Não é qualquer vinícola que tem o direito de ostentar em seus rótulos a denominação ‘champagne’. Como não é qualquer cantina que pode dizer que produziu o primeiro champanhe do Brasil. Pois, a Vinícola Peterlongo é reconhecida pelos dois feitos. Tudo isso graças ao sonho de um dos seus fundadores, Armando Peterlongo, que herdou do patriarca Manoel a vontade de elaborar a ‘bebida dos deuses’. A história de ser reconhecida como a primeira e única vinícola no país a adotar as técnicas de elaboração para o champanhe remota do final do século XIX. Em 1890, o imigrante italiano – vindo da região do Trento – Manoel Peterlongo desembarcou no Brasil, mais precisamente na vila de Conde D’Eu, atual Garibaldi. O italiano trouxe na bagagem o sonho de produzir em terras brasileiras vinhos da mesma qualidade dos europeus. Engenheiro agrimensor por formação, vivia de seu trabalho, enquanto recebia instruções necessárias – vindas do Irmão Pacômio – para produzir vinhos por meio do método utilizado pelos franceses, o champenoise. Em 1913, chegava ao mercado o primeiro champanhe brasileiro. Reconhecido nacionalmente com uma medalha de ouro na 1ª Exposição de Uvas, de Garibaldi. Manoel logo percebeu que o clima frio e intenso da região era próprio para a elaboração da bebida. Aos poucos, as mudas de videira viraram vinhedos e os vinhos para consumo próprio se expandiram. Em 1° de janeiro de 1915, estava fundada a Vinícola Armando Peterlongo & Cia Ltda, uma homenagem ao seu primogênito e sucessor de seu legado.
Em terras brasileiras, Manoel casou-se com Regina Vivian, com quem teve noves filhos. Em 23 de fevereiro de 1899, nasceu seu único filho homem, Armando Peterlongo. O jovem acompanhou desde cedo os gostos do pai e dele herdou o sonho de elaborar champanhes e valorizar a mão de obra feminina. Estudou Farmácia em Porto Alegre e trabalhou como farmacêutico em Vacaria, até 1921. Nessa época, os negócios da família prosperavam e Manoel chamou Armando para ajudar nos trabalhos da vinícola. Com o falecimento do pai, em 1924, Armando assumiu sozinho o comando da Peterlongo.
Novas instalações
A frente dos negócios da família, Armando deu continuidade aos sonhos do pai. Em 1930, construiu novas instalações seguindo os padrões da região da Champagne, na França. A cantina foi erguida em pedra basáltica numa extensão de 10 mil metros quadrados, incluindo uma cave subterrânea toda em granito – nela ainda hoje estão armazenadas garrafas elaboradas pelo método champenoise. Como um homem meticuloso, Armando estava preparando a empresa para o salto que viria: a projeção do modesto negócio familiar para nível nacional. A champanhe nacional conquistava cada vez mais espaço e fazia sucesso por onde passava. O presidente do Brasil, Getúlio Vargas, servia a bebida em seus banquetes comemorativos. A própria rainha da Inglaterra, Elizabeth, ao visitar o país, provou o champanhe elaborado por Armando e o aprovou. Com a repercussão, o champanhe foi coroado como bebida oficial do país, servido em cerimônias e festas particulares. “A partir de 1930, nas solenidades oficiais, batismos de navios ou aviões, passou-se a fazer uso do champanha nacional Peterlongo”, escreveram Elvo Clemente e Maura Ungaretti em História de Garibaldi.
Armando via a produção aumentar gradativamente e passou a empregar mais funcionários para trabalhar em seus vinhedos e no interior das vinícolas. Contratava, principalmente, mulheres, o que era raro para a época. Conforme o Arquivo Municipal de Garibaldi, foi o primeiro empresário da região a pagar salário mínimo aos operários. Nos jornais, o diretor da empresa era descrito como “homem que sabia respeitar as leis deste país”.
Além do vinho
Como um homem visionário, Armando logo percebeu que a Peterlongo precisava exportar seus produtos. Em 1942, o champanhe foi comercializado para a rede de varejo Macy’s, em Nova York. Com isso, dava início a uma série de exportações que aumentariam a procura pela bebida e fariam a Peterlongo ampliar sua capacidade vinícola e abrir espaço para outros produtos. Nasciam os vinhos brancos e tintos, os conhaques e os uísques da vinícola Armando Peterlongo. Eram produzidas mais de 360 mil garrafas. Na década de 1950, algumas inovações foram feitas, inclusive na elaboração dos espumantes, que passaram a ser feitos também pelo método charmat.
Mas não era apenas no campo vitivinícola que Armando se destacava. Casado com a professora Addy Sabrosa desde 1924, e com quem teve as filhas Zeney e Eneida, contribuiu para a educação de Garibaldi. Sob a influência da esposa, que foi coordenadora da 4ª Coordenadoria Estadual de Educação, Armando pagava os salários de vários docentes para ampliar o acesso ao ensino. Além disso, ajudou na construção do Colégio Carlos Gomes.
Também atuou na esfera política. Foi candidato a prefeito de Garibaldi em 1930 e eleito presidente da Liga de Defesa Nacional – órgão criado pelo governo federal durante a Segunda Guerra Mundial, no ano de 1941. Atuou ainda como vereador de Garibaldi, de 1947 a 1951; e concorreu a deputado estadual pelo partido Social Democrata.
Mas uma de suas paixões, além do champanhe, eram as atividades agropecuárias. Em documento do Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi está escrito: “Amava a terra e as lides de campo. Em 1951, comprou um fazenda em São Gerônimo, com 4.250 hectares, começando, paralelamente à vinícola, a produção de carne, lã e arroz. Atendendo aos apelos do governo da época para que houvesse um aumento de produção no setor da alimentação, Armando resolveu dedicar-se ao plantio de arroz. Desta forma criou mais possibilidades de trabalho na região onde se localizava a sua fazenda”. Em outro documento, está relatado: “uma pessoa digna, com personalidade marcante, que além de ajudar as pessoas que o cercavam, ajudou a construir a história de Garibaldi”.
O empreendedor Armando faleceu em 6 de agosto de 1966, aos 67 anos, durante uma viagem de férias com sua família, na Itália. Seus familiares deram continuidade ao seu legado vitivinícola, herdado de seu pai e marcado pelo glamour de ter elaborado o primeiro champanhe do Brasil.
Fontes
Vinícola Peterlongo/ Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi/ História de Garibaldi: 1870-1993, de Elvo Clemente e Maura Ungaretti.
Os dados colhidos nas publicações são discordantes., como a chegada de Manoel Peterlongo no Brasil, há datas de 1875, 1890 ,1899, sendo que li a data de nascimento uma de sua filhas( Flordalice) em fevereiro de 1889. Há registros na arquidiocese de Trento de um registro de Manuelle Victorio Peterlongo, com mais ou menos os mesmos dados. Quando ele chegou no Brasil?
Oi Margarete,
Segundo os registros da Vinícola Peterlongo, Manoel chegou ao Brasil em 1890 e, em 1913, produziu o primeiro espumante nacional.
Espero ter ajudado.
Boa noite… Tenho uma garrafa de vinho de 1983 fabricada para Adega Montemago, tinto, seco de mesa calbernet. Gostaria de lhes enviar uma foto e saber um pouco mais da história deste vinho que foi oferecido à meu pai.
Desde já agradeço a atenção!
Tenho uma garrafa de champanhe peterlongo meio doce branco de 1986 gostaria de saber mais sobre o champagne mas não achei nada sobre o produto na internet