Agricultores e Dirigentes de Cooperativas avaliam resultados da safra

A variação climática foi decisiva para estabelecer dois momentos distintos na safra de uva deste ano. No primeiro período, o calor e a sequência de dias ensolarados resultou em produto com elevado grau de sanidade e açúcar. No segundo momento, o aumento do volume de chuva e os dias nublados impediram a composição de cor, graduação elevada e homogeneidade dos cachos.
O Gerente Administrativo da Cooperativa São João, Ismar Pasini, diz que as uvas precoces Bordô, Niágara, Chardonnay e Pinot Noir, entre outras, foram de boa qualidade. O Moscato usado nos espumantes, por exemplo, teve melhor qualidade que no ano passado, por isso, o nível de excelência desse produto está garantido. O espumante brut ficará melhor do que no ano passado.  Na variedade Merlot também a primeira parte da colheita foi de boa qualidade, depois veio queda nos níveis de graduação.
Na Cooperativa Garibaldi a safra foi normal no volume. O presidente Oscar Ló revela que a Cooperativa recebeu 3% a mais neste ano (15,7 milhões de quilos) do que no ano passado(15,5 milhões). “As uvas brancas, especialmente para espumantes, tiveram excelente qualidade, fator que garante o padrão da linha de produtos”. As uvas precoces para suco também tiveram boa qualidade.
O presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, acredita que espumantes e vinhos brancos terão excelente qualidade porque as uvas destinadas à elaboração desses produtos tiveram qualidade muito superior as do ano passado. “A melhoria das variedades precoces deve-se ao fato de fazermos a colheita toda no tempo bem seco. Isso contribui para que a fruta tenha uma condição melhor”. Ele ressalta que para o mercado a Cooperativa vai manter um padrão de oferta parecido do que foi o ano passado. O Dirigente explica que um componente importante para alcançar a qualidade foi o assessoramento técnico. “Quando se trata de produção vitivinícola temos dois componentes que influenciam: a condição do tempo faz a sua parte e o homem deve fazer a sua. A nossa é a técnica aplicada à produção”. Nas propriedades onde ocorreu um manejo adequado, adubação correta, poda verde e assessoramento técnico, tivemos um produto de melhor qualidade. “Quando tem-se menos manejo e menos equilíbrio no solo, os reforços de adubação sempre serão insuficientes e negativos. Onde tem um conjunto equilibrado, mesmo que o tempo não ajude, vai ser colhida uva de qualidade superior “.
A condição do tempo foi o fator negativo do segundo período da safra. A chuva em excesso na segunda quinzena de fevereiro e os constantes dias nublados contribuíram para a pouca coloração e níveis reduzidos de açúcar na uva.
Quanto à variedade Cabernet Sauvignon, alguns produtores conseguiram uma boa qualidade. No entanto, quem tinha grande produção houve redução da qualidade.
“Temos notado que alguns produtores aguardaram a orientação da Cooperativa para colher. Com avaliação técnica é possível orientar o momento adequado para colher”.  Para Pasini, aqueles que seguem a orientação da Cooperativa, mesmo que a avaliação da safra não seja tão boa, terão mais lucratividade que outros Agricultores. Aqueles que aplicaram as orientações técnicas na poda, no raleio, no desbaste folhear tiveram uma produção final de melhor qualidade.
O Associado da Cooperativa Nova Aliança, Delvio Weis, acredita que a redução da produção foi influenciada pelos fatores climáticos que prejudicaram não apenas a colheita, mas a floração foi afetada pelo frio e a umidade excessivos, já no início do ciclo produtivo. Resultou em produto de baixa graduação e qualidade. “Com essas condições não foi possível obter uma graduação razoável, que compromete a rentabilidade. Muita gente está desestimulada por conta dos resultados”.
Na Cooperativa Garibaldi a constatação é semelhante. A uva chegou com boa sanidade, mas o padrão de cor e açúcar ficou prejudicado. Ló garante que o padrão de qualidade dos sucos será mantido com um corte utilizando uvas tintórias colhidas no primeiro período da safra. “As viníferas tintas também tiveram problemas de graduação. Então, teremos dificuldade na elaboração dos vinhos de grande reserva”. Já a Nova Aliança está identificando uma alternativa. Segundo Dalle Molle, houve uma safra de excelente qualidade na Região da Fronteira e na Serra uma colheita razoável, que não compromete o resultado final.

Rentabilidade

Segundo Pasini, a última investigação indica que a uva Isabel reduziu meio grau em relação ao ano passado. Outras variedades também reduziram o grau, mas tiveram maior volume, como é o caso da Lorena Branca e Couderc Tinta. A rentabilidade ficará equilibrada em relação ao ano anterior, pela compensação do volume produzido e pelo reajuste no preço mínimo. Ele assegura que quem reduziu o custo de produção, seguindo as orientações técnicas da Cooperativa, vai ter uma rentabilidade pelo menos igual a do ano passado.  A Cooperativa recebeu 16,7 milhões de quilos contra 16,9 da safra passada. Oscar Ló destaca que o governo ajustou a tabela em 10%. Essa variação vai observar também o grau babo. “As variedades que tiveram uma boa maturação no início da safra terão valorização maior. Acredito na remuneração valorizada pelo aumento do preço mínimo. Remuneração maior para os Associados da Cooperativa ainda vai depender do comportamento do mercado neste ano”. O Associado na Nova Aliança que tenha somente uvas tardias vai sofrer perdas na sua rentabilidade, em razão da perda da qualidade destas variedades. Quem tem uma produção equilibrada não terá grandes perdas. Dalle Molle acredita na influência de outro fator. “Se levarmos em conta a dificuldade de comercialização, sem apoio do governo, será difícil remunerar o produtor no mesmo nível do ano passado. Vamos lutar para que algumas políticas públicas sejam adotadas. Só se consegue pagar o preço mínimo com venda à granel, havendo auxílio de política pública”. A constatação é confirmada pelo contexto global. A Espanha teve uma safra cheia e sem perdas. Isso significa uma injeção de grandes volumes de vinho à granel no mercado mundial  A informação é do Diretor Executivo da FECOVINHO, Hélio Marchioro. “Isso diminui nossa competitividade em razão da logística. Esse fator inviabiliza as vendas para o leste do mundo, que é um grande mercado consumidor”. Nos demais países não há notícia de redução de safras. Há ligeira redução nos países da América do Sul, mas em algumas variedades, o que não afeta a realidade do mercado Esse contexto aponta dificuldades de comercialização. Ele defende a adoção de estratégias arrojadas para assegurar a comercialização.
“Acredita-se que a safra só não foi pior porque houve orientação técnica. Esse é um fator diferencial. O técnico precisa estar com o produtor quando ele precisa para orientar e proporcionar segurança nos procedimentos de manejo. Nós precisamos de orientação”, afirma Délvio Weis Ele explica que muitas vezes o Agricultor repete erros desnecessários, por falta de uma observação diferente e por uma pequena orientação. “A orientação técnica é fundamental para qualificar a matéria prima que vai viabilizar melhores produtos para o mercado”.
Alceu Dalle Molle espera que a Copa do Mundo possa alavancar o consumo de vinho. “A curiosidade do turista pode elevar a venda, mas não é possível fazer qualquer projeção segura de quantidade”.  As Cooperativas somadas deverão colher 25% do conjunto do setor. Isso representa 150 milhões de quilos, de uma safra que deve atingir um total de 600 milhões de quilos.

Elton Bozzetto – Jornalista

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