Descubra e invista no mirtilo

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Conhecida também como blueberry, a fruta possui substâncias com poder medicinal, tem mercado crescente e ainda é pouco cultivada no Brasil

Camila Baggio
camila@avindima.com.br

Uma pequena fruta relativamente desconhecida no país, o mirtilo vem ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional, tendo sua maior produção nos Estados Unidos – que também é o país maior consumidor. Na América do Sul é produzido em países como Chile (maior produtor), Argentina e Uruguai. No Brasil, a fruta tem um crescimento lento de produção – a área de cultivo estimada é de 350 hectares, o que resulta em carência de pesquisas e poucas cultivares disponíveis aos produtores. No Rio Grande do Sul, a maior produção da fruta está nas cidades de Vacaria (20 hectares), Pelotas (10 hectares) e Caxias do Sul (4 hectares), de acordo com dados do Censo Frutícola as Emater/RS-Ascar.
O mirtilo é uma pequena fruta muita apreciada para o consumo in natura (fresca) e uma ótima matéria-prima para a elaboração caseira de geleias, sucos, doces em pasta ou cristalizados, tortas e bolos, além de ser utilizado na indústria de polpas, frutas congeladas, iogurtes e sorvetes. Suas características saudáveis e medicinais servem como propaganda para que o potencial dessa fruta, que é menor que um grão de uva e de coloração azul, que pode ser mais claro ou escuro conforme a cultivar, mas com sabor único, seja explorado. Entre as propriedades do mirtilo está a melhoria contínua da visão, uma vez que esta fruta tem concentrações muito elevadas de antocianina, um composto normalmente vinculado com prestações que melhoram a visão noturna e reduzem a vista cansada. Tem ainda capacidade antioxidante – está entre os frutos que contém mais vitaminas, minerais e enzimas; auxilia na redução do colesterol ruim; combate as infecções urinárias; e é conhecida como a fruta da longevidade, uma vez que auxilia na conservação da memória e coordenação motora, problemas geralmente associados a doenças como o Alzheimer.

Alguns passos são fundamentais para a preparação do solo antes do plantio do mirtilo, como a análise do solo; o preparo pode ser feito somente na linha de plantio ou integral da área (subsolagem e gradeação) e a preparação de camalhões (linhas de plantio); correção de acidez para pH 5,5, saturação de bases em torno de 65%; correção de fósforo e potássio; agregação de matéria orgânica (casca de pinus, acícula, serragem e estercos); preservação da cobertura do solo nas entre-linhas; mulch na superfície (acícula, cascas ou serragem); uso de mulch plástico (controle de ervas indesejadas).
Para os camalhões existe um passo a passo:
1 – Com subsolador a uma profundidade de mais ou menos 40cm, dar duas passadas sobre as linhas demarcadas/estaqueadas (na largura do subsolador a mais ou menos 1,5m);
2 – Abrir um sulco no centro dessa área com sulcador, arado ou dois ferros de subsolador unidos;
3 – Preencher o sulco com casca de pinus e ou serragem;
4 – Passar por duas vezes a enxada rotativa encanteiradeira, misturando a casca de pinus com a terra;
5 – Colocar novamente sobre o canteiro formado uma camada homogênea de serragem e ou de casca de pinus e composto orgânico;
6 – Passar quantas vezes necessárias um arado terraceador erguendo um camalhão que deve atingir no mínimo 40cm de altura no centro da linha, procurando manter o alinhamento entre as linhas;
7 – Colocar mais uma camada de casca de pinus e ou serragem em cobertura sobre o camalhão. Após essa operação, o preparo do solo está concluído e o camalhão pronto para o plantio. Em solos argilosos recomenda-se incorporar em torno de 300m³ de serragem e ou casca de pinus/ha.
No caso do mirtilo, existe ainda o cultivo em vasos. São recipientes de 50 litros, num espaçamento de 1,0 x 2,0 x 0,8, em filas duplas. A média é de 6 mil plantas por hectare.

Sobre a espécie

O mirtilo tem sistema radicular muito superficial; flores auto-férteis (mas a polinização cruzada propicia frutas de melhor qualidade); arbustos de porte baixo a alto, conforme a espécie – existe muita variabilidade genética; o fruto é uma baga que varia da coloração azul clara a azul escura, coberto por uma cera chamada de pruína, que acentua a coloração azul.
Seu cultivo exige frio variável (entre 150 e 1000 horas abaixo de 7,2º C°) e proteção dos ventos (quebra-ventos). O solo deve ser bem drenado, com bom teor de matéria orgânica (5%), ácidos – ph ideal entre 4,2 e 5,5 e é muito exigente em água, tornando a irrigação fundamental.

Cultivares e mudas

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Entre os três grupos de mirtilo mais plantados na região (Northern Highbush, Southern Higbush, Rabbittey), as variedades mais cultivadas são O’neal, Misty, Aliceblue, Clímax, Bluecroup, Duke, Elliot, entre outras. Algumas cultivares podem atingir até 20 toneladas por hectare em condições ideais de cultivo. As mudas são propagadas por estacas semi-lenhosas (cerca de 1 ano de viveiro) ou in vitro (de 6 a 8 meses). “O importante na muda é o volume de raízes, com duas a três hastes bem formadas. O ideial é que a embalagem tenha acima de um litro de volume”, destaca o agrônomo Eduardo Pagot.
O plantio das mudas de torrão (bem enraizadas) deve ser feito com a umidade adequada no solo – é importante irrigar logo após o plantio e sempre que necessário. A época de plantio varia entre o outono e final do inverno com o início da primavera. No momento do plantio, é recomendada ainda a poda das mudas (desponte em 10 a 15cm).

 

Controle de ervas indesejadas

Algumas alternativas são possíveis na cultura do mirtilo para evitar ervas indesejadas em meio à área de produção como o arranquio manual próximo das mudas ou uma capina que deve ser cuidadosa, ou ainda a cobertura de palha (mulch) ou o mulch plástico. Na área entre-linhas devem ser feitas somente roçadas. O produtor pode fazer o plantio de plantas de cobertura para a produção de palha ou utilizar cascas de pinnus, acícula ou serragem como cobertura sobre a linha.

Controle anti-geada

Uma cultura que exige frio variável, o mirtilo pode ser afetado pela ocorrência de geadas. Por isso é indicado quando o produtor optar pelo plantio de cultivares de floração precoce, que ajudam e reduzir esses riscos. A aspersão de água sobre a planta em noites com risco (micro-aspersores) ajuda a proteger as plantas. Vale lembrar que uma produção precoce geralmente tem melhores preços no mercado.

Fertilização

Deve ser feita uma adubação pré-plantio (análise de solo), com correção de fósforo, potássio e agregação de M.O semi-decomposta e estercos. A acidificação do solo com o uso de enxofre também deve ser feita caso seja necessário. Recomenda-se ainda adubações de manutenção (análise foliar) e de reposição (de acordo com a produção e exportação de nutrientes), que podem ser supridas através da adubação orgânica ou mineral por meio da fertirrigação. Adubações foliares através do uso de biofertilizantes ou fertilizantes minerais a base macro e micro nutrientes (Ca, B, fosfito de potássio, aminoácidos e outros) também são indicadas.

Poda de produção e poda verde

8 Poda (2)

Nos primeiros dois anos as plantas do mirtilo têm pouca intervenção, apenas o desponte de ramos e a retirada de brotos fracos e mal colocados. Só a partir do segundo para o terceiro ano, durante o inverno, é que ocorre a primeira poda de produção. A poda é diferenciada de acordo com a cultivar. Em plantas mais vigorosas, como as do grupo Rabbiteye, que emitem muitas hastes novas todos os anos, recomenda-se a eliminação de um a dois ramos, de dois ou mais anos, são podados logo acima do solo, dependendo da cultivar. As brotações novas são então conduzidas para produção – ramos laterais de 15 a 20cm considerados com bom vigor e que produzem as melhores frutas.
A poda verde pode ocorrer de duas maneiras: o desponte de ramo para formação de ramos novos laterais ou a poda de mesa para renovação da planta e retardamento da floração. Qualquer intervenção na planta no período do verão deve ser realizada quatro meses antes do início das baixas temperaturas, isso porque as gemas do ápice das hastes necessitam deste período de crescimento para a diferenciação floral ou produtiva.

Quebra-vento e irrigação

Quando a área escolhida para o mirtilo não apresenta uma proteção natural dos ventos (após o plantio das mudas), recomenda-se o plantio de quebra-ventos, formando uma cortina vegetal nas bordas do pomar. Podem-se utilizar ciprestes, pinus, alamos, casuarinas ou cercas vivas, tudo depende das condições climáticas e adaptação dessas espécies no local a ser implantado o pomar. As telas também são uma opção.
O sistema de irrigação mais utilizado é o por gotejamento, com uma distância de gotejadores entre 30 e 50cm. Na água, o ideal é com ph ácido, baixo teor de carbonatos, cloro e sódio. Se necessário deve ser acidificada com ácido fosfórico ou sulfúrico.

 

Controle de pragas e doenças

Desde o início do plantio deve haver um monitoramento e controle de formigas cortadeiras. Além disso, o pomar deve ser observado constantemente com o intuito de detectar possíveis sintomas. O produtor só deve fazer o controle ou intervenção depois que identificar a praga ou doença que está atingindo as plantas. O uso de caldas à base de cobre e enxofre é indicada. Os pássaros também causam prejuízos nesta cultura, assim como o coró (larva) que se alimenta das raízes de mudas novas. Como em outras culturas, a mosca-das-frutas também é uma praga comum no mirtilo – sua oviposição ocorre em 80 dias com mais de 400 ovos, por isso é tão importante monitorar a área plantada. Uma pequena mosca que possui as asas manchadas, cientificamente conhecida como Drosophila suzukii, também é uma praga que pode atacar o mirtilo.
Para o controle e redução dessas pragas o manejo indicado é a utilização de iscas tóxicas nas bordas do pomar assim que detectado nas armadilhas a presença das moscas. Pode ser feita a captura massal (com atrativo alimentar disposto no interior de armadilhas, geralmente sucos de frutas e proteínas de origem vegetal) pelas iscas tóxicas. Para capturar a mosca Drosophila Suzuki podem ser utilizados os seguintes ingredientes: um litro de água; 12 colheres (de sobremesa) de açúcar; e três colheres (de sobremesa) de fermento de padeiro. As armadilhas devem ser colocadas uma a cada seis metros ao redor do pomar. Coloque 150ml do atrativo por garrafa de 600ml ou de um litro. Os furos devem ser de aproximadamente 3cm um do outro.
Outra recomendação para manter essas pragas afastadas ocorre durante a safra do mirtilo – realizar a colheita diariamente ou a cada dois dias, evitando assim frutas super maduras, que acabam atraindo essas pragas, bem como resfriar as frutas colhidas o mais rápido possível. Existem ainda outras alternativas de combate, estas químicas.