Câncer de pele, um mal que pode ser evitado

Produtores rurais integram grupo considerado vulnerável à doença, num Estado
que tem incidência de melanomas malignos acima da média nacional. A principal
prevenção é o uso de protetores solares, que estão sendo distribuídos pelo Governo estadual

 

A poucos meses do início da safra da uva e também da estação mais quente do ano, os agricultores gaúchos, além de se preocuparem com a colheita de bons frutos, precisam cuidar da saúde. Isso porque a exposição constante ao sol coloca os produtores rurais, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, como uma das populações mais vulneráveis ao câncer de pele. E as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) não são nada favoráveis à população do Rio Grande do Sul. Segundo o órgão, as incidências de melanomas malignos mostram-se acima da média nacional, com estimativas para 2014 de 6,78 casos para cada 100 mil mulheres e 7,42 casos para cada 100 mil homens. São os maiores índices do Brasil e representam 40% dos casos de câncer no Rio Grande do Sul. Esperam-se no Estado 480 casos de câncer de pele melanoma para homens e 470 casos para mulheres. No câncer de pele não-melanoma são projetados 9.020 casos em homens e 5.370 em mulheres. “Esses números elevados no Sul são devido à população de pele, olhos e cabelos claros. Ao contrário de regiões como o Nordeste, passamos a maior parte do ano cobertos e pegamos uma forte radiação solar num curto período. E isso se torna um fator de risco, porque a pele não está adaptada a constante exposição solar”, explica a dermatologista Nádia Murussi.

Em todo o Brasil, serão 98.420 casos novos de câncer de pele não-melanoma nos homens e 83.710 nas mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 100,75 casos novos a cada 100 mil homens e 82,24 a cada 100 mil mulheres.

Diante desses números, não é à toa que o Governo do Estado regulamentou a lei estadual n° 13.469, que dispõe sobre a prevenção e o combate às doenças associadas à exposição solar do trabalhador rural, do pescador e do aquicultor. Um dos benefícios da lei é a distribuição de protetores solares aos produtores rurais, bem como demais usuários, em situação de risco. “A Secretaria Estadual da Saúde considera que os altos números associados a óbitos e notificações de melanomas malignos no Estado constituem um desafio à saúde pública, demandando, para além da oferta ou utilização dos protetores solares, outras ações consideradas imprescindíveis, como estratégias educativas e de promoção de medidas de proteção individual, voltadas diretamente às populações”, assina a secretária da Saúde, Sandra Fagundes, na portaria sobre as medidas de prevenção. Em quatro meses do programa, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde, já foram cadastrados 23.985 mil agricultores (veja mais sobre o projeto na página 19).

 

Como se prevenir
Apesar da grande incidência, o câncer de pele tem baixa mortalidade, se comparado a outros tipos de câncer, como de próstata e de mama, e alta taxa de cura. Por isso, a prevenção é um dos seus aliados. Conforme a dermatologista Nádia Murussi, o câncer de pele costuma apresentar-se em duas principais formas: melanoma e carcinoma (basocelular e espinocelular). O primeiro é do tipo menos frequente, mas tem o maior índice de mortalidade. Entretanto, as chances de cura são de mais de 90% quando há detecção precoce da doença. Em geral, ele tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos, e que muda de cor, formato ou tamanho, podendo sangrar. Por isso é importante observar a própria pele regularmente.

Em estágios iniciais, o melanoma se desenvolve apenas na camada superficial da pele, o que facilita a remoção cirúrgica e a cura do tumor. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de metástase para outros órgãos e diminui as possibilidades de cura. Nesse tipo de câncer, a hereditariedade desempenha um papel central no desenvolvimento da doença. Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com o mal devem se submeter a exames preventivos regularmente.

O câncer do tipo não-melanoma (os carcinomas basocelular e espinocelular) são os mais prevalentes dentre todos os tipos de câncer. “É o mais comum entre os agricultores, devido à constante exposição solar. Em geral, aparece depois dos 40 anos, mas é o sol que esses agricultores tiveram desde a infância/adolescência”, explica a dermatologista.

Esse tipo de câncer surge frequentemente em regiões mais expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Normalmente, o não-melanoma tem coloração avermelhada e apresenta-se na forma de machucados ou feridas espessas e descamativas. Sua cura é de 100% quando ocorre a detecção precoce. “Os cânceres de pele não-melanoma são de bom prognóstico, com altas taxas de cura se tratados de forma precoce. Porém, em situações nas quais há demora no diagnóstico podem acarretar deformações graves na pele”, pontua Nádia.

Como a incidência dos raios ultravioletas está cada vez mais forte, a melhor ação é a prevenção. Os grupos de maior risco, ou seja, pessoas de pele clara ou que apresentam sardas ou cabelos claros ou com antecedentes familiares ou com pintas, devem redobrar os cuidados, ao se exporem ao sol. “Ele é o principal fator de risco, então é preciso que os agricultores usem filtro solar sempre e se protejam com roupas, óculos de sol e chapéu com aba. Nunca esquecendo também de proteger os lábios”, ensina a dermatologista.

Outra forma de prevenção é o cuidado clínico. Qualquer diferença na pele, como surgimento de pintas, cicatrizes ou manchas, deve ser avaliada por um especialista. “Às vezes as pessoas não dão importância para uma ferida ou bolinha, mas isso pode crescer e se tornar perigoso. Por exemplo, casquinhas na pele são ceratoses actínica, que são lesões de pele pré-câncer. Quem fica muito exposto ao sol ou que perceba algo diferente na pele deve procurar um dermatologista anualmente. A prevenção e o diagnóstico precoce são a solução para o câncer de pele”, conclui Nádia.

 

 

Medidas de proteção
– Use chapéu, camiseta e protetor solar;
– Evite a exposição solar nos horários das 10h às 16h (horário de verão);
– Utilize um produto que proteja contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo;
– Reaplique o filtro a cada duas horas;
– Observe regularmente a própria pele, à procura de pintas ou manchas suspeitas;
– Consulte um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo.
(Recomendações da Sociedade Brasileira de Dermatologia)

 

Como escolher um protetor

Tabela pg 19Os filtros solares são produtos capazes de prevenir os males causados pela exposição solar, como câncer de pele, envelhecimento precoce e queimaduras. Um protetor ideal deve ter amplo espectro, ou seja, não ser irritante e ter resistência à água e ao suor.

Ele deve ser eficiente contra a radiação UVA e UVB. A primeira tem comprimento de onda mais longo e sua intensidade pouco varia ao longo do dia. Ela penetra profundamente na pele e é a principal responsável pelo envelhecimento e pelo câncer de pele. Já a UVB tem comprimento de onda mais curto e mais intenso entre às 10h e 16h, sendo a principal responsável pelas queimaduras solares.

Um filtro com fator de proteção solar (FPS) 2 até 15 possui baixa proteção contra a radiação UVB; o FPS 15-30 oferece média proteção, enquanto que os protetores com FPS 20-50 oferecem alta proteção UVB; e o FPS maior que 50, altíssima proteção. Pessoas de pele clara e que se queimam sempre, devem usar protetores solares com FPS 30, no mínimo.

Página 19 dermato
Dermatologista Nádia Murussi.

Em relação aos raios UVA, ela é medida em estrelas que variam de 0 a 4, onde 0 é nenhuma proteção e 4 é altíssima, ou ainda de números que variam de 2 a 12. Quanto maior o número maior será a proteção UVA. Essa classificação está presente nos rótulos dos produtos. A legislação exige que tudo o que o produto anunciar no rótulo, deve ter testes comprovando a eficácia.

Ao escolher, analise todos esses pontos, em especial o FPS, e também veja para qual tipo de pele é melhor. Pessoas com pele com tendência à acne devem optar por aqueles livres de óleo ou gel creme. Já quem faz muita atividade ou sua bastante os géis não são recomendados, pois saem facilmente.
E lembre-se que o filtro solar deve ser usado todos os dias, mesmo quando o tempo estiver frio ou nublado.

 

 

 

Governo está distribuindo filtros solares

Desde que promulgou, no ano passado, a Lei Estadual 13.469, que cria o Programa de Proteção à Saúde do Trabalhador Rural e prevê a distribuição de filtro solar aos agricultores como forma de prevenção ao câncer de pele, o governo do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria Estadual da Saúde, já cadastrou 23.985 mil agricultores no programa. Os protetores estão sendo distribuídos em todo o Estado. Nessa primeira etapa, 129 municípios foram considerados prioritários. O critério de escolha foi a alta incidência de casos de câncer de pele nesses locais (veja no quadro acima os municípios da região Nordeste selecionados e os índices de mortalidade). Cada agricultor tem direito a três unidades por ano, sendo uma a cada quatro meses. São frascos de 120 gramas com fator 30 de proteção.

Para receber o filtro, os agricultores devem fazer um cadastro no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de sua cidade. O trabalhador precisa preencher uma ficha (que está disponível nos sindicatos, nas Unidades Básicas de Saúde e nas farmácias de medicamentos especiais) e também entregar cópias da carteira nacional do SUS, identidade e comprovante de residência. Os sindicatos são os responsáveis pelo encaminhamento dos trabalhadores cadastrados. Em caso do trabalhador não ser filiado a nenhuma entidade representativa, o pedido deverá ser feito diretamente na UBS do seu município, para obter uma prescrição médica do protetor solar. Depois de feito o cadastro, os agricultores podem retirar o protetor junto às farmácias de medicamentos especiais nas Secretarias Municipais de Saúde.

A distribuição dos protetores solares às farmácias especiais será feita por meio das Coordenadorias Regionais de Saúde, que irão retirar os produtos junto ao Laboratório Farmacêutico do Estado. Mais informações podem ser esclarecidas nos STRs locais e na ouvidoria da Secretaria Estadual da Saúde pelo telefone 0800 6450.644, das 8h30min às 12h e das 13h30min às 18h, em dias úteis.

 

Por Danúbia Otobelli
danubia@editoranovociclo.com.br

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