Com primavera chuvosa, atenção quanto ao míldio e à antracnose

 das doenças
Manifestação de míldio nas bagas.

Se o inverno foi bom para o ciclo da videira, com a ocorrência de frio intenso e permanente, favorecendo a brotação, a primavera chegou trazendo preocupações para os agricultores da Serra Gaúcha em geral. Aliás, a nova estação nem havia se iniciado para uma primeira ocorrência de granizo (a 2 de setembro), fenômeno que, se repetindo, assustou ainda mais na noite de 5 de outubro, chegando a causar perdas na produção rural.

 

 

Contudo, ainda mais do que o granizo eventual, o que tem deixado aflitos produtores de uva de toda a região é a chuva, mais recentemente. Por exemplo, em Flores da Cunha, a estação climatológica mantida pela Prefeitura Municipal registrou, em setembro, um índice de precipitação pluviométrica quase três vezes maior do que a média. No mês, a chuva foi de 432,6 milímetros (ante uma média, de 2002 – quando a estação foi instalada – a 2008, de 155,17 milímetros).

 

Para completar o quadro de apreensão, a perspectiva para a primavera, momento da floração (que vai, mais ou menos, de meados de outubro a meados de dezembro), quando o risco de danos ocasionados por doenças, entre elas o míldio, é mais elevado, é de chuva acima da média (a respeito disso, confira, na página ao lado, a coluna A Videira e o tempo na Serra Gaúcha). Nesse sentido, ser rigoroso na aplicação de métodos de controle, desde já até o início da maturação, visando ao controle do míldio e da antracnose, é o conselho dado aos viticultores pelo pesquisador em fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho (da qual também é chefe-geral) Lucas da Ressurreição Garrido.

 

Em relação ao míldio, a mais nociva das doenças fúngicas da videira, no Brasil, sua ocorrência no período de floração pode ocasionar perda total de produção, já que é possível o abortamento das flores e baguinhas. Se ataca as folhas, o prejuízo também é considerável: além da menor produção, a uva acabará tendo prejudicada a sua qualidade, com a diminuição da graduação glucométrica e a acentuação de sua acidez, nota Garrido.

 

Para combater o míldio, indica ele, deve-se efetuar aplicações de fungicidas de ação sistêmica, principalmente na fase de floração, passando a utilizar produtos de contato quando as condições climáticas forem menos favoráveis aos fungos causadores dessa doença, ou seja, com tempo mais seco (e também pelo menor custo dos produtos). O pesquisador observa que um vinhedo bem-manejado, sem uma camada muito densa de folhas, é menos suscetível ao ataque do míldio, já que não terá potencializado um microclima que facilite a infecção pelo fungo causador da doença. De outra parte, por conta da fácil dispersão do míldio pelo vento, não adianta, para combatê-lo, a retirada de restos culturais contaminados. Garrido alerta que, levando em conta a perspectiva de temperaturas “daqui em diante” entre 20ºC e 24ºC e uma maior frequência de chuvas, há, de fato, riscos consideráveis de uma maior disseminação.

 

Quanto à antracnose, conforme o pesquisador, as condições de clima que tem também sido propícias à sua manifestação são as baixas temperaturas que ainda tem ocorrido, associadas aos ventos frios e à frequência das chuvas. Nesse sentido, assinala ele, precipitações pluviométricas esparsas favorecem a germinação do esporo do fungo e sua penetração na planta. No atual estágio de desenvolvimento da videira, o controle passa, igualmente, pela efetivação de aplicações.

 

nem tudo ‘são trevas’. “Se o produtor efetuar as aplicações adequadamente, sendo comum fazê-las uma vez por semana (o que é, geralmente, o necessário), ele conseguirá superar esses riscos”, afirma Garrido. “Mas ele tem que atentar para um detalhe: se aplicar produto de contato e houver mais de 20 milímetros de precipitação, que trate de reaplicar, porque a chuva acaba ‘lavando’ o produto”, segue. O pesquisador ressalta que antes da compra e escolha dos fungicidas a serem utilizados para controle de doenças da videira, o produtor deve levar em consideração o registro para videira, a eficácia dos produtos, a menor toxicidade para o ser humano e para o ambiente, o período de carência, a ausência de fitotoxicidade e o custo. A tecnologia de aplicação também tem uma importância muito grande, pois, caso o fungicida não cubra adequadamente, os tecidos da planta haverá a ocorrência de focos de infecção e, consequentemente, o desenvolvimento dos sintomas. Logo, o pulverizador deve ser bem regulado e manutenções periódicas devem ser efetuadas.

 

Foto: Embrapa / Divulgação

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