Agricultor: cuidado, você é o que você come

A saúde do sistema digestivo depende, em grande parte, da alimentação que mantemos ao longo da vida.
O câncer de estômago é um dos tumores que mais acomete os gaúchos

O gastroenterologista Adelir Bolzzoni atente em Flores da Cunha, na rua Dr. Montaury, 419 – sala 25, no Centro. O telefone para contato é o (54) 3292.3188.

O gastroenterologista Adelir Bolzzoni atente em Flores da Cunha, na rua Dr. Montaury, 419 – sala 25, no Centro. O telefone para contato é o (54) 3292.3188.

São muitos os sintomas quando falamos em problemas relacionados ao sistema digestivo. Formação excessiva de gases, dores abdominais, sensação de ‘queimação’ na barriga ou no tórax, sintomas de mau funcionamento do intestino, problemas no fígado, hepatite, cálculo na vesícula, anemias, e outros problemas que abrangem órgãos do aparelho digestivo. Nestes casos é o médico gastroenterologista ou gastro, como é mais conhecido, que deve ser procurado. O Rio Grande do Sul é um dos Estados que lidera em casos de câncer de estômago em todo o país. A prevenção está em uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais e carnes magras. Para os agricultores, esses cuidados se somam à primordial atenção no manuseio dos agrotóxicos.
Para o médico gastroenterologista Adelir Bolzzoni, que atende em Flores da Cunha, os agricultores estão diariamente expostos a substâncias químicas que se alojam no corpo e dificilmente saem. “Os agricultores devem se proteger, usar todos os métodos de proteção individual possíveis, pois lidam com substâncias químicas. É necessário observar carências e instruções de cada produto. Geralmente essas intoxicações são acumulativas, ou seja, se desenvolvem ao longo dos anos e isso pode acarretar em lesões no fígado, lesões neurológicas que agridem o sistema nervoso e que podem ocasionar sequelas permanentes”, alerta Bolzzoni. Os gastros avaliam e tratam doenças do sistema digestivo, que é bastante amplo e envolve os seguintes órgãos: boca, esôfago, estômago, duodeno, intestino delgado e intestino grosso, além dos órgãos anexos a este aparelho, como o fígado e o pâncreas.

Os tumores de estômago
De acordo com o médico Adelir Bolzzoni, uma das doenças gastrointestinais que mais preocupa são os tumores malignos. Outras enfermidades infecciosas que antes ocasionavam mortes, com o progresso da ciência, acabaram diminuindo sua incidência. “O câncer de estômago é um dos tumores mais frequentes na nossa região, e também em todo o Rio Grande do Sul, assim como o câncer de intestino. Porém são doenças muito preveníveis, desde que as pessoas se cuidem com a alimentação e façam um rastreamento rotineiro, que é a visita ao médico. Os cânceres não avisam, os sintomas são poucos e, geralmente, quando surgem, a doença já está alastrada”, alerta o médico.
Para prevenir esses tumores, primeiramente é necessário observar o histórico familiar. Os cânceres têm uma grande tendência hereditária, por isso, se existem casos de familiares que desenvolveram a doença, o cuidado já deve aumentar. Além disso, uma alimentação saudável, rica em frutas, legumes, verduras e carnes magras, fugindo de alimentos industrializados, daqueles com gordura animal e de fontes de sódio e açúcar em excesso é outra importante forma de garantir a saúde do sistema digestivo. “A própria alimentação, rica em proteínas e carnes vermelhas tem uma clara associação com os tumores, tanto de estômago quanto de intestino. Consumir carnes em excesso é um fator de risco, assim como uma dieta pobre em vegetais. Prevenir tumores é ter uma ingestão maior de fibras, frutas e verduras sempre frescas de preferência”, lista Bolzzoni.
No geral, os exageros, não só de gorduras, mas também no tabagismo (mesmo que esporádico), e ingestão de bebidas alcóolicas, são verdadeiros vilões para a saúde. Hábitos de vida também podem ser associados aos tumores, como esses exageros combinados com a falta de exercícios físicos regulares e o excesso de peso. “Esses hábitos aumentam o risco de tumores no aparelho digestivo, de boca, do esôfago, além de uma série de complicações”, complementa o gastro.
Bolzzoni destaca ainda que no estômago existe uma particularidade que também deve receber atenção e que está associada aos casos de cânceres neste órgão. É a bactéria chamada Helicobacter pylori, que vive no nosso estômago e duodeno, sendo responsável pela mais comum infecção bacteriana crônica em seres humanos. Para pessoas que têm gastrites, dores frequentes e até histórico familiar, é obrigatória a pesquisa dessa bactéria. “Adquirimos essa bactéria na infância, quando a criança está ainda desenvolvendo suas defesas da imunidade e se contamina via oral, em alimentos ou água contaminados. Ela se aloja no estômago e depois de anos – até 20 anos, pode começar a manifestar as consequências da sua presença. Para detectar essa bactéria, existem exames de sangue e de fezes, mas o método mais rápido é a endoscopia”, indica.
A muitas vezes temida endoscopia ainda é o exame mais completo quando se trata de doenças no sistema digestivo. “Este exame acaba assustando porque é invasivo, mas hoje existem equipamentos flexíveis, com imagens de qualidade para detectar lesões e usamos medicamentos sedativos para que ele possa ser feito no consultório. É muito rápido, dura de cinco a sete minutos apenas. O paciente não vê nem sente nada”, garante o médico. Para pessoas mais intolerantes, o exame pode ser feito em bloco cirúrgico.

Alimentação saudável é o segredo
Outro problema que tem se tornado comum nos consultórios dos gastros é a intolerância à lactose. Para Bolzzoni, que lembra que há 10 anos eram poucos os casos, esse aumento ocorre principalmente em função da qualidade em que os alimentos estão chegando até os consumidores. “Acredito que o antibiótico utilizado desde o trato do animal, os constituintes e substâncias usadas para conservar o leite, conservantes lícitos mais os ilícitos que nem sabemos e que estão presentes, tudo isso transforma o alimento e nosso organismo também”, garante o médico.
Além das intolerâncias, as infecções intestinais acontecem principalmente por alimentos contaminados – especialmente no verão, quando são mal acondicionados e acabam gerando a proliferação de bactérias. Essa situação diminui nos meses de temperaturas mais baixas. “Todas as infecções intestinais acontecem por via oral, por algo que se ingere. Sempre que consumimos qualquer alimento contaminado, primeiro ele vai agredir o estômago, ocasionando gastrites virais ou bacterianas. E depois também vai acometer o intestino. O que comemos tem uma clara associação com nossa saúde”, destaca Bolzzoni.
Com isso, o segredo para manter um dia a dia saudável, com disposição e sem a presença de dores que se tornam verdadeiros incômodos, é cuidar de forma especial da alimentação. Incorporar hábitos alimentares saudáveis e reduzir as carnes vermelhas, gorduras, frituras, ampliar o consumo de vegetais – se possível orgânicos – e sempre evitar os industrializados. “Aos agricultores, é importante também que utilizem o mínimo possível de substâncias e agrotóxicos que possam causar danos posteriormente, inclusive para eles. Nossa região tem uma alimentação boa, os meios de saúde são adequados e as pessoas têm informação, então as ações preventivas para essas doenças agora são mais individuais do que propriamente coletivas”, finaliza o médico.