comigo que estava no trabalho errado e que a agricultura era o futuro”, diz.

Valter retornou para a colônia e passou a plantar morangos – desistiu completamente das olericulturas. O futuro dele estava nas frutas e foi nesse setor que decidiu investir. A aposta realmente funcionou. Começou a adquirir novas propriedades e contratar funcionários. “Assim fomos crescendo e comprando áreas com o objetivo de ampliar nossa produção e ficar distante das enchentes do rio Caí (sua casa fica próxima ao rio e, muitas vezes, ele teve perda nas culturas devido às chuvas)”, conta.

A cultura do morango deu tão certo que ele passou a diversificar a produção e começou a plantar uva, goiaba, citrus e figos. Hoje, o carro-chefe é a plantação de morangos em sistema convencional e semi-hidropônico. São 100 mil plantas e 18 estufas que rendem cerca de 100 toneladas da fruta por ano. A plantação de figos ocupa uma área de 10 hectares e uma produção anual entre 100 a 110 toneladas. Tem ainda mais 2 hectares de goiaba, 3 hectares de uva Niágara Rosada e mais 10 hectares de citrus (laranja, bergamota e limão). Essa última cultura ele cuida apenas de uma parte e arrendou a restante.

A venda é feita diretamente para revendedores e distribuidores da Serra Gaúcha e de outras localidades. As frutas são comercializadas in natura e também para processamento industrial de geleias, no caso dos figos. A embalagem, pesagem e rotulagem dos produtos é feita pela esposa Neide e pelos filhos, enquanto que Valter se dedica a lavoura. “Produzimos muita coisa mesmo”, comenta ele, que tem dez funcionários fixos e, por enquanto, não pensa em montar uma empresa. “Tem muitos encargos e como agricultor é mais fácil, tenho opção de financiamentos, e, além disso, se montasse uma empresa não poderia mais trabalhar na roça, que é o que gosto de fazer”, afirma.

Questionado sobre se a agricultura vale a pena, Valter é enfático: “sim. A agricultura me proporciona ter casa, carro, comprar o que quero. Sofremos para chegar onde estamos, mas me considero um agricultor bem sucedido. Hoje, a agricultura tem um valor agregado e temos uma tendência de mercado para que a fruta seja mais consumida, pois o brasileiro tem maior poder aquisitivo”, conclui o agricultor.

 

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Brustolin também também trabalha com citrus. (Foto: Danúbia Otobelli)

 

Por Danúbia Otobelli
danubia@editoranovociclo.com.br