A batata-doce é um dos cultivos mais democráticos do Brasil, pois cerca de 24% dos municípios brasileiros produzem a cultura para sua subsistência e também para comercialização. Essa cultura é produzida em pequena e larga escala nas mais diferentes regiões edafoclimáticas do país e com graus de tecnologia também bastante diversificados. A produtividade média da cultura no país é de cerca de 15 toneladas por hectare, mas varia de 0,3 a mais de 48 t/ha dependendo do nível tecnológico utilizado. Grande parte da popularidade da cultura advém de suas boas características agronômicas, além da grande versatilidade nos usos culinários.
Carboidratos são os nutrientes disponíveis em maior quantidade em batata-doce, variando de 80 a 90% do total de matéria seca que pode variar de 13 a 48%. Recentemente, a cultura atingiu grande popularidade na mídia em função de ser considerada um alimento saudável. Esse fato ocorre principalmente pela presença de vários componentes nutracêuticos, tais como: fibras, vitamina A, vitamina C e antocianinas. Além disso, a batata-doce apresenta um baixo índice glicêmico.
A batata-doce é capaz de produzir sementes botânicas, porém estas raramente são observadas no campo, uma vez que as raízes geralmente são colhidas antes do florescimento da planta. Dessa forma, a propagação da cultura é realizada comercialmente de maneira vegetativa via corte e transplantio de ramas de 30 a 50 cm. Esse aspecto facilita muito o plantio da cultura, mas ao mesmo tempo incrementa a quantidade de pragas e doenças transmitidas de uma lavoura antiga para uma lavoura nova. Outro impacto negativo do transplantio constante de ramas ao invés de sementes botânicas é a diminuição da variabilidade genética, o que em médio e longo prazo pode comprometer a diversidade da cultura aumentando, assim, riscos de epidemias de pragas e doenças. Para minimizar esses problemas, países como Estados Unidos, Peru e Uruguai têm programas nacionais ou estaduais de melhoramento genético que frequentemente lançam novas cultivares.
Apesar de sua importância econômica, nutricional e social para o Brasil, a batata-doce ainda é uma cultura negligenciada pelo setor agrícola tanto na pesquisa pública quanto na iniciativa privada. Atualmente, quase a totalidade dos implementos, equipamentos para processamento e grande parte das recomendações agronômicas são oriundas de culturas como batata ou cenoura. Outro aspecto relevante é a inexistência de produtos fitossanitários registrados para a cultura, o que diminui a produtividade ou faz com que os produtores utilizem produtos não registrados em dosagens não testadas. Além disso, quase todas as cultivares desenvolvidas no Brasil são pouco caracterizadas agronomicamente, não têm nenhuma avaliação nutricional e fitossanitária e nem um pacote tecnológico específico desenvolvido. O resultado é que quase a totalidade da batata-doce comercializada no Brasil é composta de acessos locais de produtores ou materiais de origem desconhecida, mas não de cultivares registradas no Ministério da Agricultura Abastecimento e Pecuária (MAPA).
A consequência da comercialização de acessos não testados nem caracterizados é a falta de conhecimento do seu potencial nutricional e produtivo e, com isso, a dificuldade na recomendação de uso. Além disso, a falta de conhecimento dos principais aspectos de manejo faz com que recursos caros como adubos e defensivos sejam sub ou superutilizados, causando grande impacto ambiental além de potenciais danos à saúde humana. Dessa forma, é fundamental a realização de parcerias e projetos entre as poucas instituições que lidam diretamente com a cultura no país para a melhoria de todos os aspectos da cadeia produtiva visando assegurar, assim, a sustentabilidade da cultura que hoje é socialmente uma das mais importantes da agricultura brasileira.
Alexandre Furtado Silveira Mello
Engenheiro Agrônomo
Pesquisador da Embrapa Hortaliças