Carrapatos: época é de combater esse parazita que causa prejuízos ao rebanho

Parasita prejudica rebanhos, enfraquecendo os animais além
de transmitir doenças. Tratamentos devem iniciar em setembro

 

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Foto: Divulgação

Um ácaro que pouco se vê aos olhos, o carrapato é um dos principais problemas que prejudica os rebanhos gaúchos, tira o sangue do animal e também o lucro da propriedade. Além de ter uma facilidade para se instalar no seu hospedeiro – os bovinos, o carrapato fêmea libera de 3 a 4 mil ovos que voltam a atacar os rebanhos de forma rápida. Apesar de poucos produtos estarem disponíveis no mercado, essa época de início da primavera é um importante período para começar um tratamento estratégico contra esses parasitas invisíveis, mas atuantes e causadores de prejuízos à indústria coureiro-calçadista, além de perdas na produção de carne, do leite e derivados.

O carrapato se hospeda nos bovinos ainda jovem. Nessa fase se chama mucuim e se instala com a boca, sugando rapidamente o sangue do animal. A vida do carrapato é dividida em duas fases diferentes. A primeira, quando ele está presente nos bovinos, é chamada de fase parasitária. Por ser um parasita sugador de sangue, permanece se alimentando desta maneira por, em média, 28 a 30 dias, quando então inicia a segunda fase, a do acasalamento. Somente a fêmea alimenta-se de sangue, o macho vive junto, praticamente em constante acasalamento, e se alimenta de restos de peles e escamações da vaca. A fêmea fecundada transforma-se em fêmea ingurgitada e, após algum tempo, se solta do animal e cai na pastagem, dando início à fase livre dos carrapatos, a oviposição.

Cada fêmea que cai dos animais libera de 3 a 4 mil ovos, que se transformam em larvas e, novamente, o micuim. A proliferação rápida atende a necessidade de tratamento preventivo dos rebanhos. Além de enfraquecer o animal (uma única fêmea é capaz de sugar cerca de 0,5 ml de sangue por dia e, com uma infestação de 200 fêmeas, considerada pequena, uma vaca pode perder até um litro de sangue em apenas duas semanas), o parasita pode transmitir através do sangue a Tristeza Parasitária Bovina (TPB), uma doença causada por protozoários no sangue e que pode acarretar a morte dos animais. Essa doença hoje é considerada um dos maiores perigos para rebanhos do Rio Grande do Sul, destacando a importância do tratamento e prevenção. Segundo a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), o Estado conta atualmente com 13 milhões de cabeças de bovinos.

Tratamento inicia com o calor
No Rio Grande do Sul são três as principais épocas para o tratamento contra os carrapatos, levando em consideração que com as temperaturas mais elevadas, os parasitas nascem e morrem mais rapidamente e o número deles nas pastagens e nos bovinos será menor. A primeira é no início da primavera (setembro e outubro), depois em pleno verão (janeiro e fevereiro) e, após, na saída do verão para o inverno (abril e maio). De acordo com o médico veterinário Ivo Kohek Junior, do Serviço de Doenças Parasitárias do Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) do Rio Grande do Sul, é de extrema importância que esses tratamentos sejam respeitados e feitos de forma estratégica. “Essas três épocas entre o final e início do ano são propícias para fazer o tratamento carrapaticida nas propriedades. Principalmente agora em setembro, a atenção deve ser redobrada”, destaca. Quando atacado pelo carrapato, o animal apresenta lesões e irritações na pele, além do desânimo causado pelos agentes da TPB.

O veterinário complementa que o produtor não notará o carrapato nos animais ao olhar, por isso respeitar os tratamentos esporádicos é de extrema importância para que o carrapato não tome conta da propriedade. “Atendendo essa recomendação de banhos por ano, nessas épocas indicadas para os tratamentos preventivos, o produtor não precisa ver o carrapato, simplesmente faz o tratamento e evita. Quando se passa a ver sintomas é porque a situação do animal já está terminal”, adverte o veterinário.

 

Como vencer a resistência da praga

Página 15De acordo com o veterinário Ivo Kohek Junior, hoje existem dois tipos de tratamentos principais contra o carrapato. “Um que é o banho ou pulverizações com líquidos que se jogam em cima dos animas, ou uma segunda opção com produtos injetáveis, drogas injetadas no sangue que, ao sugar, o carrapato ingere essa droga e morre. É importante, porém, que o criador faça todo um trabalho para evitar o parasita”, acrescenta Kohek.

O veterinário explica que o ideal seria fazer um trabalho antes de levar novos animais para a propriedade, evitando, assim, a chegada dos carrapatos. Essa, porém, é uma prática difícil no dia a dia do campo. Além disso, existem métodos para identificar qual o melhor tratamento no caso de cada rebanho. “Na maioria dos produtos químicos – os carrapaticidas, os carrapatos já adquiriram resistência, por isso a instrução é que o produtor faça contato com laboratórios onde é feito um teste chamado biocarrapaticidograma. Ele revela qual produto vai agir de forma mais rápida e eficiente, evitando o aumento no número de aplicações, as contaminações ambientais, fora os resíduos na carne e no leite”, enumera Kohek.
O estudo é feito com a coleta de fêmeas na propriedade do criador. Elas devem estar vivas e, no laboratório, são feitos testes com todos os produtos conhecidos no Estado como carrapaticidas. Ao final, o laboratório expede um laudo apontando qual é o produto melhor para aquele rebanho. Além de aumentar os custos com o uso de produtos ineficientes, um tratamento mal feito acaba fazendo com que o carrapato ganhe cada vez mais resistência.

A Embrapa Gado de Leite disponibiliza o teste de biocarrapaticidograma de forma gratuita. O resultado demora cerca de 35 dias. Mais informações pelo telefone (32) 3311.7454 ou pelo email marcia.prata@embrapa.br ou cnpgl.carrapato@embrapa.br. O recomendado é que esse laudo seja feito a cada dois anos, proporcionando uma  radiografia do que a propriedade precisa.

Os banhos
O controle do carrapato deve ser feito nas épocas mais quentes do ano. Uma ação intensiva durante essas estações irá eliminar grande parte de uma geração de carrapatos. Devem ser dados de cinco a seis banhos de carrapaticidas em intervalos de 21 dias ou três tratamentos com o produto pour on (no fio do lombo) em intervalos de 30 dias durante os meses mais quentes. Para os banhos com carrapaticidas, deve-se preparar o produto nas doses recomendadas em pequena quantidade de água, formando uma “calda”.
Depois de bem misturado, esta “calda” deve ser diluída na quantidade de água necessária para o banho. O pulverizador deve ser utilizado com pressão suficiente para formar um jato de água de microgotículas. Isto faz com que todo o animal seja banhado, evitando o desperdício. Ao aplicar o produto, deve-se evitar os dias de chuva e as horas de sol forte. Os carrapaticidas devem ser pulverizados sempre a favor do vento e o operador deve estar protegido com máscaras.

O produtor não deve aplicar os carrapaticidas apenas onde se enxerga o maior número de parasitas. Os carrapatos pequenos estão escondidos em outras áreas do corpo e, se não morrerem, haverá aumento da população. No tratamento com produtos pour on, deve-se conhecer o peso dos animais para que seja aplicada a dose recomendada.

Saiba mais
O carrapato que ataca os bovinos não é o mesmo que se instala em cavalos ou animais domésticos, como os cachorros. Existem diversas espécies do parasita e não somente o bovino, chamado Rhipicephalus (Boophilus) microplus, e que transmitem doenças. Nos cães pode ocorrer a doença chamada Erliquiose, que causa inclusive a morte dos animais. Os banhos e atenção nos outros animais também são importantes nesta época.

De acordo com o Serviço de Doenças Parasitárias do Departamento de Defesa Agropecuária, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, o Estado ainda tem um longo caminho para livrar as propriedades do carrapato. “Temos muitos prejuízos com o carrapato, estamos estudando maneiras de começar a investir mais nesse parasita, pois hoje se faz muito pouco em relação a isso e queremos incrementar para também melhorar o setor”, estima o médico veterinário Ivo Kohek Junior.

 

Por Camila Baggio
camila@editoranovociclo.com.br

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Respostas de 2

  1. Gostaria de saber sobre os produtos homeopáticos ou aqueles a base de enxofre se realmente trás um controle mais eficaz na infestação de carrapatos em bovinos?

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