Vindima de qualidade: as recomendações para o inverno

Entre os cuidados que devem ser tomados pelos viticultores está o manejo do solo através das plantas de cobertura

 

Uma boa safra de uva começa imediatamente no término da anterior, ou seja, no período da pós-colheita. Essa é uma observação que Lucas Garrido, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, faz para todos os produtores de uva, lembrando a importância de garantir que as plantas fiquem o maior tempo possível com folhas nesse período, evitando os danos da mancha-das-folhas, principal doença da pós-colheita.
Segundo Garrido, geralmente os produtores controlam de maneira eficaz as doenças e pragas até a fase de colheita, mas falham na fase seguinte, quando só aplicam alguns produtos à base de cobre. “Com a falta do controle da mancha-das-folhas, sobretudo nas cultivares americanas e híbridas, ocorre a desfolha precoce da videira, que diminui o acúmulo de carboidratos (reservas), prejudicando a resistência da planta às baixas temperaturas, o vigor das brotações, problemas na floração e, consequentemente, a redução da produtividade e longevidade das plantas”, enumera Garrido.

 

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Enio Ângelo Todeschini, da Emater-RS/Ascar, deu enfoque ao manejo do solo por meio das plantas de cobertura.

 

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Pesquisador Lucas Garrido destacou importância aos cuidados com o controle da mancha das folhas.

Outro cuidado importante durante a pós-colheita está ligado ao manejo do solo através das plantas de cobertura. Segundo o engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, da Emater-RS/Ascar, “o solo protegido é a melhor forma de preservar esse capital, que não é do produtor, mas sim da sociedade”. Ele destaca que desde o final da década de 1990, a Emater realiza um forte trabalho nesse sentido. “Nossa recomendação é diversificação, não só de espécies, mas de famílias botânicas. Ou seja, não trocar simplesmente a aveia por cevadilha (Gramíneas), e sim pelo nabo forrageiro (Brássica), por exemplo. É importante fazer uma rotação ou, melhor ainda, um consórcio de espécies, para contribuir com a microbiota e estrutura do solo”, complementa.

Gramíneas, brássicas e leguminosas

Enio Todeschini destaca que atualmente a orientação é baseada no tripé Gramíneas, representadas pelo azevém e aveias branca e preta; Brássicas, como o nabo forrageiro e as Leguminosas, principalmente trevos e ervilhaca (vica). Destaque para as leguminosas, que fixam nitrogênio do ar e o agregam ao solo, podendo fixar até 250 quilos por ano, substituindo a adubação química. Em função disso, elas devem ser usadas com restrição em áreas com videiras muito vigorosas. Já as gramíneas precisam estar consorciadas com leguminosas ou receber adubação nitrogenada nos primeiros anos de introdução, pois têm alto consumo desse nutriente. Esse reforço de nitrogênio deve ser implementado logo no início do desenvolvimento das espécies, possibilitando o máximo de desenvolvimento vegetativo e, consequentemente, produção de grande volumes de massa verde e seca.

 

BRS Ponteio

Azevém.

 

No caso do nabo forrageiro, o agrônomo exemplifica que a utilização traz muitos benefícios para o solo por funcionar como um subsolador natural, cujas raízes fortes e profundas trazem nutrientes para as camadas mais superficiais e aumentam a porosidade do solo, ampliando a capacidade de armazenamento de água, evitando a erosão. Além de todas essas vantagens, a espécie ainda é um excelente pasto apícola, fornecendo pólen e néctar para as abelhas na entressafra, quando não há praticamente outras espécies em florescimento, complementa Todeschini.

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Nabo Forrageiro.

 

Outro manejo fundamental é a utilização de compostos orgânicos para a adubação. Segundo Luís Carlos Diel Rupp, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, existem formulações interessantes que foram validadas durante os 15 anos em que esteve à frente do Centro Ecológico de Ipê. “A utilização destes compostos é abrangente. Por exemplo, os biofertilizantes oferecem grande volume de microrganismos benéficos às plantas e ao solo, enriquecendo a nutrição e melhorando a estrutura respectivamente.”
As informações acima foram tema de Dias de Campo sobre mancha-das-folhas da Videira, realizados em Bento Gonçalves (RS) e em Flores da Cunha (RS), nos dias 16 e 17 da maio de 2018, numa promoção conjunta da Embrapa Uva e Vinho, Emater/RS-Ascar e Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

A ação, que reuniu 160 produtores e técnicos, integra o projeto Tecnologias para a viabilização e sustentabilidade dos vinhedos em áreas de renovação na região sul do Brasil, liderado pela Embrapa Uva e Vinho, com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Emater-RS/Ascar. Informações complementares sobre os manejos recomendados podem ser obtidas diretamente com as instituições promotoras.

Não esqueça
– Os produtos à base de cobre (calda bordalesa, hidróxido de cobre e oxicloreto de cobre) não são eficazes no controle da mancha-das-folhas, mas sim para o controle do míldio. Para a mancha-das-folhas, produtos à base de enxofre ou triazois são eficazes.
– É importante manter um rodízio ou consórcio entre gramíneas, (azevém e as aveias branca e preta), brássicas (nabo forrageiro) e leguminosas (trevos e ervilhaca), sempre evitando a dessecação com herbicidas.
– O uso de biofertilizantes é uma alternativa para fortalecer o solo e a planta.

Imagens: Embrapa/Divulgação