Carlos Dreher Filho

O criador de uma grande marca

 

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Carlos Dreher Filho, idealizador dos Vinhos Dreher S/A. (Foto: Reprodução)

A família Dreher, vinda da Alemanha, desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1827, decidida a construir sua história por aqui. Karl Dreher foi o chefe de uma descendência de oito filhos. O primogênito Carlos estabeleceu-se em Santa Cruz do Sul, onde foi açougueiro e delegado. Teve nove filhos, entre eles, Carlos Dreher Filho, que iniciaria uma bem sucedida ligação com o setor vitivinícola. Foi ele que introduziu no país a elaboração de vinhos brancos, lançando os nacionais Reno e Liebfraumilch, e deu o pontapé inicial para que seu sobrenome Dreher virasse uma das marcas de conhaque mais famosas do Brasil.

Carlos Dreher Filho era um caixeiro viajante que percorria diversos municípios gaúchos vendendo produtos. Certo dia, de passagem por Bento Gonçalves, percebeu que a uva da região tinha muita qualidade e poderia render bons vinhos. Em 1° de maio de 1905 mudou-se para a cidade, juntamente com a esposa Lydia e os filhos Carlos Dreher Neto, Cordélia e Lucy – o filho Erny Hugo nasceria em Bento. Na bagagem trouxe também a receita do brandy, que se tornaria, anos mais tarde, o conhaque Dreher. Começou a trabalhar com a venda de vinhos tintos para a empresa Orestes Braghiroli & Cia. Ali permaneceu por um ano até decidir montar seu próprio negócio, a Carlos Dreher Filho & Cia. Em 1910, a cantina estava localizada no porão de sua casa e sobrevivia com poucos recursos, equipamentos precários e matéria-prima inconstante. A ajuda dos amigos foi fundamental nessa época.

Conforme conta a neta de Carlos, Beatriz Dreher Giovaninni, as constantes viagens a Porto Alegre resultavam, muitas vezes, em frustrações, pois Carlos não conseguia vender nenhuma caixa de vinho devido aos brancos importados que eram comercializados a um preço muito baixo. “Muitas vezes os próprios amigos se reuniam para comprar as caixas para que ele pudesse pagar as despesas da viagem”, lembra Beatriz.

Foi aí que Carlos percebeu uma grande possibilidade de incremento nas vendas: a produção de vinhos brancos. Para isso viajou à Europa para observar a produção e de lá trouxe as primeiras castas brancas. Uma delas foram as mudas de Peverela, as quais confiou a alguns agricultores da localidade de Linha Barracão os primeiros plantios. Foi assim que iniciou a elaboração dos vinhos brancos nacionais, tornando-se pioneiro nesse tipo de vinho. Aos poucos, as uvas brancas foram despertando o interesse de cultivo entre os agricultores e produtores e aumentaram gradativamente o preço, diferenciando-se daquele pago pelas tintas. A fama das brancas se espalhou para municípios vizinhos, como Garibaldi, onde a vinícola Peterlongo se tornou propagandista.

O nome Dreher firmou conceito no mercado nacional e, em 1927, os filhos Carlos Dreher Neto e Erny Hugo, passaram a integrar a empresa como sócios. Foram eles que deram seguimento ao empreendimento familiar já que cinco anos depois, em 31 de julho de 1932, aos 59 anos, Carlos faleceu de uma infecção generalizada, sem conseguir ver o prestígio que os vinhos brancos e a própria Dreher tomariam.

Mesmo não tendo visto os frutos maduros, Carlos colocou Bento Gonçalves no mapa do maior produtor de uvas brancas do país e contribuiu para outros segmentos. Foi inspetor fiscal do município, presidente por diversas vezes do Clube Aliança, cuja primeira sede foi construída em uma de suas gestões, integrou as diretorias da Associação Comercial, Hospital Tacchini e da Sociedade Tiro de Guerra 357. “Apesar de não tê-lo conhecido sempre me disseram que era um homem muito austero, refinado e sempre voltado para o trabalho”, conta a neta Beatriz.

O império Dreher
Carlos foi o idealizador, mas foram seus filhos e netos que deram continuidade a Dreher. Eles mantiveram inalterada a tradição de elaborar bons vinhos e imprimiram um ritmo de produção e comercialização dos produtos, que fez com que a empresa chegasse a 750 associados. Em 1965, a razão social da empresa foi alterada para Vinhos Dreher S/A e posteriormente para Dreher S/A – Vinhos e Champanhas. Possuíam uma linha famosa que incluía os vinhos Liebfraumilch, Reno, Velho Capitão (em homenagem ao jornalista e empresário Assis Chateaubriand) e Borbonha, o champanha Dreher, o conhaque Dreher Extra Velho, o aperitivo Drink Dreher e o whisky Mansion House, produzido com malt whisky escocês. Esses foram exportados para os Estados Unidos, Holanda e África do Sul, entre os anos de 1957 a 1962.

O império Dreher estava formado, mas duas mortes abalaram a estrutura. Em 1965, faleceu Erny Hugo e no ano seguinte Carlos Dreher Neto. Mais uma vez a sucessão foi passada para familiares. Em 1970, estavam a frente da empresa Carlos Reno Dreher (neto do fundador), o diretor comercial Péricles Barbosa, o diretor industrial Tel Antinolfi, e o diretor industrial Ayrton Giovannini (marido da neta Beatriz), além dos genros de Carlos Dreher Neto, Edgar Nunes e Rolando Gudde (ambos falecidos em um acidente aéreo em 1969). Com eles na liderança, a empresa lançou a logomarca ‘Dreher – de pai para filho desde 1910’, que patrocinava as transmissões pela TV durante a Copa do Mundo de 1970. Nesse mesmo ano, a empresa contava com uma área construída de 25.000m² (com 233 pipas de madeira, 96 piletas de concreto, 12 auto-claves e 300 funcionários) e uma produção de 15 milhões de litros de vinho para destilação e elaboração de conhaque, adquiridos de terceiros. Era a principal vendedora de bebidas do Brasil e o conhaque Dreher tinha 75% das vendas de conhaques produzidos com destilados. Era um verdadeiro império que nem Carlos sequer tinha sonhado.

Entretanto, as instabilidades do mercado nacional, somadas as mortes familiares que eram peças fundamentais na administração da vinícola, acabaram estimulando a venda da Dreher para uma empresa norte-americana.

Na metade da década de 1970, chegava ao fim a administração familiar. Em 2001, a Dreher tonou-se parte do portfólio do Gruppo Campari. Mas a família continuou a elaborar vinhos. Nos anos de 1980, a neta de Carlos, Beatriz, junto com o marido Ayrton, readquiriu uma propriedade que pertencia a Dreher, na localidade de Pinto Bandeira, e que funcionava como estação experimental e hospedagem para os representantes da empresa. Nesse local, ela reergueu o ofício do avô e pai e fundou a Pousada e Vinícola Don Giovanni. “Costumo dizer que nasci dentro de uma pipa, mas nunca pensei em retornar ao mundo do vinho depois da venda. A aquisição e o crescimento da Don Giovanni foram muito gradativos. Começamos a estruturar aos poucos, melhoramos os parreirais e passamos a fazer vinho”, conta Beatriz. A Don Giovanni está localizada dentro da Indicação Geográfica de Pinto Bandeira, considerada ideal para elaboração de espumantes, e produz anualmente cerca de 120 mil garrafas, primando sempre pela qualidade. Pode-se dizer, um orgulho para o precursor Carlos Dreher Filho.

Fontes: Neta Beatriz Dreher Giovaninni/ jornal Gazeta da Serra, de 7 de maio de 1955/ artigo ‘A Dreher chegou ao Brasil para vencer’, de Assunta de Paris.

 

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A família Dreher: Lydia e Carlos Dreher Filho junto com os filhos Carlos Dreher Neto, Erny Hugo Dreher, Cordélia Dreher, Lucy Dreher Dientsbach e do genro Ernesto Dientsbach.