Defensores de partidos ou da ética?

A crise que vivemos no Brasil gerou muitos debates. Alguns aproximam e outros criam barreiras. Todos querem dar sua opinião. Na grande maioria não passam de opiniões. Tem pouca leitura e conhecimento de causa. São comentários de “coisas que ouvi dizer ou vi no Face”. Certo é que a compreensão mais profunda e mais justa dos fatos não se dá nesse nível de conversa. A realidade e sua complexidade exigem mais estudos e um acompanhamento mais embasado para tirar conclusões um pouco mais acertadas. Posso dizer que em muitas situações não me sentia preparado para falar. Preferia ouvir. Gosto de ouvir estudiosos que analisam a realidade e os fatos. O que me convence são argumentos. Não gosto de ouvir análises só a partir de hipóteses. Hipóteses tendem a querer dizer tudo o que vai acontecer antes que de fato aconteça.

Vi pessoas defendendo com garra seus partidos. Todos têm seus argumentos. Não considero que seja construtivo ser apartidário. Não é problema cada um defender seu partido. A política precisa de partidos. Talvez não precise de tantos como no Brasil, mas os contrários são importantes. Não se constrói sociedade, não há política e nem crescimento sem contrários. O mesmo tende a nos acomodar. A mesma coisa sem questionamentos, sem a diferença, não possibilita o progresso e o crescimento. Por isso, a necessidade dos contrários na política. Os partidos e as diferentes posições são muito importantes. O que não são necessárias são posições fechadas, ideias que não respeitam a opinião diferente. O respeito à diferença é fundamental nos contrários e na construção da sociedade. Onde não se respeita a diferença há o imperialismo do mesmo. Só ando com pessoas que pensam igual a mim. Só leio artigos e matérias que traduzem e confirmam o mesmo que eu penso. Só curto postagens das mesmas ideias e dos mesmos posicionamentos.

Compreendo que não devo me “contaminar” com o diferente. Claro, isso vai me tornando especialista do mesmo. Vai ser difícil o diferente mudar minha ideia. Vou compreender que ele está errado. Não leu as mesmas coisas que li e nem se formou a partir do mesmo que eu. É exatamente aqui que está o problema. Aquilo que penso e a forma como penso não abarca toda realidade. A realidade não é um quadrado fechado que eu posso pegar com minhas mãos. O outro, o diferente, terá suas posições. Ele tem também suas razões para afirmar tais coisas. Por isso, devo ouvi-lo respeitosamente. O fechamento no mesmo é um perigo. Isso acontece também na religião e não acarreta poucos distanciamentos, tensões e afastamentos da verdade.

Posso dizer que, neste tempo de crise, fiquei sempre pensativo e até desconfiado dos argumentos de pessoas que defendiam com toda força posições de direita ou de esquerda, ou melhor, de qualquer lado, já que as diferenças entre os partidos estão sempre mais diluídas. Penso que o fundamental, quando as coisas estão nebulosas, seria defender a ética. Apoiar as investigações até o fim e ter desejo de mais clareza dos fatos, independente de quem está sendo investigado, mesmo que alguém que eu gostaria que fosse investigado, ainda não esteja sendo. A defesa da ética, que é aquilo que, de fato, constrói uma sociedade digna, deveria ser a nossa bandeira.