Análise do mercado mundial de vinho e seus atores

Uma leitura de pesquisas publicadas recentemente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

 

A crise econômica reduziu a importação de vinho no mercado mundial, segundo pesquisa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (o USDA – United States Department of Agriculture), de abril deste ano. O gráfico à direita apresenta o volume de importações de 2000 a 2009: como se pode constatar, em 2008 e 2009, elas ficaram estagnadas.

 

Após um período de oito anos exibindo um robusto crescimento na demanda global por importação de vinho, o mercado registrou queda em 2008, com 41 milhões de hectolitros (hl), ficando estagnado em 2009. Durante períodos de dificuldade econômica, consumidores regulares de vinho trocam suas preferências por marcas mais baratas, alternativa melhor do que um corte severo de suas compras – não fosse isso, o declínio poderia ter sido ainda mais drástico. Porém, a crise econômica tratou exportadores de formas diferentes: a maioria deles é otimista, opinando que a demanda mundial se fortalecerá.

 

Importação mundial de vinho, em volume, de 2000 a 2009

Fonte: USDA, abril 2010.
Fonte: USDA, abril 2010.

 

Condições da economia mundial afetam exportadores de maneiras diversas
O gráfico à direita, embaixo, demonstra que a União Européia, maior exportador global de vinhos, teve uma queda de 7% em suas vendas no ano de 2009, em relação ao ano anterior. Já a Austrália, ao contrário, registrou um aumento de 10%, no mesmo período; o Chile, de 18%. A África do Sul aparece com 1% de queda, cabendo a maior redução percentual nas vendas dos vinhos, de 15%, aos Estados Unidos, economia mais afetada pela crise.
A importação global de vinhos é dominada pelos seguintes mercados, já conhecidos: União Européia, Estados Unidos, Rússia, Japão e Canadá.
A União Européia aumentou sua importação em 5% – para 13 milhões de hectolitros, em 2009 –, sendo a maior demanda por vinhos chilenos e sul-africanos, cabendo aos produtos dos Estados Unidos ocupar o nicho dos mais caros. Porém, a taxa de crescimento poderia ser mais acentuada: no contexto, influem as políticas governamentais com o objetivo de reduzir o consumo de álcool e a competição com outros tipos de bebidas alcoólicas.
As importações dos Estados Unidos aumentaram 10%, ou seja, para 9 milhões de hectolitros. A maior demanda foi por vinho rosé a granel, caracterizado pelo baixo valor de venda, proveniente da Austrália e Chile, para depois ser engarrafado nos Estados Unidos.

 

As importações da Rússia foram incrementas em 25%, totalizando 4,3 milhões de hectolitros. Os embarques de mosto e de vinho engarrafado caíram em termos de volume e de valor, enquanto as importações a granel (que representam 30% do total importado) cresceram mais de 200%, respondendo por 1,3 milhões de hectolitros. Custos mais baixos por volume unitário a granel ajudaram a impulsionar esse crescimento.
O volume de importação do Japão permanece relativamente estável, mas os valores diminuíram 20%, devido à preferência dos consumidores por vinhos com preços mais baratos.

 

Exportações, em volume, dos principais players, em 2008 e 2009

Análise do mercado mundial2
* EU: União Européia; S. Africa: África do Sul; U.S.: Estados Unidos
Fonte: USDA, abril 2010.

 

O volume de vendas dos Estados Unidos para o Japão aumentou 4,6% no ano de 2009, alcançando 81 mil hectolitros, o que representa um market share (participação de mercado) de 6,3% do vinho importado engarrafado. Em um esforço para garantir um valor mais alto por litro, os norte-americanos estão trabalhando para embarcar garrafas por 1.000-1.500 ienes (ou US$ 11,23-16,85), como faixa de preço de categoria. O volume de vinho proveniente da Espanha teve um aumento de 3,9% em 2009, devido à expansão do número de restaurantes hispânicos no Japão. As importações de vinho chileno aumentaram 30,8% em 2009, por conta da implementação de acordo comercial entre o Chile e o Japão reduzindo gradativamente tarifas para zero dentro dos próximos 12 anos.

 

Atacadistas procurando por diferentes canais de distribuição
As importações da China parecem ter reduzido nos últimos anos. Viagens de negócios caíram; sendo assim, os hotéis e restaurantes de estilo ocidental parecem ter diminuído seus estoques e, consequentemente, novas compras de vinho estrangeiro. Entretanto, os valores unitários de importação têm sido crescentes, o que sugere que os consumidores têm optado por marcas Premium. Apesar de um declínio das vendas em volume, a previsão do instituto Euromonitor é de um crescimento anual de 12% do mercado de vinho chinês ao longo dos próximos cinco anos.

 

Hong Kong importa vinho dos Estados Unidos, tendo alcançado um recorde no ano de 2008: US$ 18,6 milhões e 5,7 milhões de litros, representando crescimentos de 108% em valor e de 58% em volume importado, em relação a 2007. O crescimento das importações de vinho dos Estados Unidos em 2008 foi devido, em parte, à depreciação do dólar, a um aumento do consumo de vinho impulsionado pela eliminação das taxas de importação e ao crescimento da parcela de consumidores interessados por produtos mais sofisticados.

 

Suportada pela política de importação sem taxas para o produto e pela disseminação da cultura do vinho no continente, a ambição de Hong Kong é tornar-se o canal de entrada do produto em toda a Ásia, representando, assim, um excelente mercado de oportunidade para produtores de vinho do mundo inteiro.
O gráfico à direita mostra os mercados que mais aumentaram a importação de vinho, em volume, em 2008 e 2009:

 

* Switzerland: Suíça Fonte: USDA, abril 2010.
* Switzerland: Suíça
Fonte: USDA, abril 2010.

 

Os maiores exportadores
O mercado mundial de vinhos é dominado por cinco fornecedores, representados no gráfico à direita, que apresenta dados atualizados até o final do ano de 2009:
As exportações dos Estados Unidos para mercados menores despencaram 15%, para 3,8 milhões de hectolitros. Contudo, alguns mercados promissores, como Hong Kong e China, mantiveram-se estáveis na compra do produto norte-americano, assim como ocorreu em relação à União Européia e ao Canadá.
Os embarques da União Européia caíram 7%, para 16,4 milhões de hectolitros, devido à baixa demanda de Estados Unidos, Rússia e alguns outros mercados considerados top.

 

A Austrália responde por somente 5% da produção mundial, mas detém uma fatia de 15% das exportações globais. Os embarques cresceram 10%, para quase 7,7 milhões de hectolitros, como resultado do surgimento de demanda nos Estados Unidos, Canadá e Japão.

 

O aumento das exportações a granel, em comparação as de vinho engarrafado, que são menos dispendiosas para o transporte, ajudou a obter vantagens quanto ao custo. Porém, há uma percepção entre importadores e consumidores no sentido de que baixos custos significam baixa qualidade, uma visão que o setor se comprometeu a mudar. Isto será uma batalha árdua, e a indústria estima que esse problema ainda persista pelos próximos três a cinco anos.

 

Os embarques de vinho rosé do Chile aumentaram bruscamente, para quase 7 milhões de hectolitros, devido à forte demanda de mercados maiores, particularmente dos Estados Unidos, o segundo maior mercado depois da União Européia. Os acordos comerciais com os Estados Unidos e Japão ajudaram a aumentar a venda de vinho para esses dois países.
As exportações da África do Sul caíram 1%, para 4,3 milhões de hectolitros, mas no passado elas foram regulares em crescimento. Entretanto, as perspectivas locais são positivas. Com a Copa do Mundo neste ano, a expectativa é de aumento da visibilidade do país, ajudando a expandir a comercialização.
Síntese, para o vinho brasileiro – Para a cadeia vitivinícola brasileira, talvez sejam duas as contribuições maiores que se pretende oferecer com esse artigo: o destaque da importância dos acordos comerciais, que ajudariam, e muito, no sentido de o preço do vinho brasileiro tornar-se mais competitivo, e a necessidade de estabelecimento de parcerias (com restaurantes, por exemplo, como antes mencionado) nos países em que cresce a importação de vinho.

 

Participação de mercado dos principais países exportadores de vinho, em 2009

* EU: União Européia; S. Africa: África do Sul; U.S.: Estados Unidos; Others: outros Fonte: USDA, abril 2010.
* EU: União Européia; S. Africa: África do Sul; U.S.: Estados Unidos; Others: outros
Fonte: USDA, abril 2010.

* EU: União Européia; S. Africa: África do Sul; U.S.: Estados Unidos; Others: outros
Fonte: USDA, abril 2010.

Referências

* USDA, United States Department of Agriculture. Wine: World Markets and Trade. Abril, 2010 (texto adaptado pela autora); * USDA, United States Department of Agriculture. Japan Wine Annual, 2010. 26 de fevereiro de 2010; * USDA, United States Department of Agriculture. Hong Kong Market development reports Hong Kong Imports of US. Wine Expected to set New Record 2009. 06 de agosto de 2009; * USDA, United States Department of Agriculture. Chile Wine Annual. Enter a descriptive Report Name. 01 de março de 2010. * Formanda em MBA Negócios Internacionais na Unisinos, consultora em comércio exterior. Contato: (0xx51) 3066.5609/9186.3771 – simone@openworldintl.com.br

 

Por Simone Cavassola*

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