Bagaço composto pela casca, sementes e talo é usado no processo de produção do composto criado nas salas de aula da Unipampa de Dom Pedrito
Estima-se que o bagaço corresponda a 16% da uva processada para a produção de bebidas, e o descarte dessa montanha de resíduos gera um enorme passivo ambiental. Foi pensando nisso que alunos do curso de Enologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Dom Pedrito, na região da Campanha do Rio Grande do Sul, estudaram o aproveitamento desses resíduos como adubo orgânico. Depois do processo das uvas na indústria, os resíduos que sobram da fruta, como as cascas e sementes, seguem para uma compostagem. Os resultados incluem entre as vantagens a criação de uma gama de macronutrientes essenciais ao crescimento das plantas.
A professora da Unipampa, Etiane Skrebsky Quadros, conta que o projeto surgiu a partir de atividades sobre a elaboração de compostagem realizadas em sala de aula. “Os alunos eram incentivados a trazer resíduos de origem animal e vegetal e confeccionarem sua própria compostagem. No curso de Enologia começou-se a desenvolver esse trabalho com os resíduos de uva, como bagaço, sementes e o engaço, aliado a outros resíduos. A atividade se estendeu para um vinhedo comercial onde o reaproveitamento dos resíduos de uva da vinícola foi direcionado para a elaboração de adubo orgânico”, conta Etiane. O projeto é cadastrado na Instituição Unipampa desde 2012 e vem sendo desenvolvido em diferentes âmbitos dentro de componentes curriculares dos cursos de graduação da universidade, em escolas do município bem como em propriedades rurais que tenham interesse em reaproveitamento de resíduos para transformação em adubo orgânico.
Como funciona
Depois de processada pela indústria, os resíduos da uva resultantes deste processo são separados e colocados em um local apropriado e forrado com lona plástica para isolá-los enquanto a compostagem esta sendo elaborada. O local onde os resíduos são alocados podem ser caixas de madeira, containers, caixas d’água, composteiras elaboradas com tijolos ou mesmo colocados a céu aberto. “O importante é respeitar o tempo em que a compostagem necessita para se transformar em adubo orgânico, que é de aproximadamente três meses, dependendo do volume de resíduos. Esses resíduos, decompostos corretamente, tornam-se compostos orgânicos de excelente qualidade”, garante a professora Etiane Skrebsky Quadros.
Além do ambiente acadêmico
O que começou nas salas de aula acabou sendo levado para a prática. A Vinícola Batalha Vinhas e Vinhos, localizada no município de Candiota, já integra o processo e utiliza em seus parreirais adubo orgânico produzido em composteiras de lonas. “De acordo com a enóloga responsável, Fernanda Dall’Asta, nas safras de 2016 e 2017 foram reutilizados todos os resíduos provenientes da vinificação, aliados a outros resíduos da propriedade. Os dados da compostagem em si, já foram avaliados, e mostram valores bem significativos de matéria orgânica, que reflete a disponibilidade de nitrogênio, além de altos valores de fósforo, potássio, cálcio e magnésio, que também são macronutrientes essenciais ao crescimento das plantas”, adianta a professora Etiane. Os resíduos provenientes da compostagem, já fornecidos ao vinhedo comercial em forma de adubo orgânico, ainda não foram quantificados e avaliados pela análise de solo.
Dentre as vantagens já descobertas do uso da adubação orgânica está a maior aeração e capacidade de retenção de água no solo, melhorando sua estrutura e apresentando capacidade de manutenção da temperatura no solo, evitando grandes variações durante o dia, além do aumento gradativo do teor de matéria orgânica do solo, e com a decomposição da mesma, maior disponibilidade de nutrientes de forma gradativa. “Ainda, a adubação orgânica promove a diminuição da lixiviação de nutrientes (lavagem) e o aumento da atividade microbiana benéfica às plantas. Portanto, vislumbra-se que os efeitos da adubação orgânica serão extremamente positivos ao vinhedo”, comemora a professora.
O adubo orgânico resultante dos resíduos da uva pode ser usado para qualquer cultura, desde que seja respeitado o tempo da transformação dos resíduos em composto orgânico. “É importante ainda a proporção entre resíduos para que a relação carbono/nitrogênio fique equilibrada. Neste sentido, a utilização dos resíduos da uva tem grande potencial de utilização na formulação de compostos orgânicos. Particularmente para a viticultura, a compostagem de bagaço de uva surge como uma técnica de valorização dos resíduos. Os compostos gerados a partir deste processo são capazes de reduzir o grande número de poluentes gerados pela indústria vitivinícola”, admite.
A professora Etiane comemora mais uma conquista – recentemente uma grande vinícola localizada na cidade de Dom Pedrito demostrou interesse em implantar a reutilização dos resíduos da uva através da elaboração da compostagem.
Por: Camila Baggio – camila@avindima.com.br