Conheça mais sobre esse vinho que é elaborado no norte da
Itália e que tem como características ser encorpado e intenso
Por Andréia Debon
Andar, andar, andar e se encantar com tudo ao seu redor. Verona, localizada no Vêneto, é uma das cidades mais importantes do norte da Itália. É linda e, por mais que você conheça, sempre irá encontrar um local novo que desperte a sua atenção. Outro encanto são os amanhecer e entardecer à beira do que banha a cidade, o Rio Adige. Na cidade, os caminhos convergem para uma Arena, um imenso anfiteatro oval, datado d 30 d.c, e que na primavera e verão italianos é palco para espetáculos musicais e apresentações artísticas. Há também lindas praças, como a Piazza delle Erbe e a Piazza dei Signori. Por lá, turistas e moradores se aconchegam em bares e restaurantes para apreciar a gastronomia e os melhores vinhos da região.
Verona e seu entorno também são conhecidos pelos bons vinhos, e entre eles está o grande tinto do Vêneto, e um dos mais importantes da Itália, o Amarone. Elaborado na região da Valpolicella, um conjunto de colinas localizadas ao norte de Verona, o Amarone não é o único vinho que provém desses vinhedos. Há outros elaborados com as mesmas uvas: Corvina, Rondinella, Corvinone e Molinara. São eles: Valpolicella, mais simples e leve que o Amarone; Ripasso, vinificado com as cascas usadas na elaboração do Amarone; e o Recioto, um tinto mais doce, encorpado e aromático.
Segundo conta a história, o Amarone della Valpolicella, denominado originariamente de Acinatico e depois Recioto della Valpolicella, era um vinho aveludado e doce (cujo nome deriva da palavra “recia”, em dialeto local, ou “orecchia”, que significa orelha. Isso porque do cacho era utilizado somente a parte mais alta do cacho, a melhor). Com o passar dos anos foram acontecendo mudanças no estilo do vinho, fazendo com ele se tornasse cada vez menos doce e mais seco. Se no início essas transformações poderiam representar um problema, o vinho, agora completamente seco e amargo, conquistou os paladares. Os primeiros amarones foram engarrafados no início dos anos 1900, e eram apreciados somente pelas famílias locais. A comercialização do vinho começou a ser feita depois da II Guerra Mundial e, em 1968, se tornou uma DOC.
O Amarone é um vinho concentrado, com teor alcoólico nunca menor do que 14%, podendo atingir 17%. Esses altos índices alcoólicos são resultado de uma técnica usada na elaboração na sua elaboração, o apassimento das uvas. No entanto, para que essa técnica dê certo e se obtenha um vinho de qualidade é preciso ter muito cuidado com a colheita da uva – a safra acontece na segunda metade de setembro e segue até o início de outubro. Os cachos devem estar maduros, e a sanidade das bagas deve estar perfeita para não causar futuros problemas com a qualidade do vinho. Depois de colhidos, ao invés de serem esmagados e fermentados, os cachos da fruta são colocados cuidadosamente em caixas ou esteiras por quatro a cinco meses para desidratar até quase se tornarem quase uva passa. Os locais onde a uva permanece por esse período se chamam “frutaios” (há na região em torno de 432 desses espaços). Devem ser e ter boa ventilação. Em algumas vinícolas maiores há controle da temperatura e da umidade. Durante as semanas que acontece esse processo, andar pelos caminhos da Valpolicella é se render aos aromas deliciosos da uva durante a sua passificação.
As uvas utilizadas para elaboração do Amarone
Pela legislação italiana, para elaborar um Amarone, ou qualquer outro tinto da Valpolicella, é necessário que o vinho apresente de 40% a 70% de Corvina, 20% a 40% de Rondinella, 5% a 25% de Molinara, até 15% de Rossignola, Negrara, Barbera ou Sangiovese e até 5% de outras variedades. Também são muito cultivadas e utilizadas as variedades Forselina, Negrara e Oseleta. O que muda com relação a cada um dos vinhos feitos por lá é o processo de elaboração. Ainda segundo as regras de Denominação de Origem, o vinho é amadurecido por lei em barris de carvalho durante um período mínimo de 25 meses. Esse estágio em madeira pode chegar a 48 meses. Depois descansa em garrafa por um ano antes de chegar ao mercado.
A Corvina é uma uva robusta, de coloração vermelho rubi com reflexos violáceos. Ela é responsável pela cor e pelo caráter do vinho. A Rondinella, cepa que se adapta bem a desidratação, dá estrutura e intensidade. E a Molinara, que produz um vinho mais simples, pela acidez e toques de amargor.
A vinificação é feita no inverno com temperatura de 12 a 22 graus. A fermentação dura aproximadamente 35 a 45 dias. Em alguns casos é feita em barris de 4000 litros a 8000 litros de Carvalho. Parte da maturação é realizada em barris de grande volume e parte em barricas de 225 litros. Geralmente a maturação é realizada parte em barricas novas e parte em barricas de segundo e terceiro uso. A maioria são de carvalho de Slavônia (Croácia). Esse tipo de madeira é mais neutro em relação ao aroma do carvalho francês, por exemplo.
A zona Clássica de produção dos vinhos da Valpolicella compreende cinco distintas áreas geográficas. São elas: Sant’Ambrogio di Valpolicella, San Pietro in Cariano, La vallata di Fumane, La Vallata di Marano e La Vallata di Negrar. Cada uma dessas regiões possui diferentes características em seu terroir. Já a zona da Valpolicella DOC compreende as áreas denominadas Valpantena – vales Squaranto e di Mezzane – e l’Est veronese – vales di Illasi e di Tramigna. Os terrenos são argilosos vermelhos, férteis, que tem base nas rochas calcárias. O ph é sub-alcalino e alcalino. O clima da Valpolicella é muito parecido com o Mediterrâneo e o índice pluviométrico varia entre 850 a 1000 mm por ano.
O estilo e as mudanças
O Amarone é um vinho encorpado e com excelente complexidade aromática. Aparecem com destaque as frutas passas, cristalizadas e as secas. Em exemplares com mais anos de envelhecimento também sente-se as especiarias. É um vinho com alta graduação alcoólica, e isso faz com que em boca ele seja até um pouco adocicado. Os bons amarones conseguem equilibrar o álcool, os taninos e a acidez. O ideal não é beber o Amarone muito jovem. O ideal é apreciá-lo com, no mínimo, quatro anos. Na hora de servir é importante que o líquido seja decantado por no mínimo uma hora.
Mudanças
O Amarone é um vinho turbinado e tem seu público apreciador. Mas os italianos estão buscando fazer um vinho que agrade a mais paladares, já que para muitos o estilo encorpado e alcoólico incomoda em boca. “Estamos estudando fazer um vinho com menos profundidade de cor, mais acidez e menos resíduos de açúcar. A ideia é apresentar ao consumidor um produto menos potente e mais elegante, no qual a fruta apareça mais e ele seja também mais gastronômico. Queremos um vinho com possibilidade de crescimento de consumo”, explica Giannantonio Marconi, coordenador da área vitícola da vinícola Bola, uma das grandes cantinas da região. O mercado chinês é grande alvo dos italianos, por isso, também, as mudanças, já que o povo asiático prefere vinhos mais leves.
Sobre o Consorzio
O Consorzio Tutela Vini Valpolicella reúne 2246 vinícolas. Um mil quatrocentas e noventa e cinco vinícolas produzem Amarone e Recioto della Valpolicella. As vinícolas que fazem parte da entidade elaboram em 2013 cerca de 60 milhões de garrafas de vinho. Os vinhedos autóctones representam 95% do total de vinhedos implantados na área. A maioria das áreas produtivas estão de 100 a 300 metros acima do nível do mar. O preço que é pago pelo quilo das uvas é de 2,5 euros.