O trabalho com a terra embalado pela música

Merica, Merica, Merica, cossa saràlo ‘sta Merica? Merica, Merica, Merica, un bel mazzolino di fior. Ao fundo as gaitas e as vozes se encaixam na melodia que tanto faz sentido aos que herdam a descendência italiana. É na música e no trabalho com a terra que a família Girelli sente-se orgulhosa em manter as tradições das gerações que os antecederam. Luiz Girelli é protagonista da história da família, que reside na comunidade Santo Antônio, Linha Jacinto, no interior de Farroupilha. Um local onde se pode observar os limites dos municípios do entorno, do alto de uma vista privilegiada. Ele mora na localidade desde os cinco anos de idade. Ali, junto com a família aprendeu a cultivar a terra sem recursos tecnológicos e com muitas dificuldades. Entre os quatro irmãos, Luiz continuou na propriedade. Casado há mais de 35 anos com Ivete, é nas terras da família que passou o conhecimento no trabalho aos filhos Márcio, 34 anos, e Diego, 27, além de Adriane, 18 anos, que estuda fora, mas mora com os pais. As noras, Eliane e Marisa, também trabalham na propriedade.
A renda familiar vem do cultivo da uva, cerca de 300 toneladas por safra, e do pêssego, onde a produção dos quatro hectares da fruta é destinada a venda direta para mercados. A uva é entregue à Cooperativa Nova Aliança, a qual Luiz faz parte da diretoria há mais de 20 anos, desde quando era a Cooperativa Linha Jacinto. “Eu gosto do sistema cooperativo, entregamos nossa produção com segurança”, destaca. Depender do clima é a maior incerteza na agricultura, onde a cada ano perigos como geadas, granizos, ventos fortes e secas, estão cada vez mais recorrentes. “A uva ainda é nossa aposta, somos praticamente em três famílias e conseguimos nos manter, mas sempre há riscos”, destaca Márcio, o filho mais velho.

A música
O mesmo vinho que é o produto final do trabalho de um ano inteiro, também embala as cantorias da família. Eles trazem na sua história o dom da música, e há mais de dez anos mantem um trabalho paralelo tocando em bailes pela região. “Meu avô que veio da Itália era gaiteiro, talvez tenha herdado dele o gosto pela música. Pra mim a gaita é o melhor instrumento que existe”, frisa Luiz, que aprendeu a tocar sozinho há mais de trinta anos. “Minha primeira gaita eu construí de madeira, de tanta vontade que tinha de tocar”, relembra. O Musical Kremony surgiu para manter a cultura italiana, tocando clássicos como Merica, Merica, Mazzolin di Fiori, Torneró, Che Sará?, entre outras.
Luiz na gaita, Márcio no vocal e bateria, Diego na gaita e teclado, e Adriane no vocal, integram a banda que acaba de gravar o primeiro CD com regravações. As apresentações geralmente são aos finais de semana, e os ensaios ocorrem durante as noites, em casa mesmo.
O agricultor também assume outro projeto de destaque: há seis anos ele toca gaita animando o passeio da Maria Fumaça, que faz o trajeto Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Todos os dias ele desloca-se a Bento e conhece muitos turistas, sempre com o intuito de divulgar a cultura dos descendentes de italianos.
Seja sob os parreirais, pomares de pêssego ou em cima dos palcos, os Girelli se unem cada vez mais, se orgulhando da sua origem e projetando um futuro de sucesso.

Por Larissa Verdi

 

Família Girelli, de Farroupilha. (Foto/Larissa Verdi)

Família Girelli, de Farroupilha. (Foto/Larissa Verdi)