Um precursor na difusão das uvas finas
Por Danúbia Otobelli
A história da vitivinicultura nacional é repleta de personagens que ajudaram a difundir o vinho brasileiro e a criar novas formas para o reconhecimento e a qualidade da bebida. O imigrante italiano Antonio Pieruccini foi um deles. Saído de Lucca, na Toscana, em 1880, ele chegou ao Brasil de forma diferente da maioria dos imigrantes que aportaram no Rio Grande do Sul a partir de 1875. Ele não era um simples colono e sim o filho de uma tradicional família italiana de industriais e comerciantes e que aqui deu vazão ao espírito empreendedor da elaboração de vinhos.
O filho de Rafaelle Puccinelli e Phelomena Pieruccini chegou ao Brasil em 18 de agosto de 1880, no Rio de Janeiro. Logo, integrou-se ao contingente de imigrantes destinados a se estabelecerem no Rio Grande do Sul. Na colônia Caxias se instalou no lote 22 e começou a dar início aos procedimentos legais na nova pátria. Tão logo obteve a permanência, começou a montar seus negócios industriais e comerciais, tornando-se um dos pioneiros na exportação do vinho gaúcho. Ele fundou a Cantina Pieruccini & Filhos, localizada na esquina da rua Júlio de Castilhos com a rua Angelina Michelon (hoje Bairro Nossa Senhora de Lourdes). Em 1893, sua cantina produzia cerca de quatro mil garrafas, numa produção de 15 mil quilos de uva. A cantina é tida como a mais antiga de Caxias do Sul. Seus vinhos recebiam premiações e medalhas de ouro em Porto Alegre, Santa Maria, Rio de Janeiro e até na Itália.
Entretanto, antes disso ele marcou época por difundir as variedades finas e defender fervorosamente a condução dos vinhedos em sistema de espaldeira. Na região, os parreirais, predominantemente de Isabel, eram mantidos na condução em pérgolas.
Em fins de 1886, Peruccini importou variedades viníferas europeias, iniciando um movimento no sentido de melhorar a vitivinicultura da época com melhores castas. Em sua propriedade, nos arredores da Colônia Caxias, ele cultivou o Cabernet Sauvignon e o Merlot e também as uvas Trebbiano, Vernaccia e Barbera. Essa última foi uma das principais viníferas cultivadas na região, mas acabou entrando em declínio no final dos anos de 1960. Os parreirais foram atacados por viroses e acabaram sendo abandonados ou substituídos por variedades francesas.
Com isso, ele se tornou um grande propagador das castas finas na Serra Gaúcha. Além disso, descrito como um homem de propósitos ele bateu de frente contra o sistema de condução latada, o que afirmava ser inadequado para o plantio de uvas. Chegou a montar em sua propriedade um sistema em espaldeira para mostrar como ele era mais adequado para a produção de vinhos de qualidade diante do clima da região.
Grandes feitos
Na década de 1890, com a fundação da Escola de Agricultura e Viticultura e da Estação Experimental de Agronomia, o vinho passou a ser analisado e também se tornou o negócio dos colonos. Esse incremento no comércio da bebida gerou a necessidade de vasilhames adequados ao transporte. As tanoarias foram se multiplicando, mas havia um problema na madeira (o pinho) utilizada para confeccionar os barris: o vinho apresentava-se defeituoso pelo gosto deformado do pinho e sofria considerável depreciação. Foi nesse cenário, que mais uma vez, Peruccini mostrou sua visão de negócios. Como um conhecedor do mundo do vinho, ele passou a praticar a parafinação dos barris, o que evitava a transferência de sabores deformados da madeira para a bebida.
Outro ponto de destaque do empresário foi na questão da comercialização do vinho gaúcho. Ele operava longas tropas de mulas carregadas com barris de vinho entre as cidades de Bento Gonçalves e Caxias do Sul e também em Porto Alegre. E coube a ele ainda, juntamente com o empresário Abramo Eberle, a introdução do vinho gaúcho no mercado paulistano, durante a crise vinícola em que os mercados rio-grandenses estavam insuficientes para absorver toda a oferta. Era preciso romper as fronteiras comerciais e levar o produto mais longe possível. Como Pieruccini já tinha experiência de viagens para fora do Estado, em 1898, ele empreendeu aquela que foi a primeira grande expedição de comercialização e transporte de vinho gaúcho em direção aos mercados do Sudeste do país, ocasião em que conduziu um carregamento de vinho em lombo de burros até São Simão, no interior de São Paulo. Lá, vendeu toda a produção. Graças a seu espírito arrojado, a possibilidade de levar vinho a São Paulo e ao Rio de Janeiro consolidou uma nova fase no progresso e na comercialização da produção vitivinícola.
Além das fronteiras do vinho e da uva, Pieruccini também foi pioneiro na fabricação de produtos derivados de carnes suínas. Montou uma indústria de salames, do tipo italiano, e outros produtos, com diversas lojas espalhadas pelo país.
Foi casado com Maria Sabatini Pieruccini e teve os filhos Carmelinda, Fioravante, Orlando, os gêmeos Luiz e Terezina e Ângelo. Envolveu-se com política, tendo sido filiado à Aliança Libertadora Caxiense, apoiando o professor de Agronomia Celeste Gobbato para a prefeitura de Caxias do Sul. Contribuiu ainda, no ano de 1881, para a realização da primeira festa da vindima, realizada logo após a colheita da uva. Essa festa seria uma precursora da Festa da Uva, iniciada em 1931.
Foi dessa forma, como outros personagens, que Pieruccini colocou seu nome na história da vitivinicultura: implantando e disseminando novas castas de uvas. O jornal Citta di Caxias, de setembro de 1915, o descreveu assim: “Um homem muito conhecido no Brasil e com um grande prestígio na indústria vinícola, pois dedicou toda a energia de sua juventude na sua cantina, que é uma grande edificação com um maquinário perfeito para a produção de vinhos”.
Fontes: Jornal Correio Riograndense/ Facebook Antonio Pieruccini/
Jornal Città di Caxias
Uma resposta
Como faço para entrar em contato com a vinicultura.