Clima favorável elevou os atributos de diversas frutas que neste período estão em plena safra.
Cenário econômico, contudo, preocupa produtores na hora da comercialização

Com a estação mais quente do ano, o verão, se acentua o trabalho de agricultores na safra das mais diversas frutas como pêssego, maçã, pequenas frutas como o morango, mirtilo, amora e framboesa. Depois de uma última colheita árdua, onde o clima prejudicou diversas etapas de produção, neste ano fez o frio necessário, sem grandes ocorrências de intempéries como granizo ou fortes ventos. O resultado não poderia ser diferente, aliado ao trabalho do produtor, as fruteiras em geral estão cobertas de frutos e enchem os olhos das famílias produtoras que estariam satisfeitas, não fosse as apreensões pós-colheita. Os preços de comercialização vêm preocupando produtores que muitas vezes não conseguem cobrir o custo de produção. Uma condição resultante especialmente de um cenário econômico onde a palavra crise está sempre ecoando. Confira a seguir um panorama em algumas das principais culturas colhidas nesta época do ano.

Pêssego

Os produtores e irmãos Marcos e Elan Tonet colhem cerca de 140 toneladas de pêssego no município de Nova Pádua
Os produtores e irmãos Marcos e Elan Tonet colhem cerca de 140 toneladas de pêssego no município de Nova Pádua

O pêssego é uma das frutas que está em plena safra, sendo que seu pico é em dezembro, quando se concluem as colheitas das variedades PS cedo, Chimarrita, Chiripá, PS tarde e, a última, a cultivar Eragil. A cidade de Nova Pádua conta com cerca de 180 hectares de área plantada de pêssego, mantidos por 115 produtores, que colhem cerca de 2.912 toneladas da fruta. Assim como outras culturas, o pêssego foi beneficiado pelo clima. “O próprio frio do inverno foi excelente para a produção. Os produtores estavam preocupados com a ocorrência de geadas, mas isso não se concretizou e a floração foi excelente o que exigiu, inclusive, um trabalho de raleio muito grande”, explica o engenheiro agrônomo Willian Heintze, da Emater/RS-Ascar de Nova Pádua. “Quem quiser consumir pêssego neste ano tem à disposição frutas de excelente qualidade e também com menos resíduos de agrotóxicos, pois o clima foi favorável e não foram necessárias tantas aplicações”, complementa o agrônomo.
A notícia não é boa, contudo, no quesito mercado. Com uma safra cheia e mesmo com frutos de excelente qualidade, a procura pelos consumidores está baixa, o que arrasta para baixo o preço da fruta. “Isso vem preocupando os produtores que comercializam o pêssego, que estão optando por guardar a fruta por mais tempo na expectativa de que o mercado se recupere. Muitos estão até colhendo frutas mais verdes, que duram mais tempo em câmaras frias para não ter um prejuízo tão grande”, avalia Heintze. O preço médio está em R$ 1 ao quilo, e as frutas de classe indústria estão difíceis até de encontrar colocação no mercado. O preço é muito abaixo comparado com a última safra, quando os produtores chegaram a receber, em média, R$ 2,50 ao quilo.
Em Nova Pádua, a variedade de pêssego mais comum é a Chimarrita, cultivar muito bem aceita no mercado. A expectativa no município é que a safra alcance a média de 18 mil quilos por hectare.

Produtores esperam melhores preços

É na comunidade do Travessão Leonel, no município de Nova Pádua, que fica uma das principais famílias produtoras de pêssego local. Os irmãos Elan, 27 anos, e Marcos Tonet, 24 anos, auxiliam os pais Antonio e Anita no trabalho com os mais de seis hectares de pessegueiros divididos em quatro variedades diferentes da fruta – PS cedo, Chimarrita, Eragil e Charme –, todas consideradas variedades de mesa, com consumo in natura. A safra dessas cultivares se encerra em dezembro, com exceção da Eragil, que tem colheita em janeiro. A família atribui qualidade a sua produção, que neste ano não sofreu com o ataque de insetos e por isso conta com menos carga de agrotóxicos.
Com uma qualidade de encher os olhos e dar água na boca daqueles que não dispensam um bom pêssego, a principal preocupação da família é exatamente quanto ao preço de mercado. Enquanto que no ano passado o pêssego de mesa superou os R$ 2 ao quilo, neste ano os produtores estão recebendo menos de R$ 1. Para a família Tonet, que já vende a produção classificada e embalada, pronta para chegar ao consumidor final, o preço precisa melhorar. “As expectativas ficam para as últimas semanas de dezembro, com as festas de Natal e Ano Novo”, complementa Elan. A família estima colher nesta safra de 130 a 140 toneladas de pêssego – uma média de 20 toneladas por hectare, uma superprodução se comparada a outros anos. Os pêssegos seguem, na sua maioria, para as Ceasas de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Com uma estrutura com pavilhões, câmaras frias, equipamentos para classificação e embalagem dos pêssegos, a família está se preparando para um novo passo. Em 2017 pretende abrir uma agroindústria com marca e rótulo próprios. “É uma maneira de agregar valor ao nosso produto”, enfatiza Elan, que conta ainda com o auxílio da esposa Adriane. Além dos pêssegos, a economia da família Tonet conta com cerca de três hectares de cebola.

Maçã

Safra da maçã deve superar em qualidade o último ano, ficando na média das 410 mil toneladas colhidas no Rio Grande do Sul em 2015/2016
Safra da maçã deve superar em qualidade o último ano, ficando na média das 410 mil toneladas colhidas no Rio Grande do Sul em 2015/2016

Vacaria tem como principal atividade econômica a fruticultura. O município é o maior produtor nacional de maçãs, sendo destaque ainda na produção de grãos e pequenas frutas. O presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), localizada em Vacaria, Eliseu Zardo Boeno, destaca que a safra da maçã, com início por volta do dia 20 de janeiro, promete ter qualidade superior e quantidades semelhantes às da última safra, quando o Rio Grande do Sul colheu 412 mil toneladas da fruta. A expectativa dos preços é que eles acompanhem a qualidade esperada nesta safra. “Vindo de encontro à qualidade que se desenha, esperamos que o mercado entenda isso e valorize a produção local. Na última safra a comercialização não foi ruim, porém houve a entrada de muita fruta importada, especialmente do Chile, o que desaqueceu o mercado interno. Sabemos que o mercado é dinâmico e busca pelos melhores preços, mas nesta safra teremos mais qualidade, o que esperamos ser valorizado”, estima.
A maçã contou com um período de clima favorável durante o inverno, com condições favoráveis, alcançando a quantidade necessária de horas de frio. Na primavera a floração também se beneficiou pela insolação que atuou de forma excelente na formação das flores. O que estava se desenhando como uma supersafra, contudo, foi prejudicada no final de setembro, quando aconteceu um período de chuvas mais intensas que afetou a polinização. “Não existe ainda um consenso de que fatores fizeram com que houvesse essa quebra na produção das frutas, porém a queda mais acentuada fez com que não se concretizasse a safra de grandes proporções que estávamos esperando, mas sim uma produção dentro da normalidade, e muito próxima da última”, destaca.
Alguns produtores registraram ainda problemas com chuva de granizo, onde a fruta que seria vendida para consumo in natura e com maior valor agregado acaba sendo destinada para a indústria, onde o preço é mais baixo. “Mas salvo estes casos, a maçã terá uma qualidade excelente, uma das melhores em questão de sanidade. A quantidade, por sua vez, ficará na casa da última safra, talvez um pouco superior”, estima. A safra que inicia em janeiro segue até meados de 15 de abril, para as variedades Gala e Fuji – as que dominam o mercado no Brasil.

Pequenas frutas

Vacaria, destaque na produção de pequenas frutas, deve colher aproximadamente 3,5 mil toneladas de morango, amora-preta, framboesa e mirtilo nesta safra
Vacaria, destaque na produção de pequenas frutas, deve colher aproximadamente 3,5 mil toneladas de morango, amora-preta, framboesa e mirtilo nesta safra

Quando se fala em pequenas frutas como morango e framboesa também vem de Vacaria o destaque. O município está no topo da cadeia produtiva das pequenas frutas do Brasil – nesta época vivencia a colheita da safra 2016/2017, onde são colhidas aproximadamente 3,5 mil toneladas de morango, amora-preta, framboesa e mirtilo. Este grupo de frutas é cultivado por mais de 200 famílias oriundas da agricultura familiar e empresas do setor produtivo. “A colheita de amora-preta, framboesa e mirtilo já está em plena atividade desde o início de mês de novembro, além do morango que é produzido durante todo o ano. O destaque do momento é a colheita da amora-preta, onde se espera um ano de excelente produção e com a colheita de frutos de boa qualidade”, adianta o extensionista rural, Nicolas Eigon Brandt, do escritório da Emater/RS-Ascar de Vacaria.
Para essas culturas, na safra deste ano o manejo e controle de pragas, principalmente da mosca das frutas e Drosophila Suzukii, se intensificou desde a pré-colheita, com manejos preventivos através de armadilhas com atrativos, iscas tóxicas na bordadura do pomar, o uso de produtos registrados para as culturas e também produtos orgânicos para o controle de pragas e moléstias. A venda in natura é a melhor comercialização para essas frutas. “Na cultura da framboesa, onde a colheita se prolonga até maio, por se tratar de uma cultura reflorescente com produção de novos brotos e ramos no verão e outono, os preços de vendas praticados pelos produtores são bons e a venda da fruta in natura é o principal atrativo, pois os preços pagos são mais relevantes do que a fruta congelada, que gira entorno de R$ 12 ao quilo congelado”, complementa.
A colheita do mirtilo está em andamento com a colheita das variedades precoces (Southern highbush como O’neal e Misty) e início da colheita nas cultivares intermediárias do grupo Rabitteye. A época de safra se estende até o mês de fevereiro, com a colheita do grupo do Northern highbush, com a variedade Elliot.
No início de dezembro o escritório da Emater de Vacaria realizou, em parceria com a prefeitura, a 14ª edição da Feira das Pequenas Frutas Artesanato e Mel e 4ª Feira de Frutas Nativas. “O evento auxilia os produtores na comercialização dos seus produtos como frutas in natura, geleias, sucos e processados. É uma feira oferecida para a comunidade de Vacaria, onde são expostos também artesanatos regionais, com comercialização de mel nativo da região e atrações artísticas”, complementa o extensionista.

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