Os trabalhos no manejo do rebanho nem sempre são fáceis, por isso contar com a ajuda de um cão facilita e, muitas vezes, traz economia aos produtores. Essa prática tem sido cada vez mais difundida no país, com a realização de campeonatos e apresentações de animais com aptidão de pastoreio e treinados para isso. Um dos cães que detém grande potencial para lidar com criações de animais são os da raça Border Collie. Originários da fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, esse cão é muito resistente e tem capacidade e disposição para agrupar e conduzir animais com bastante agilidade. No Brasil, desde a década de 1990 a raça conquistou criadores, que passaram a se dedicar ao desenvolvimento do cão, aprimorando técnicas de treinamento de pastoreio e mantendo o padrão de qualidade por meio da seleção genética.
Conforme o secretário da Associação Gaúcha de Criadores de Border Collie (AGBC), Leonardo Baltazar Cardoso, o cão pode trazer vários benefícios para o trabalho no campo, como agilidade no serviço, atividade com grandes rebanhos e auxílio no aparte de ovelhas, evitando que em exames médicos o rebanho se junte novamente. “O cão trabalha de forma silenciosa e não late, mordendo somente se for mandado, e com isso torna o manejo mais prazeroso e eficaz. Ele também pode trazer ou levar um rebanho de ovelhas ou de gado a 800 metros de distância do pastor, o que agiliza o serviço na fazenda”, explica Cardoso. Além da habilidade, a raça possui outra vantagem: um baixo custo de manutenção, sendo a alimentação de qualidade e vacinas em dia as únicas exigências.
Treinamento
Porém, antes de desempenhar a tarefa, a raça canina precisa passar por um treinamento. É aqui que entra o papel da AGBC, entidade sem fins lucrativos, que auxilia no adestramento dos cães e promove cursos e demonstrações de trabalho. “Presta auxílio técnico a criadores, treinadores e proprietários de cães, assim como pecuaristas, a fim de tornar o trabalho dos cães mais eficaz e produtivo, objetivando a redução de custos e o aumento da produtividade, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do meio rural”, aponta o secretário da entidade.
O adestramento começa nos primeiros seis meses de vida, quando ele já tomou todas as vacinas. Nessa fase, o cão é apresentado ao rebanho e deve utilizar uma coleira e guia, para evitar acidentes. “Não chega a ser um treinamento, mas uma análise mais precisa do cão para ver como é o seu comportamento. O treinamento inicia mesmo quando observamos que o Border Collie está com o olhar fixo no rebanho e em posição de ataque. É o que chamamos de ‘ligou no rebanho’”, pontua Cardoso. Essa etapa pode demorar de seis meses a um ano, dependendo do cão.
Passada essa fase, é iniciado, junto ao rebanho, o treinamento de comando de voz, com frases como: deitar, circular para direita, circular para esquerda, andar, andar devagar, morder, olhar para trás e ir para trás. Em geral, essa parte dura seis meses. Depois disso, o Border Collie é ensinado ao adestramento de longas distâncias. “Tudo o que ele aprendeu até o momento é aplicado a grandes distâncias como 150 metros, 250 metros, 700 metros”, diz Cardoso.
É importante que o treinamento seja feito por profissionais e individualmente, pois cada cão possui sua particularidade. Ele é feito por meio de comando de voz e apito, o que possibilita ordenar as direções, a velocidade e até o modo de conduzir o rebanho. Um cão bem treinado pode conduzir até duzentas cabeças, enquanto que um animal sem treinamento específico tem baixo aproveitamento e desempenha apenas 30% de sua capacidade.
Para a finalidade de pastoreio, além do treinamento, é importante a qualidade do cão e seu destemor no comando de rebanhos. Para isso, é fundamental que o cão seja oriundo de uma linhagem de ‘valentes’ e que tenha ‘força no olhar’, para a capacidade de domínio do cão no manejo de grupos de animais.
Cuidados na compra e no treinamento
– A aquisição de um Border Collie para pastoreio deve ser feita com cuidado e orientação, pois há uma diferença entre as linhas genéticas do cão. Há Border Collies que não trabalham de forma correta com o rebanho. Dê preferência para exemplares com pedigree ISDS (International Sheep Dog Society), irmãos ou filhotes de vencedores de provas de pastoreio credenciados. O preço médio é de R$ 1,5 mil.
– Existem rações específicas para cada fase de desenvolvimento, que podem ser adquiridas em lojas de produtos animais. Leve em consideração a qualidade desse alimento na hora da compra.
– O treinamento pode ser iniciado aos seis meses e sua duração depende do rendimento do cão.
– É indicado ter um bom pátio, um canil coberto e atividades diárias com o cão para que ele gaste as energias.
– O treinamento do Border Collie é realizado por profissionais. No site da Associação Gaúcha de Border Collie (www.agbc.com.br) tem um link chamado ‘Treinadores, Criadores e Canis’ em que podem ser encontrados profissionais que realizam esse trabalho.
Por Danúbia Otobelli