Cuidados com o parreiral sem o uso de agrotóxicos
Entre os agricultores da Serra Gaúcha existe uma grande preocupação diante do aparecimento de doenças provocadas pelos fungos nos parreirais. Nos últimos anos, estão disponíveis no mercado diversos tipos de agrotóxicos registrados para a cultura da uva, que combatem ou previnem estas doenças. No entanto, a oferta destes produtos é tão grande que acabam confundindo os agricultores sobre o tipo adequado. É necessário lembrar que existem outras formas mais simples para evitar, diminuir ou combater as doenças que não seja exclusivamente com o uso de agrotóxicos. Um dos exemplos é o trato cultural e manejo do vinhedo que pode ser adotado pelos agricultores de acordo com as condições da propriedade e da disponibilidade de mão-de-obra. No quadro ao lado, podemos observar algumas destas práticas e seus efeitos em algumas doenças:
Tratamento de Inverno
Uma prática muito eficiente e bastante usada pelos nossos pais e avós para o controle de doenças e cochonilhas era o tratamento de inverno com calda sulfocálcica. Ainda que difícil de fazer, muitos preparavam em casa. Além disso, ela era aplicada quase todos os anos. Sem uma razão convincente, a maioria dos agricultores deixou de fazer este tratamento. Alguns argumentam que ocorre desgaste na estrutura dos parreirais. No entanto, hoje em dia, existem arames com maior resistência à corrosão e desgaste do tempo que os de antigamente. Além disso, não é mais necessário muito trabalho na preparação da calda, pois ela é vendida pronta na maioria das casas agrícolas. Outra questão que melhorou foram os equipamentos de proteção individual também evoluíram dando proteção total na aplicação. A pergunta que fica: por que se perdeu este hábito? O fato é que o efeito da calda sulfocálcica traz muitas vantagens ao agricultor, pois ela erradica os fungos remanescentes da safra anterior e das cochonilhas, diminuindo em grande parte os custos e os problemas com doenças no próximo ciclo de produção.
Sinal de Alerta – O cotidiano que nos ameaça – Parte 1
Nas últimas décadas, houve um aumento expressivo no Rio Grande do Sul do uso dos herbicidas que tem como princípio ativo o glifosato. Marcas como Roundup, Gliz, Glifosato, Direct, entre outras, são exemplos comerciais desses “mata-pasto’. Infelizmente, o crescimento de seu uso não foi acompanhado de informações sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, além de seus efeitos na diminuição da resistência de plantas a doenças. Hoje na Serra Gaúcha, assim como em todo o planeta, esse produto sintético é o herbicida mais utilizado.
Riscos à vida humana
Em 2009 o médico e pesquisador argentino Andrés Carrasco, diretor do Laboratório de Embriologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires e membro do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina, depois de 30 meses pesquisando os efeitos do glifosato em embriões de anfíbios (cobaias usadas pela semelhança com a reação em embriões humanos), chegou aos seguintes resultados:
– o glifosato em doses até 500 vezes inferiores àquelas utilizadas nas pulverizações da soja (ou da parreira), comprovou transtornos intestinais e cardíacos, deformações e alterações neuroniais, inclusive na formação da coluna;
– alteração do tamanho da cabeça com comprometimento da formação do cérebro e redução de olhos e da zona do sistema auditivo dos embriões (fetos);
– foram comprovadas alterações nos mecanismos de formação dos neurônios, com diminuição de neurônios primários, comprometendo o correto desenvolvimento do cérebro;
– alterações na formação das cartilagens e ossos do crânio e face (rosto), compatível com um aumento na chamada “morte celular programada”.
Em agosto de 2010, o trabalho de Andrés Carrasco e sua equipe foi publicado na revista científica Chemical Research in Toxicology, da Sociedade Americana de Química, oficializando internacionalmente a verdade de suas descobertas. É importante também observar que este estudo argentino não é o primeiro a comprovar os efeitos maléficos do glifosato para a saúde. Outros exemplos: em 2005, o pesquisador francês Gilles-Eric Seralini, da Universidade de Caen (França) publicou na revista científica Chemical Research in Toxicology um estudo constatando que doses muito baixas de Roundup provocam morte em células humanas em poucas horas.
Efeitos nos parreirais
Segundo pesquisadores da área de meio ambiente da Embrapa, do Instituto Biológico de São Paulo e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o modo de ação do glifosato nas plantas, mesmo que em doses muito pequenas absorvidas pelas raízes, inibe a produção pelas plantas do ácido chiquímico, fundamental para a produção de aminoácidos e de compostos secundários que, por sua vez, são importantes para a proteção das plantas. Logo após a descoberta do modo de ação do herbicida, vários estudos mostraram que doses subletais do glifosato causavam diminuição nos níveis de fitoalexinas (substâncias que as plantas produzem pra se proteger de doenças e insetos-praga) e, conseqüentemente, desligam mecanismos de proteção que as plantas tem contra doenças. O efeito do glifosato no aumento de doenças em plantas de interesse econômico já foi comprovado em diversos cultivos ao redor do planeta em várias pesquisas.
Minha atividade é lucrativa?
A cada dia que passa aumenta a necessidade de sabermos a verdadeira resposta para a pergunta acima. Todos acham que ganham pouco. Mesmo quem ganha R$ 300.000 por mês, como os jogadores de futebol, ainda trocam de clubes porque acham que ganham pouco. Passados dez a quinze anos do encerramento da carreira percebem que consumiram toda a fortuna que acumularam e acabam na miséria. Por outro lado, sabemos de pessoas que constroem suas vidas e acumulam um bom patrimônio, ganhando o que pode ser considerado pouco. Podemos afirmar então que a questão está na gestão.
É muito importante saber como, onde, quando e quanto gastar, para não passar por dificuldades futuras e manter a integridade do negócio.
Para nós que somos do meio rural e viemos de uma cultura de sempre viver se queixando da situação, existe uma dificuldade: administrar uma propriedade de forma profissional.
Muitas desculpas são dadas por não administrarmos adequadamente: “Não faço as contas para não ver o prejuízo”; “não sei quanto custa um quilo do meu produto”; “eu ganho pouco por aquilo que faço”. “A safra deu prejuízo”. Essas são frases usadas pelos agricultores e até por empresários de negócios, agrícolas ou não, para justificarem os resultados.
Há também quem diga que não se faz as contas porque se fizer ficará sabendo que o resultado está bom, e aí não terá do que reclamar. Nossa origem social tem características patriarcais, onde as decisões eram tomadas pelo chefe da família e os outros membros acatavam a decisão e faziam o que lhe era imposto, sem questionamentos.
A modernidade nos apresenta grandes desafios, de forma que em gestão não basta apenas apresentar as contas do resultado, como também a inserção de todos os integrantes da unidade familiar (negócio) para manter a motivação para o trabalho e a sucessão da mesma. Ou as regras são decididas por todos e ficam bem claras ou ninguém se entende.
Como consequência do mau entendimento ou má gestão do patrimônio, é comum encontrarmos propriedades que em pouco tempo não terão sucessores e acabarão encerrando as atividades. Com relação aos sucessores, a maioria cresce ouvindo as reclamações e perde por completo a motivação para permanecer e dar continuidade ao negócio que tem o patrimônio juntado ao longo das gerações.
Não tem como falar em gestão sem falar de dinheiro, e os negócios existem para gerar resultados. Por isso, saber exatamente quanto se ganha e quanto se gasta, é fundamental para se organizar, ter satisfação por aquilo que fazemos, ou tomar decisões sobre onde mudar para poder melhorar.
Algumas frases ouvidas de nossos cooperados merecem atenção: “Se minha família dependesse da uva para viver morreria de fome”. Analisando a produção total que é de 15 toneladas por ano, proporciona uma receita bruta de R$ 7.500,00. Para ter essa produção é necessário 0,5 ha de área plantada.
Consideremos 15 dias trabalhados para poda, 15 para colheita e 15 para outras tarefas como poda verde e tratamentos teremos 45 dias trabalhados (corresponde a 2 meses do ano). O custo estimado para insumos é de menos de R$ 1.000,00 para esta área. Consideremos também o valor de mais R$ 1.500,00 para outras despesas do vinhedo como reposição de palanques, fretes e outras. Sobraria nesta conta R$ 5.000,00 (416,66 por mês) para a manutenção da família (alimentação, luz, telefone, água, vestuário, educação, veículo …). Concordamos, é muito difícil para a família sobreviver. Porém, relacionado aos 45 dias trabalhados, o ganho por dia é de R$111,00 ou R$ 2.500,00 por mês, o que torna o ponto de vista diferente e a atividade não tão ruim.
Quem não mede não gerencia e, portanto, a tomada de decisões sem embasamento frequentemente deixa resultados distorcidos e perigosos.
Para poder tomar as decisões corretas é importante ter registros e poder avaliar. A montagem de um fluxo de caixa onde são anotadas todas as despesas e receitas é o primeiro passo. Outra medida importante é a anotação do tempo que cada trabalhador gasta para a realização das tarefas. Esse procedimento é importante para a correta valorização daqueles que estão trabalhando com a família, permite ser correto no momento das retiradas e justo no momento das partilhas de herança.
As anotações são fundamentais para poder fazer o planejamento financeiro que compreende o levantamento dos custos de produção, demonstrativo de resultados, análise de rentabilidade, avaliação de risco e perspectivas futuras.
Mas este tema é assunto para o próximo encarte.
“Medidas são necessárias: Se não podemos medir, não podemos controlar. Se não podemos controlar, não podemos gerenciar. Se não podemos gerenciar, não podemos melhorar.”
DAVENPORT, Thomas.