Fungo tem alto poder de destruição e inviabiliza áreas de cultivo
por até 20 anos, fazendo com que produtores desistem do plantio
Danúbia Otobelli
A podridão branca é uma velha conhecida da cadeia produtiva do alho e da cebola e considerada uma das mais sérias ameaças ao cultivo dessas hortaliças, podendo inviabilizar o plantio de uma região inteira. Na Serra Gaúcha, o município de São Marcos, maior produtor estadual de alho, enfrenta problemas com a praga. Por causa da doença, muitos agricultores deixaram de cultivar o bulbo em suas lavouras e procuraram novas áreas fora do município ou mesmo desistiram da produção. Segundo a Emater de São Marcos, o município reduziu a área de 300 hectares plantados em 2012 para 200 hectares neste ano. No mês de maio, durante o Encontro do Alho, realizado na cidade, a podridão foi tema principal. Na ocasião, o técnico agrícola da Emater, Eri Zanella, apontou que os resultados da praga na hora da colheita são catastróficos e contaminam a plantação em pouco tempo. “Há uma dificuldade de se obter novas terras em São Marcos, onde as lavouras estão esgotadas, dada a longevidade da cultura. O problema é que a gente planta alho há muito tempo na mesma área com pouca rotação de cultura”, apontou.
A ‘praga’ é causada pelo fungo Sclerotium cepivorum Berkeley, que possui um forte poder destrutivo, causando grandes perdas em lavouras instaladas em locais altamente infestados pelo fungo e sob condições ambientais favoráveis. A podridão branca tem uma grande capacidade de sobrevivência, inviabilizando áreas para cultivo de cebola ou alho por oito até 20 anos. “Não existem variedades resistentes a essa doença e o que recomendamos baseia-se em ações preventivas para evitar a introdução do patógeno em novas áreas”, explica o pesquisador Ricardo Pereira, da Embrapa Hortaliças.
O que se pode fazer nesse sentido são ações de controle de disseminação. Em épocas frias e com bastante umidade, na presença de plantas de alho, os escleródios (estrutura reprodutiva do fungo) germinam podendo infectar a base de bulbilhos (alho) causando a podridão. A temperatura para a germinação dos escleródios e o surgimento da doença é de 10° a 20° C, já em temperaturas superiores a isso, o desenvolvimento do fungo diminui. Não há relatos da disseminação do patógeno pela semente, mas através de bulbilhos contaminados que são transportados de um local para outro. Dentro de uma plantação, a disseminação é feita pela água de irrigação, máquinas, implementos, ferramentas, trânsito de pessoas e embalagens como caixas ou sacos contaminados. Segundo o pesquisador, para se evitar a disseminação de áreas infectadas, o agricultor deve cuidar com o compartilhamento de ferramentas e máquinas agrícolas. “Vale ressaltar que é equivocado por parte de alguns produtores realizarem a tecnologia de rotação de culturas como uma das maneiras de reduzir a população de fungos e, consequentemente, da podridão branca”, esclarece. Conforme ele, trocar as espécies vegetais a cada novo plantio não funciona com o fungo, pois, por residir na matéria orgânica do solo, e formar estruturas de resistência, mesmo se não for plantado nada durante 20 anos, sobrevive da mesma maneira. A rotação de cultura deve ocorrer por um período longo de 10 a 12 anos. “Recomendamos a solarização em pequenas áreas ao invés de rotação. Trata-se de uma técnica de cobertura do solo úmido com lona transparente, que pode fazer a temperatura chegar a até 70° C, e que resulta numa boa esterilização, reduzindo a infestação”, ensina.
Manejo da doença
De acordo com material da Embrapa Hortaliças, não existem cultivares comerciais de alho e cebola resistentes à podridão branca. O controle químico é pouco eficiente e não há fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle do fungo. Apesar da pouca eficiência do controle químico no campo, o tratamento dos bulbilhos sementes com fungicidas específicos pode evitar a introdução do patógeno em áreas ainda não infestadas.
Devido a isso, as principais medidas de manejo contra a doença se tornam as preventivas, tal como: plantio de alho semente em áreas isentas ou em épocas e locais onde as condições climáticas são desfavoráveis à ocorrência da doença. Conforme os pesquisadores Ailton Reis e Valter Rodrigues Oliveira no artigo Identificação e manejo da podridão-branca do alho e da cebola, uma das formas mais eficazes de prevenção continua sendo o controle na qualidade sanitária do alho semente, o que garantirá uma perspectiva de lavoura sadia. “Muitos produtores de alho utilizam o alho semente próprios ou de terceiros, sem nenhum controle de qualidade. Os bulbinhos são produzidos em lavouras a céu aberto, muitas vezes contaminados com patógenos de solo. Os materiais propagativos produzidos desta forma podem disseminar patógenos para lavouras novas e até mesmo para regiões distantes de onde foram produzidos”, escreveram os pesquisadores.
Por isso, é importante que produtores de alho, onde a doença ainda não ocorreu, fiquem atentos com a qualidade do material propagativo que irão utilizar. Além de monitorarem suas lavouras e comunicarem aos órgãos para que se isole a área e se evite a disseminação da podridão branca.
Um material informativo com orientações que podem ajudar o produtor a introduzir um tipo de barreira sanitária contra a infestação do fungo já está em circulação.
Como identificar a ‘praga’
– O mais comum são sintomas na parte aérea, caracterizando o subdesenvolvimento das plantas, o amarelamento e morte das folhas mais velhas e o apodrecimento dos bulbos.
– Em regiões úmidas, observa-se nas plantas atacadas, um crescimento cotonoso branco. Com o tempo, o micélio branco vai dando lugar a pequenos pontos escuros, que são os escleródios do patógeno, os quais dão um aspecto enegrecido ao bulbo atacado.
– As raízes também apodrecem e devido a isso as plantas afetadas são facilmente arrancadas do solo.
– A presença de escleródios negros pequenos sobre os bulbos atacados é muito importante para o diagnóstico correto, uma vez que os demais sintomas podem ser causados por outros fungos.
Fonte: Embrapa Hortaliças