Boa produtividade das colméias garante safra de mel

Regiões como a Serra Gaúcha e os Campos de Cima da Serra
encerram colheita em janeiro, quando é produzido o ‘mel branco’

Danúbia Otobelli*

O Rio Grande do Sul, tido como o maior produtor de mel do país, finalizou a colheita da produção com

(Foto: Larissa Verdi)
(Foto: Larissa Verdi)

boas perspectivas. Conforme relatório da Emater/RS, a safra foi muito positiva, já que os primeiros resultados estão excelentes. A floração de primavera foi forte e houve um trabalho intenso das abelhas na coleta de pólen e néctar, com expansão da população nas colméias. O preço médio comercializado, segundo a conjuntura da Emater, está em R$ 10 kg. Entretanto, a região da Serra e dos Campos de Cima realizam um safra em janeiro, para a colheita do mel branco. Este mel, bastante claro, é produzido, de acordo com os apicultores, pelas flores de três espécies de árvores nativas: o Guaraperê, a Carne de Vaca e a Gramimunha. “É um mel característico dessa região. Estamos pesquisando para ver qual das três plantas é mais importante e vai dar origem botânica ao mel branco. Alguns produtores dizem que é uma, outros dizem que é a outra árvore”, observa o professor de Apicultura da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aroni Sattler.

Conforme o professor, cerca de 4,2 mil toneladas de mel foram produzidas nessa safra. A colheita acontece em duas épocas do ano: de setembro até dezembro, chamada safra da primavera, e que representa 60% da colheita; e a de outono, que inicia em fevereiro até junho e significa 40%. “Nessa safra, na maioria das regiões, o clima ajudou e as colméias tiveram produtividade. A colheita de janeiro é típica da região serrana e, normalmente, é quantificada junto com a safra de outono”, pontua.
No ano passado, apesar de um recuo de 8 mil toneladas, em comparação com o ano anterior, o Estado produziu 6,7 mil toneladas de mel, mantendo o posto de maior produtor do Brasil. Em 2011, o volume havia ficado em 6,9 mil toneladas. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estados do Sul, Paraná e Santa Catarina, ocupam a segunda e a terceira posição, respectivamente. O primeiro produziu 5,4 mil toneladas, em 2012, e o segundo ficou com 4,3 mil toneladas de mel, deixando para trás Piauí e Ceará, que ocupavam anteriormente o lugar.

*Colaborou Larissa Verdi

Tradição familiar

O agricultor Valcir Brogliato herdou a tradição de manter caixas de abelha e colher o mel, do tio André Giotti (falecido). Ele reside na propriedade que pertenceu ao tio, na comunidade de São Victor, em Flores da Cunha, e herdou também o gosto pelo trato com as abelhas de espécie africana, que habitam as cerca de 20 caixas da propriedade. Auxiliado por um dos filhos, Édipo, a colheita é feita no início da primavera, no verão e após a safra da uva, em abril. “As colheitas dependem muito do clima, se fizer calor e dias de sol, a qualidade do mel é maior”, diz Brogliato. Em períodos chuvosos, o mel também não garante a qualidade dos períodos de seca.
A produção anual de Brogliato fica em torno de 500 kg, e é destinada a conhecidos da família que adquirem alguns quilos para consumo próprio. “Não é uma fonte de renda, inclusive pelo fato que o produto está desvalorizado em questão de preço. Leva-se em consideração que o produto é pesado, porém a trabalheira da colheita acaba não compensando. “Eu adoro ter um apiário, fiz este trabalho desde pequeno e é um prazer”, enfatiza.
O processo é trabalhoso, e exige habilidade e cuidado. O mel deve ser colhido nas horas quentes do dia, pois as abelhas estão em atividade. A colheita é feita com o auxílio de um fumigador, que é um equipamento constituído de tampa, fole, fornalha e bico de pato, que tem como função produzir fumaça, a fim de desnortear as abelhas na hora da colheita. “É um trabalho para quem gosta. Sempre lidei com isso, e faço gosto em continuar o trabalho de meu tio”, enfatiza Valcir. Ele conta que o processo feito antigamente não dispunha de roupas adequadas, nem aparelhos para auxiliar e inibir as ferroadas. “Desde a manutenção até a colheita, as gerações que passaram sofriam, mas era uma fonte de renda para as famílias que faziam este trabalho” relembra.

Após a colheita dos favos, o processo de extração do mel inicia. Os favos passam por uma centrífuga, segundo Édipo, com moldes antigos, mas funciona. “Ainda não encontramos maquinário novo, trabalhamos com uma centrífuga antiga”, frisa. Depois de extraído do favo, o mel precisa ser peneirado (com peneira fina ou tecido), para desta forma eliminar as impurezas, e ele deve ser guardade em vidros ou pequenos baldes e armazenado em local fresco e sem umidade.

Valcir Brogliato produz mel no interior de Flores da Cunha.
Valcir Brogliato produz mel no interior de Flores da Cunha.

 

Cuidados com a colheita do mel

Em época de colheita, é importante que os apicultores sigam alguns procedimentos que visam a coleta eficiente e a manutenção das características para a obtenção de qualidade ao produto final. De acordo com orientações da Embrapa Meio Ambiente, a primeira fase da colheita é muito importante, já que é nela que o produtor terá o primeiro contato direto com o mel. É importante usar vestimentas próprias para a prática apícola e evitar colher o mel em dias chuvosos ou com alta umidade, pois isso eleva os índices de umidade do produto. O ideal é colher o mel em dias ensolarados, entre as 9h e 16h.

A colheita do mel deve ocorrer de forma seletiva. Assim que abertas as melgueiras, cada quadro deve ser inspecionado, priorizando a retirada apenas daqueles que apresentarem, no mínimo, 90% de seus alvéolos operculados (em que abelha já lacrou com uma fina camada protetora de cera). “Um dos primeiros cuidados é colher o mel maduro. Quando os favos estão totalmente operculados, a umidade está baixa e isso irá garantir uma longevidade grande aos produtos nas prateleiras dos mercados sem risco de fermentação”, ensina o professor.

Outro cuidado apontado por Sattler é com a exposição solar. O mel não deve ser superaquecido, pois isso prejudica a sua qualidade. “Uma atenção especial deve ser dada no manejo no campo para não colocar as melgueiras no chão, pois o contato com o solo e a vegetação pode acumular sujeira que se misturará com o mel”, aponta.
O transporte é outro fator que merece cuidado. É importante que se cubra as melgueiras, para evitar a contaminação do mel por poeira ou outras sujeiras e também para que as abelhas não saqueiem as melgueiras colhidas.

As boas práticas devem ser seguidas também na hora do processamento, com limpeza do ambiente, equipamentos de proteção e embalagens de qualidade, pois um mel mal tampado tem grande possibilidade de fermentar, já que o produto absorve a umidade do ar com bastante facilidade. “Isso tudo é um conjunto de boas práticas que irá determinar que o mel produzido adequadamente pela abelha se mantenha nas mesmas condições no final do processo quando chega ao consumidor”, complementa.

Saiba mais

Quais são os tipos de apiários
Apiário fixo: é caracterizado pela permanência das colméias durante todo o ano em um local previamente escolhido, onde as abelhas irão explorar as fontes florais disponíveis. Utilizado, em geral, por pequenos produtores.
Apiário migratório: é usado na prática da apicultura migratória, em que as colméias são deslocadas ao longo do ano para locais com recursos florais maiores. Utilizam-se cavaletes desmontáveis ou dobráveis para o deslocamento.
De acordo com o professor em Apicultura, Aroni Sattler, a diferença entre os dois está no tipo de mel (existem diversos tipos) e na produtividade e rentabilidade. “Um apiário fixo renderá uma safra boa e outra razoável e um migratório terá três safras cheias, dependendo das condições climáticas”, explica.

Localização

Quando se pretende instalar um apiário, devem-se levar em conta alguns aspetos:
– Flora apícola: é caracterizada pelas espécies vegetais que possam fornecer néctar ou pólen para a produção de mel. Para isso, é fundamental uma avaliação detalhada da vegetação em torno do apiário, levando em conta não apenas a identificação das espécies melíferas, mas a densidade populacional e os períodos de floração.
As abelhas têm a capacidade de forragear com alta eficiência uma área de dois a três quilômetros ao redor do apiário, mas quanto mais próximo da colmeia estiver a fonte, mais rápido será o transporte, permitindo que as abelhas realizem mais viagens e aumentem a produção.
– Acesso: o apiário deve ser de fácil acesso, em terreno plano, com frente limpa. Deve-se evitar áreas elevadas em virtude da ação negativa  dos ventos. O local também dever estar em área sombreada, mas não úmida
– Segurança: a sua localização precisa ter uma distância mínima de 400 metros de casas, escolas, estradas, aviários e outros locais, para evitar picadas e perigos as pessoas e animais. E ainda uma distância mínima de 3 km em relação a engenhos, sorveterias, fábricas de doces, depósitos de lixo, matadouros, para que não ocorra contaminação do mel por outros produtos.
– Água: a presença de água é fundamental, pois ela é usada para auxiliar na termorregulação. Deve-se fornecer para as abelhas fonte de água pura.
– Disposição: as colmeias devem estar, de preferência, voltadas para o sol, estimulando as abelhas a iniciarem mais cedo suas atividades. As colmeias podem ser dispostas sob várias formas (em linha reta, fileiras paralelas, semicírculos, etc) e manter uma distância mínima de dois metros entre as colmeias.

(Fonte: Embrapa Meio Ambiente)

 

Abelhas sem ferrão

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou, em junho, um projeto sobre a criação de abelhas sem ferrão (AFS). Nativas do Brasil e assim conhecidas por apresentarem um ferrão atrofiado não utilizado para a defesa, essas abelhas produzem mel com teor de açúcar maior e, por isso, com mais sabor. Para o produtor, a venda pode render até cinco vezes mais do que a do mel comum. Embora produzido em pequena quantidade (1 a 5 litros/colmeia/ano), o preço é maior do que o da abelha africanizada. Várias espécies das abelhas sem ferrão produzem o chamado ‘mel branco’, típico da região serrana.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Ricardo de Camargo, das mais de 250 espécies existentes no país, diversas podem ser criadas racionalmente tanto para a produção e comercialização de mel, pólen e própolis quanto para a produção e comercialização de colônias, sendo uma fonte alternativa importante de geração de renda complementar para o agricultor familiar. “Apesar das necessidade da realização de vários estudos, o potencial das abelhas sem ferrão como polinizadores efetivos já está bem estabelecido. Sendo assim, estima-se que em breve os meliponicultores (criadores de ASF) poderão ter também mais uma fonte importante de renda a partir do aluguel de suas colônias para a polinização dirigida em diversos cultivos e culturas”, explica.

Um dos benefícios da meliponicultura, como é conhecida esse tipo de criação racional, é que não há necessidade do uso de equipamentos de proteção (fumigador e vestimenta apícola) como no caso da apicultura, o que favorece o manejo das colônias. Conforme o pesquisador, como essas abelhas não ferroam, a instalação do meliponário (local de instalação das colônias) pode ocorrer próximo a moradias e locais de criação de outros animais, incluindo ambientes urbanos.

 

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Dificuldades
Entre os empecilhos apontados para a criação dessas abelhas, está a falta de conhecimento dos apicultores em relação à obtenção e ao manejo dos ninhos. “A questão é um pouco complicada, porque essas abelhas, muitas vezes, fazem ninhos em troncos de árvores. É bom lembrar que as abelhas precisam das flores, o alimento para elas produzirem o mel. E muitas vezes os produtores levam tempo para aprender o processo de remoção do ninho”, diz a pesquisadora Kátia Braga, que aponta que é preciso conhecer as abelhas sem ferrão, assim como as outras espécies nativas do Brasil, aprender a conservá-las nos ambientes naturais e manejá-las para a melhor polinização agrícola.

Abelha
A abelha sem ferrão se adapta em qualquer região do país. Seu ninho pode gerar de 500 a 80 mil filhotes. No estado, o comércio desse tipo de abelha já ocorre de forma satisfatória. A mais popular é chamada de Jataí. Os ninhos dessa espécie são os que se adaptam mais facilmente a diversos locais. Em média, um enxame de Jataí pode ser comprado por R$ 185.
Em todo o Brasil, são mais de cinco mil espécies nativas de abelhas. Das sem ferrão, há mais de 250 espécies. Segundo a pesquisadora Kátia, a abelha mais conhecida entre os brasileiros é a abelha de mel ou africanizada, que não é uma espécie nativa do país.

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Respostas de 9

  1. Tenho uma propriedade que nos fundos tem uma reserva florestal serrado alto, de 180ha, a muito tempo tenho vontade de desenvolver um apiario, fica numa região quente no pontal do paranapanema. ao longo do tempo quantas caixas eu poderia ter neste apiario?

    Abel Rocha

  2. Meu nome é Joao moro em Ana Rech e trabalho na compra de mel para o mercado local e regional e tambem para exportaçao . até agora consegui muito pouco acredito que é uma das piores safras da historia. se souberem aonde esta produzindo no Brasil me avisem. fone para contato { 54] 99145924 vivo [ 54} 91849603

  3. Trabalho com embalagens recondicionadas, disponho de tambor metálico para mel, para pedido fracionado o transporte é por conta do comprador. Acima de 200 pçs, eu consigo entregar no RS.

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