Brasil lidera a pesquisa em vinhos tropicais

País é o único que tem órgãos públicos desenvolvendo e financiando pesquisas para este
tipo de vinho, como é o caso da Embrapa e o Instituto Federal de Pernambuco

Clima e irrigação propiciam duas colheitas ao ano no nordeste brasileiro
Clima e irrigação propiciam duas colheitas ao ano no nordeste brasileiro

Elaborar vinhos em regiões de clima quente, que possibilitam duas podas anuais e uma ou duas safras é uma definição resumida dos vinhos tropicais, produtos que estão conquistando um novo mercado, com características diferenciadas dos vinhos das tradicionais regiões de clima temperado. Segundo a avaliação do pesquisador Giuliano Elias Pereira, o Brasil continua na liderança e na vanguarda desta nova fronteira do vinho, pesquisando e apresentando alternativas para qualificar e inovar ainda mais os vinhos tropicais. Essa foi a sua conclusão após presidir a realização do 5º Simpósio Internacional de Vinhos Tropicais (5th ISTW 2016), que ocorreu no final do mês de outubro, em Petrolina (PE), no Vale do Rio São Francisco, principal região tropical vitivinícola do Brasil. Cerca de 130 participantes de oito países (Brasil, Venezuela, Estados Unidos, Portugal, França, Tailândia, Indonésia e Austrália) discutiram a vitivinicultura de clima tropical. “Durante o evento, pudemos constatar que o Brasil é o único país que tem órgãos públicos desenvolvendo e financiando pesquisas para vinhos tropicais, com é o caso da Embrapa e do Instituto Federal de Pernambuco. Nos demais países existem apenas o esforço das vinícolas, dificultando o desenvolvimento científico e tecnológico para o setor”, avalia Pereira. Ele pontua que o principal gargalo está em aumentar a produtividade.

Foram 28 palestras de importantes pesquisadores da vitivinicultura internacional. Abrindo o evento, a professora francesa Jocelyne Pérard, da Universidade da Borgonha (França), e Presidente da Cátedra Unesco Cultura e Tradições do Vinho, falou sobre a Organização, valorização e proteção do patrimônio cultural dos territórios de vinhos tropicais, apresentando o exemplo da Borgonha, um patrimônio mundial da Unesco, que desde 1935 possui indicação geográfica.

Gregory Jones, da Universidade do Sul do Oregon (Estados Unidos), autoridade mundial na temática das mudanças climáticas, falou sobre a incerteza das zonas tropicais, que por serem regiões quentes possuem uma dinâmica completamente diferente de zonas temperadas, que já têm variedades típicas definidas. Este diferencial possibilita que algumas cultivares possam ser interessantes para expressar a tipicidade dos produtos da região, como alguns moscatos.

Já na temática de Sustentabilidade, Joel Rochard, do IFV (França), trouxe a importância que o tema vem ganhando em regiões tradicionais, como na Europa, e que terá importância crescente na vitivinicultura brasileira.

Outro destaque da programação foi a apresentação do processo de Indicação de Procedência o Vale do São Francisco, para vinhos finos tranquilos e espumantes, que está sob a coordenação dos pesquisadores Jorge Tonietto e Giuliano Pereira, cujos trabalhos deverão estar sendo concluídos no próximo ano para encaminhamento ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “Esta será a primeira indicação geográfica de vinhos tropicais do Brasil, possibilitando a qualificação dos produtos com a padrões de identidade típicos do semiárido brasileiro, onde a produção de uvas e vinhos ocorre durante todo o ano, viabilizando a promoção dos vinhos tropicais através das vinícolas integrantes da Vinhovasf – Instituto do Vinho do Vale do Vale do São Francisco”, comenta Tonietto.

“Além de estarmos testando novas cultivares para qualificar os espumantes, que representam 70% da produção atual e são o carro-chefe da produção do Semiárido, estamos avaliando diferentes sistemas de manejo para aumentar a produção e também avanços no processo de elaboração de vinhos tintos, como a retirada manual do engaço, que qualifica ainda mais os produtos”, informa o pesquisador Pereira. Ele ressalta que são produzidos cerca de 10 milhões de litros de vinhos no Semiárido brasileiro, sendo que 60% é vinho comum, a partir de uvas labruscas/americanas ou sobras de uvas de mesa, vendido no mercado interno, e 40% é vinho fino, elaborado com videiras viníferas/europeias.

Muito além do Vale do São Francisco

Pereira reforça que no Brasil, além do Vale do São Francisco, outras regiões de clima tropical no País estão começando a produzir, como ocorre nos estados da Bahia – Chapada Diamantina, São Paulo e Minas Gerais, regiões que vêm se destacando nos últimos oito anos, produzindo uvas e vinhos entre 900-1,3 mil metros de altitude. “Os vinhos da Chapada Diamantina, que são vinhos tropicais de altitude, apresentam características muito impressionantes, como espumantes tradicionais a partir de Chardonnay e Pinot Noir e tintos com uvas Syrah, além de brancos Sauvignon Blanc”, relata Pereira. Além do excelente nível tecnológico do produto, o pesquisador comenta que está sendo criada infraestrutura enoturística que vai atrair muitos visitantes e enófilos. “Certamente a produção poderá se tornar referência no Brasil, e poderá chegar aos seletos mercados americano e europeu”, avalia.

Na hora das degustações de vinhos tropicais, o Brasil também ganhou destaque com as inovações apresentadas, como é o caso dos vinhos rosados, tranquilos e espumantes elaborados com a uva Grenache, ou marcas comerciais com vinho tinto de alta qualidade, como os elaborados com a colheita no período de inverno, com o desengace manual das bagas.

O 5º Simpósio de Vinhos Tropicais foi uma realização das unidades da Embrapa (Semiárido e Uva e Vinho), Group of International Experts of Vitivinicultural Systems for CoOperation (GiESCO), Chaire Unesco – Culture et Traditions du Vin e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Contou com o apoio do Senac, Facepe, IF Sertão Pernambucano, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Valexport, Instituto do Vinho do Vale do Vale do São Francisco, ADDiper e CAPES. A próxima edição do evento ocorrerá em 2018.

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