ATER: Manejo de inverno

Orientação do Programa ATER muda sistema de produção

 Agrônomo Rodrigo Formolo dá explicações ao agricultor Adriano Callegaro.
Agrônomo Rodrigo Formolo dá explicações ao agricultor Adriano Callegaro.

O agricultor Adriano Callegaro está rindo à toa. Conseguiu um resultado inédito na última safra da uva. Ele reduziu em 50% o custo de produção com a adoção de medidas simples. Além da redução do custeio, recebeu 15% a mais no preço na hora comercialização, porque produziu uva orgânica.

 

A principal medida adotada para redução de custo está ligada ao manejo do solo. Callegaro, que mora em Monte Bérico, deixou de utilizar fertilizantes químicos e adotou a cobertura verde no período da entre-safra. Com a orientação dos técnicos do Programa ATER, ele semeou gramíneas e leguminosas logo após a colheita. O chão virou um tapete verde. Além de zerar o gasto com aplicação de herbicidas, o solo passou por uma reciclagem. “Antes eu fazia até cinco aplicações de herbicida. Agora não é mais necessário nenhuma aplicação”.

 

Callegaro explica como funciona esse sistema. “As leguminosas, como é o caso do nabo, puxam os nutrientes de subsolo para a superfície onde estão as raízes das parreiras. As mesmo tempo, o seu tipo de raiz leva o oxigênio e nitrogênio para dentro do solo. Essa circulação favorece a absorção dos nutrientes pelas videiras”. Para fortalecer o fornecimento de nutrientes.

 

Ele aponta outras vantagens da produção orgânica: a palha da cobertura verde fica por muito tempo no solo e evita o impacto da chuva, a matéria orgânica realimenta a planta e o apodrecimento da palha favorece a reprodução do fungo tricoderma, que controla os fungos que prejudicam o desenvolvimento da fruta
O conjunto de medidas adotadas, sem gastar mais por elas, elevou o volume colhido na última safra para 85 mil quilos. O aumento é resultado de um novo sistema de cultivo. “Com a orientação dos técnicos da ATER mudei radicalmente o manejo e o processo produtivo”.

 

A grande vantagem apontada por Callegaro, no entanto, está relacionada a sua saúde. “Eu estava intoxicado. Não suportava mais. Eu passar mal em qualquer aplicação. Estava vendo que a única saída era vender tudo e trabalhar de empregado na cidade”. O gerenciamento do processo de produção sofreu essa transformação e a vida mudou. “Faço toda safra sem precisar interromper um dia de trabalho porque deixei de utilizar os agrotóxicos”. Mais do que os benefícios econômicos, o agricultor tem consciência que a agricultura orgânica traz vantagens muito importantes para o produtor e para o planeta. “A produção orgânica é o futuro da agricultura”.

 

Cobertura verde de solo

Rodrigo Formolo – Agrônomo do projeto ATER
Rodrigo Formolo – Agrônomo do projeto ATER

Para realizar uma cobertura ou adubação verde no vinhedo não basta somente semear as sementes, mas sim escolher a melhor espécie para cada situação de terreno e condição de cultivo.

 

Para fornecimento de palha, as melhores são as gramíneas, como a aveia preta, a aveia branca e o centeio. Este último tem a vantagem de ser mais resistente aos níveis de cobre existentes na região. Quando existem problemas de muita compactação do solo, o nabo forrageiro, por possuir uma raiz pivotante profunda, consegue penetrar em terrenos mais compactados e afrouxar a terra. Em solos que necessitam de mais nitrogênio, a melhor planta é a leguminosa ervilhaça. Esta planta consegue fixar até 90 kg de nitrogênio no solo por hectare.

 

Nos parreirais da Serra Gaúcha, os técnicos do Programa ATER estão utilizando uma mistura de várias sementes. Esta alternativa tem se mostrado ideal, porque aumenta a biodiversidade do local, seja de plantas como de insetos que beneficiam a parreira.

 

Resultado da safra mostra vantagens da análise de solo
Luis Carlos Calábria, agricultor de Linha Palmeiro (Farropilha), desafiou a lógica da agricultura convencional. No último ano, ele deixou de aplicar o fertilizante NPK e aumentou em mais de 20% o volume de uva colhida. Com 9 mil pés plantados, a safra chegou a 116 mil quilos.

 

Ele deixou de utilizar o fertilizante químico depois de uma análise séria da condição do solo. O agrônomo Paulo Dullius convenceu Calábria e a esposa Leanir a fazer uma análise rigorosa de solo da propriedade. Eles escolheram uma área. Houve coleta em vários pontos e uma interpretação isenta dos dados apontados, após a verificação do instituto responsável pela análise. A recomendação foi para não utilizar adubo químico. O resultado foi impressionante. “A orientação do Paulo (agrônomo) foi certeira, deu resultado nota 10”, comemora o agricultor. “Antes da orientação da ATER eu tocava adubo, veneno, fertilizante e nunca conseguia passar dos 90 mil quilos. Agora na primeira safra orientada apliquei apenas dois micronutrientes e já tenho esse rendimento! Veja como a gente estava enganado”, destaca Calábria.

 

Calábria conta que antes da análise de solo e orientação da ATER ele aplicava sete sacos de NPK a cada três mil metros quadrados. Fazendo as contas, com muita agilidade, ele conclui que reduziu o custo de produção em pelo menos R$ 330,00 por hectare. “Era um dinheiro botado fora, dado para os vendedores de adubo”.

 

Mas o benefício não ficou restrito a redução de custos. A qualidade da uva foi outro ponto forte. Cachos maiores e sem variação no período de maturação. “A sanidade ficou excelente. Eu queria que você visse a beleza e a qualidade dos grãos. Eram sãos. Dava vontade de comer com os olhos”, afirma o agricultor. A análise foi orientada pelo Programa ATER e realizada nos laboratórios da Universidade de Caxias do Sul.

 

Feliz com o resultado alcançado, ele já projeta aprimoramento para a próxima safra. “Vou fazer a análise de solo em todas as áreas da propriedade. Ela me provou que dá resultado. Antes a gente adubava, adubava e não via melhorias”.
Calábria recomenda aos agricultores que façam uma análise de solo séria. “Gastei R$ 22,00, nem meio saco de adubo e tive um resultado extraordinário”. A análise de solo é um investimento e não um custo, sentencia Calábria.

 

Paulo Dullius - Agrônomo do Programa ATER
Leanir e Luis Carlos Calábria junto ao agrônomo Paulo Dullius

 

Análise de Solo: custo ou investimento?

Paulo Dullius Agrônomo do Programa ATER
Paulo Dullius – Agrônomo do Programa ATER

Terminada a safra da uva, terminam também muitas das preocupações com os parreirais. É comum os agricultores só darem atenção novamente às videiras, na hora da poda. No entanto, o momento da entre-safra é importante para o planejamento da adubação da próxima safra. E tudo começa com uma análise do solo. Apesar de alguns agricultores encararem a análise de solo como apenas mais um custo de produção, ela é um investimento necessário.

 

 

A pergunta que deve ser feita é: quanto adubo a parreira precisa para produzir cada tonelada de uva?
Para saber a resposta é fundamental fazer uma correta análise de solo. E, para isso, é importante dividir a propriedade em áreas iguais para a coleta do solo. Outro cuidado importante é fazer várias coletas e em vários locais dentro de cada área, para ter uma amostra mais precisa e correta. Depois, com o laudo em mãos, é importante procurar um engenheiro agrônomo para fazer a interpretação dos resultados e a recomendação de adubação mais adequada para cada caso.

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