
A dose é que faz o veneno. O famoso ensinamento (muitas vezes mencionado em relação ao consumo de vinho, aliás) do cientista Paracelso pode ser também aplicado a uma das práticas culturais mais comuns a qualquer agricultor – a adubação. Pode não, deve: em excesso, o uso de ‘condicionadores de solo’ (os adubos) leva ao desequilíbrio do solo e da planta, aumentando a suscetibilidade (a predisposição) a muitas doenças e à contaminação do meio ambiente, comprometendo a qualidade final das colheitas, dentre outros prejuízos.
Em relação a mais tradicional zona produtora de uva e de vinho do Brasil, a Serra Gaúcha, o problema é significativo. “Há, em toda a região, propriedades vitícolas em cujo solo foi lançado adubo suficiente para vários anos”, afirma o engenheiro agrônomo Luís Carlos Diel Rupp. “Fósforo, por exemplo, tem para mais de uma década”, acrescenta, mencionando um dos tipos de macronutriente cuja eventual carência se busca corrigir com a aplicação de fertilizantes. Potássio e nitrogênio são outros elementos que se encontram em demasia nos solos na região, por conta da utilização incorreta de condicionadores, segue Rupp.
Pois ele, em uma iniciativa da Prefeitura local, através da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento, percorreu o interior de Flores da Cunha, em junho e de 29 de setembro a 8 de outubro, para, dentre outros objetivos, alertar sobre a situação, sensibilizando o produtor quanto à urgência de diminuir o uso de adubação. Foram nove encontros (estando mais um previsto ainda para a primeira quinzena do mês de outubro), nas próprias comunidades, em que Rupp – que também é coordenador do Centro Ecológico Ipê – falou sobre Manejo de solos e nutrição de parreirais na Serra Gaúcha.
“A adubação é fundamental, uma vez que a nutrição exerce papel importantíssimo quanto à sanidade das plantas e à produtividade, mas tem que ser feita na medida certa”, anota o agrônomo. O que determinará a ‘dose’ correta, continua ele, são as análises de solo (normalmente feita no pós-colheita, para se saber como proceder para a safra seguinte), foliar (de conteúdo nutricional das folhas) e visual (em que se avalia o desenvolvimento da planta e a qualidade do próprio produto final).
Utilizando a adubação verde
Constatada a eventual carência de algum macronutriente, não somente por meio da aplicação de fertilizantes é que o agricultor poderá agir para ter boas condições de produção. “Um bom manejo de solo com adubação verde (ou as também chamadas plantas de cobertura do solo) vai resultar em plantas mais sadias, que vão adoecer menos”, observa Rupp. O menor gasto em insumos, a preservação da saúde do produtor e do meio ambiente e a obtenção de produtos de melhor qualidade final são outros ganhos relacionados à prática, sublinha.
Em tal sentido, recomenda-se a utilização de diferentes espécies na adubação verde, de acordo com a necessidade do solo. Um exemplo é o uso predominantemente de aveia (uma gramínea) e de ervilhaca (uma leguminosa, que fixa nitrogênio do ar por simbiose com bactérias), em menor quantidade, consorciação indicada para casos de necessidade de aporte de nitrogênio. Em contrapartida, tendo em vista que os parreirais na região, em sua maioria, tem muito vigor, se aconselha a utilização de gramíneas – como aveia, centeio e outros – e, “apenas com muito critério”, de nabo forrageiro (uma crucífera, que apenas recicla nitrogênio do solo) ou ervilhaca, isoladamente, posto que aporte nitrogênio ao solo.
Benefícios – Luís Carlos Diel Rupp assinala que os benefícios propiciados pela adubação verde podem ser divididos em físicos, químicos e biológicos.
Os ganhos físicos são dos mais diversos tipos. Inicialmente, ao cobrir o solo, a adubação verde controla a erosão. “E estamos em uma região com solos inclinados e índices altos de chuva; portanto é preciso se preocupar com esse problema”, anota o agrônomo. Ele aponta como outro benefício físico a descompactação – que facilita a absorção de nutrientes – e melhor estruturação do solo. Nesse sentido, a prática também age diminuindo a compactação do solo provocada pelo trânsito de máquinas, como tratores. Por fim, a adubação contribui para o controle de inços, como milhã e papuã etc..
Melhorias químico-biológicas
Em termos de melhorias químico-biológicas, a adubação verde, em um primeiro momento, alimenta os microorganismos responsáveis pela disponibilização de nutrientes às plantas e, ainda, diminui a incidência de doenças do sistema radicular. Ou seja, aumenta o teor de matéria orgânica do solo, o que redunda no incremento da capacidade de retenção de nutrientes – o que, tecnicamente, é denominado como efeito CTC, abreviatura de Capacidade de Troca de Cátions. A matéria orgânica, por sua vez, ajuda a ‘complexar’ elementos como alumínio e cobre, entre outros, que são potencialmente tóxicos às raízes. Ainda, a matéria orgânica ajuda na manutenção de um índice de pH bom (o efeito de ‘tamponamento’ do pH) e aumenta a aeração do solo e a sua capacidade de retenção de água. “A matéria orgânica é um substrato para a vida ativa do solo, o que resulta em maior disponibilidade de nutrientes para as plantas e na obtenção de solos ‘supressivos’ (em que não se desenvolvem patógenos, como a fusariose)”, diz Rupp. A adubação também influi na manutenção de nutrientes no sistema, como o nitrogênio e o potássio, por exemplo, que são facilmente perdidos, diminuindo a necessidade de reposição dos mesmos.
Para o manejo da adubação verde, o agrônomo observa que se tem utilizado, também em demasia, herbicidas tendo glifosato como princípio ativo. O uso excessivo tem redundado na criação de plantas daninhas resistentes à substância – tendo sido dez espécies já catalogadas pela Embrapa –, bem como em problemas para o crescimento das plantas e doenças de solo, assinala o engenheiro agrônomo.
Assim, ao invés de herbicidas, ele recomenda a adoção de práticas como o ‘acamamento’, a derrubada da palhada. Para tanto (conforme publicado na edição passada de A Vindima, na ‘Folha Técnica’), o produtor pode usar desde uma caçamba ou plaina até a copa de árvores como o eucalipto ou mesmo um conjunto de pneus velhos. Entre os benefícios proporcionados pelo ‘acamamento’ estão o controle das ervas espontâneas durante a primavera e verão (praticamente como um herbicida natural), a manutenção da umidade do solo e o controle da erosão. As plantas de cobertura ou inços devem ser sempre manejados quando faltar água para as parreiras.
Responsabilidade não é só do viticultor
Rupp reforça que, na produção vitícola na Serra Gaúcha, “é ponto pacífico que o pessoal utiliza adubo em excesso”. “Os agricultores sabem que adubando bastante vão colher bastante”, pontua. Nesse momento, entra em cena um outro ‘responsável’ pelo contexto, na avaliação do agrônomo: a indústria vinícola, que, “de um modo geral, remunera quantidade, e não qualidade”. “Há exceções, mas a regra é essa”, analisa ele. “Depois, o que é que se vai fazer de uma uva com dez graus babo? Usar açúcar para corrigir”, completa, ressaltando que, no caso da viticultura, a graduação glucométrica é proporcional à produtividade – quanto mais matéria-prima se colhe em uma área, menor será o índice de doçura (entre outros indicativos de qualidade) do produto.
Os momentos da adubação
Constatada a real necessidade de utilização de condicionadores de solo, as épocas de aplicação são, conforme Luís Carlos Diel Rupp:
* No caso de calcário e adubos orgânicos, em torno de quatro meses antes da brotação;
* No caso de adubos químicos, logo após ou até 80 dias depois da poda (sendo o ideal, segundo Rupp, a efetivação de forma ‘parcelada’).
Foto: Giovani Capra
Respostas de 2
Olá, parabéns pelo artigo!
Conteúdo muito bom e de fácil entendimento!
Grande abraço!
Ps. Se precisar, conte conosco para dicas e informações sobre tipos de
grama nos links abaixo.
Grama Esmeralda
Grama Batatais
Grama São Carlos
Grama Bermudas
Grama Santo Agostinho
Grama Coreana
Realmente a adubação deve ser feita adequadamente, peço permissão para fazer referencias sobre seu site no meu http://www.portaldasgramas.com.br