A sociedade de hoje facilmente nos força a assumir papéis. As pessoas passam a ser o que são em tensão com aquilo que precisam parecer ser. Muitos lidam bem com essa tensão. Quem decide ser o que é se torna livre interiormente. Outros pendem a ser aquilo que não são e estão sempre em busca de algo que dificilmente vão encontrar. Decidir ser o que não se é deve ser muito angustiante. A pessoa sente-se pressionada o tempo todo a demonstrar com aparências o que ela de fato não é. O parâmetro é sempre os outros e aquilo que ainda não consegui alcançar.

Fala-se de mundo das aparências. Isso deixa as pessoas interiormente divididas. Estão sempre perseguindo um desejo que as deixa insatisfeitas. Nem sempre a pessoa percebe isso, mas sente uma angústia permanente por pensar que sua felicidade está lá na frente, no outro lado. Pensa ser necessário ter outro emprego, outra casa, outro carro, mais dinheiro, etc. A situação em que está e o que está vivendo simplesmente não satisfaz. Pensa que quando for diferente será feliz; quando pagar todas as contas; quando concluir o curso; quando encontrar aquela pessoa para amar; quando conseguir atingir aquela posição social ou quando vencer aquela dificuldade, então sim será feliz.

Colocar a felicidade sempre no futuro é um perigo. Os dias podem passar sem que eu sinta sabor naquilo que vivo e experimento. Certo é que estamos sempre em busca. Nunca estamos plenamente satisfeitos com a realidade. Queremos mais. Não posso parar e me acomodar com as mesmas coisas, sem querer mais, sem me determinar com novas e criativas atitudes. Precisamos alimentar os sonhos. Não dá para parar. Mas, ao mesmo tempo, precisamos sentir que o presente tem sabor. Não posso viver na angústia por encontrar um sentido que está longe e não me alegrar com o presente. As pessoas que encontro, a vida e as paisagens que contemplo, o trabalho que faço, a conversa que escuto, o ritual que celebro, a mão que estendo, tudo isso, precisa me proporcionar alegria e me deixar motivado. É encontrando sabor em tudo, que posso caminhar na busca de encontrar mais. Assim a vida, com tudo o que ela envolve, inclusive os sofrimentos, me dá motivos para que eu possa dizer: sou feliz.

Para que isso seja possível preciso aceitar a condição de fragilidade que sempre carrego comigo. Não somos perfeitos. Precisamos aceitar nossos limites e carências. Não posso pensar que preciso estar sempre pleno, como se não pudesse me faltar nada. Administrar as faltas permanentes é manter aberta a porta da transcendência. Por que somos frágeis e carentes e ao mesmo tempo habitados pelo infinito, desejosos do infinito, é que a “porta do mais” está sempre aberta. Queremos mais, estamos sempre insatisfeitos. Algo parece sempre nos faltar. Há dentro de nós como que um “espaço” para preencher e um impulso que nos joga pra frente, nos fazendo querer mais, esperar mais. Esse “espaço” aberto pode tentar ser preenchido com coisas, o que nos levará para o engano ou poderá ser o espaço de Deus em nossa vida.

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