Aos protagonistas da agricultura, nossa homenagem

Para marcar o Dia do Agricultor Familiar e o Dia do Agricultor, o jornal
A Vindima apresenta a história de famílias que há gerações se mantêm no meio rural

Hoje, a agricultura representa em torno de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Desse montante, 38% é atribuído à agricultura familiar. No Rio Grande do Sul, 54% do valor bruto da produção primária provém das pequenas propriedades. Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (MAPA) apontam a existência de 5,1 milhões de estabelecimentos rurais no país. Destes, 4,3 milhões, o que representa 84%, são de agricultores familiares. No Estado, esse percentual é ainda
maior, chegando a 85%. Se considerarmos tudo o que é produzido em âmbito nacional, veremos que
70% do que as pessoas comem sai da agricultura familiar.

Apesar da importância do segmento agrícola para o país, muitas são as dificuldades enfrentadas por quem, bravamente, se dedica à atividade. Entre as principais estão a falta de mão de obra e o êxodo rural,
principalmente entre os jovens que pensam em deixar o interior em busca de melhores condições na cidade. Em homenagem aos protagonistas desse setor, pelo Dia do Agricultor Familiar, comemorado em 25 de julho, e pelo Dia do Agricultor, celebrado em 28 de julho, o jornal A Vindima conta a história de famílias que aos poucos estão vencendo as adversidades e que há gerações se mantêm no meio rural. Confira.

Harmonia entre gerações perpetua o trabalho agrícola

Marilita Calgaro/Especial

Moradora da Linha Blesmam, interior de Antônio Prado (RS), Teresa Bet, 93 anos, convive harmoniosamente com as bisnetas Milena e Giovana, de seis e três anos, respectivamente, filhas de sua neta Cristiane Bet Zanco. Cris, como é chamada pela família, é formada em Letras há mais de 11 anos, mas avaliou melhor e resolveu permanecer ao lado dos pais, Virgílio e Elsa, trabalhando na propriedade que pertence a família, cultivando ameixa, uva e pêssego. “Muitas coisas pesaram para tomar essa decisão. Aqui é melhor para educar os fi lhos. Numa sala de aula me estressaria muito, na agricultura não e se vivemos bem até agora, acredito que continuaremos”, explica ela. Para seu Virgílio, a decisão da filha e do genro, Luciano, de permanecer junto com ele na propriedade fortaleceu a vontade de seguir atuando na agricultura. “Se isso não ocorresse ficaríamos sozinhos e não teríamos como manter”, diz ele.

Família Bet: quatro gerações trabalhando no meio rural.
Família Bet: quatro gerações trabalhando no meio rural.

A situação é parecida na casa dos Peretti, da Linha 30. Cristian, de 27 anos, é a quinta geração a atuar na propriedade da família, que hoje contabiliza 39 hectares. Formado em Técnico Agropecuário, poderia ser
um prestador de serviços em revendedoras agropecuárias ou autônomo. Ao longo dos anos de estudo, teve a chance de trabalhar na cidade, mas isso não o cativou. Saule e Neusa, pais do jovem, não deixaram de incentivar a permanência dele na colônia. Felicidade para seu João Peretti, que aos 80 anos se alegra e não nega ajuda ao filho, à nora e aos netos. “Melhor que ele fique cuidando da terra dos nonos. Se escapar todos, ninguém vai cuidar”, observa o agricultor.

Cristian

A missão de Cristian na propriedade é igual a de todos os agricultores, enfrenta um dia a dia difícil, mas como ele mesmo diz: “aqui se tem qualidade de vida e se possui as mordomias da cidade”. E assim, com a harmonia entre as gerações, a sucessão familiar garante que a atividade rural siga viva, pois temos concordar com dona Elsa Bet: “é muito triste ver uma propriedade abandonada”.

Paixão que passa de geração em geração

Leandro Galante/Especial

Mário se diverte com o neto Guilherme.

É numa mesa, no porão da casa, que avô e neto se encontram para o jogo da bisca. Uma mesa antiga, que foi o ponto de encontro da família por várias décadas. O local para compartilhar o alimento, produzido ali mesmo na propriedade localizada na comunidade de Nossa Senhora da Paz, interior de Veranópolis. Mario Luchini, 76 anos, foi quem ensinou o neto Guilherme, 11, a jogar ‘bisca’. Há mais de cinco anos, os dois jogam cartas todas as noites. O gosto é tanto que Guilherme levou o baralho para a escola. No intervalo, e enquanto aguarda a chegada do transporte, o menino joga com os colegas da Escola Senador Alberto Pasqualini.

Além do resgate de um jogo que faz parte do legado e da cultura italiana, ele também levou o garoto a desenvolver habilidades. Muitas vezes, ele abre mão de assistir a televisão e acessar a internet à noite,
para conviver com sua família. O resultado não pode ser diferente: em 2014, Guilherme recebeu o estaque
‘Aluno Ouro 2014’, homenagem prestada aos estudantes com as melhores notas. Orgulho para os pais. “Nesse ano, ele já está com cinco notas 10 no boletim”, afirma a mãe Noeli Ceppo Luchini, 46 anos.

Há cerca de um século, gerações da família Luchini residem na mesma propriedade e se dedicam à produção de frutas e à avicultura. A uva concentra a maior produção da propriedade. Mario e o fi lho Gilberto, 49 anos, cuidam da lavoura. Uma das maiores dificuldades que a família enfrenta é a falta de mão de obra para fomentar os trabalhos. “Precisamos reduzir a produção para dar conta e muitas vezes precisamos fazer mutirões”, ressalta Gilberto.

Lamília Luchini: há mais de um século se dedicando à terra
Família Luchini: há mais de um século se dedicando à terra

Para o futuro, Guilherme pensa em permanecer trabalhando no setor primário. Hoje, ele já ajuda a família.
Já o pai faz planos. “Se eu fosse mais novo, colocaria um novo e moderno aviário”, destaca Gilberto. Quem sabe, no futuro, o filho possa tornar realidade o sonho do pai.

Com sorriso leve, o patriarca Mario, acompanhado da esposa Aldaci Bordignon Luchini, 70 anos, continua atuando na agricultura. Ele revela que sempre trabalhou com isso. Sobre o futuro, espera ter saúde e continuar trabalhando. “Meu fi lho que mora na cidade queria que eu fosse morar com ele, mas não gosto da cidade. Iria trabalhar no que, lá? Vou ficar aqui até que der”, afirma. Mario ainda faz uma reflexão, sendo um pouco pessimista com a continuidade do setor primário. “Vai ficar difícil. A gurizada procura outras coisas. Tomara que aqui, alguém continue. Os filhos não vão deixar cair”, encerra.

Entre os Vales, amor pela terra

Entre as belas paisagens do Vale das Antas, na Linha 14 de Julho, comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, Moro do Céu, em Cotiporã, está localizada a propriedade da família Lazzarini. Quatro gerações dedicadas ao trabalho e à terra. A bisavó, Delvina Trevisan Sorti, 71 anos, sempre trabalhou
com agricultura, ao lado do esposo Valdir, 76 anos. Criou seis fi lhos, na comunidade de Nossa Senhora do Rosário. A fi lha, Ivani Terezinha Storti Lazzarini, 50 anos, seguiu os passos dos pais. Quando se casou com Jorge Lazzarini, 57 anos, mudou-se para a comunidade de Navegantes, onde teve oito fi lhos. Um deles, Andrei, 30 anos, continua na propriedade. Casou-se com Catia De Marco Lazzarini, 28 anos, com quem teve o filho Gean Carlo De Marco Lazzarini, dois anos.

Andrei, ao lado do irmão Leonardo, 16 anos, dedica-se à produção de uvas. Neste ano, a família produziu cerca de 240 mil quilos da fruta. A projeção para o próximo ano é ampliar para 300 toneladas.  Compramos
mais uma área de terras e plantamos mais um hectare e meio de parreiras”, ressalta. As dificuldades também se fazem presentes na propriedade. Para Andrei, a rigidez nas leis ambientais dificulta avanços. Outra dificuldade também está na contratação de mão de obra que, a exemplo da família Luchini, não
é encontrada para o trabalho na agricultura.

“Fiquei porque quis”

Jorge viu o desenvolvimento tecnológico da propriedade. “Hoje, temos mais máquinas, mais equipamentos, mas o trabalho continua o mesmo. Exemplo é a poda nas parreiras, que tem que ser feita de forma manual”, ressalta Jorge. O agricultor já pensou em sair da roça e ir morar na cidade, mas voltou atrás da decisão quando reavaliou a situação. “Quando saio de casa, quero voltar logo. No máximo, fico
dois dias fora”, destaca. Andrei já planeja o amanhã. Ele está construindo sua nova casa, comprou um carro e pensa no futuro do fi lho. “É ele quem vai decidir, quando crescer, se vai querer continuar trabalhando na agricultura. Ninguém me forçou para que eu ficasse aqui. Fiquei porque eu quis. Ele também vai poder decidir”, encerra Jorge Lazzarini.

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Andrei e o filho Gean Carlo: aprendizado desde criança.

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Uma resposta

  1. Na cidade que moro tem um agricultor com sobrenome Luquini. Ele diz que seu avós eram italianos..Osvaldo Barros Luquini.. Mas ele não conhece nehum parente… Alguém pode ajudar?

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