Os meses finais de 2009 foram de muita chuva. Em novembro, por exemplo, segundo a estação agroclimatológica da Embrapa Uva e Vinho, o índice de precipitação pluviométrica em Bento Gonçalves foi de 359,5 milímetros – ou quase três vezes mais do que o normal para o período, que é 140 milímetros. Por conta disto, esse foi o novembro mais chuvoso na região desde 1922.
E excesso de chuva, no atual estágio do ciclo da planta (em qualquer um, melhor dizendo), é um fator complicador para o cultivo da videira… “Tem-se ouvido falar de uma incidência muito grande de míldio, a ‘mufa’, região afora”, relata o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Lucas da Ressurreição Garrido, pesquisador em fitopatologia. Além desta, a antracnose e as podridões do cacho são beneficiadas pelo excesso de umidade neste momento de pós-floração da uva, ou seja na fase de ‘grão-chumbinho’, ‘grão-ervilha’ e enchimento da baga. Logo mais, mantido o quadro de umidade alta passarão a se constituir em perigo a podridão da uva madura, também conhecida por glomerella e a podridão ácida. E os riscos são iguais para cultivares americanas, híbridas ou européias, assinala Garrido.
Acrescenta-se ao quadro, negativamente, a ocorrência de vento forte, que também é favorável à disseminação das doenças, por conta do atrito dos ramos, que causa ferimentos nos mesmos e nos cachos e, consequentemente, beneficia a entrada dos fungos nos tecidos das plantas, nota o pesquisador da Embrapa. A chuva, observa ele, acaba ‘lavando’ os resíduos dos tratamentos efetuados com produtos de controle, sejam eles fungicidas sistêmicos ou de contato (estes um pouco mais prejudicados). Como resultado do quadro, completa, os agricultores acabam tendo de retornar às casas agrícolas para a aquisição de volumes suplementares de fungicidas.
Cuidados diferentes conforme o ciclo
Se o quadro é desfavorável, há, contudo, formas de enfrentá-lo. E elas variam de acordo com o tipo de ciclo da cultivar.
Se se trata de variedades de uva precoces (com colheita de 10 a 30 de janeiro), a recomendação, de acordo com o pesquisador Lucas da Ressurreição Garrido, é a utilização, “imediatamente”, de calda bordalesa para combater as infecções do míldio. No caso da calda bordalesa o seu uso deve se restringir a um período de 20 ou 30 dias antes da colheita (para evitar que resíduos de cobre venham a se acumular nos produtos ou mesmo prejudicar a vinificação).Além do controle do míldio, favorece também o amadurecimento dos ramos.
Ainda em relação a castas precoces, para o controle de podridão do cacho deve-se realizar a aplicação de fungicidas sistêmicos recomendados para tal doença, “sempre respeitando o período de carência (o intervalo entre a última aplicação e a colheita) de cada produto”, sublinha Garrido.
Conforme o pesquisador, para cultivares intermediárias e tardias, ou seja, com vindima de meados de fevereiro a meados de março, a ‘receita’ é equivalente. Ela inclui, para controle do míldio, a efetivação de aplicações com calda bordalesa, a cada 20 dias, ou a utilização de outros produtos à base de cobre (como hidróxido de cobre ou oxicloreto de cobre), aplicados a cada sete dias.
Para controle de podridão do cacho, a indicação é efetuar duas a três aplicações de fungicida sistêmico: uma na fase de ‘grão-ervilha’, antes do fechamento do cacho, e uma última de acordo com o período de carência do produto.
A importância da poda verde
Além das medidas de controle químico, em um ano complicado como este é preciso lançar mão de outros recursos. Um deles, indica Garrido, é o uso de poda verde, com desbrota e remoção de ramos muito atacados por doenças, para evitar a disseminação dos fungos a outras partes da planta. “A ideia é reduzir um eventual microclima favorável, no interior da copa, ao desenvolvimento de fungos, bem como um ambiente que funcione como fonte de propagação dos mesmos”, esclarece o pesquisador da Embrapa.
Outra dica é o controle de podridão do cacho por meio do controle de insetos ou pragas que possam ocasionar ferimentos nas bagas, favorecendo, com isto, o ataque por fungos.
Por fim, o pesquisador em fitopatologia apresenta uma orientação geral em caso de granizo / chuva de pedra. Trata-se do seguinte: a pulverização, o quanto antes depois da ocorrência, de fungicida de contato sobre as plantas, para proteção dos ferimentos até sua cicatrização (que demora em torno de sete ou dez dias).