Jéssica Zanini e o noivo Moisés Gavineski mantém uma granja com quatro galpões para a criação de perus no interior de Vespasiano Corrêa
Camila Baggio
camila@avindima.com.br
Poucos sabem que a produção avícola do Brasil vai muito além da criação de ovos e frangos. O país está entre os principais produtores de perus do mundo, setor que se intensifica no segundo semestre por ser um prato típico das festas natalinas. O Rio Grande do Sul é responsável por 13% da produção nacional, ocupando a quinta colocação no ranking dos estados que possuem criação de perus. Na cidade de Vespasiano Corrêa, os jovens Moisés Gavineski, 30 anos, e Jéssica Zanini, 25 anos, investiram em um projeto pioneiro na região, com quatro galpões e capacidade para mais de 50 mil aves (quantidade que varia dependendo do gênero – macho ou fêmea). Os resultados vão muito além da lucratividade, mas também na sucessão familiar na agricultura.
Moisés e Jéssica moram com a família Gavineski, os pais Geninho, 55 anos, e Cleriane, 51 anos, na Linha Ernesto Alves, interior do município. Eles investiram mais de R$ 1 milhão na aquisição da área da granja e na readequação dos galpões. Mais do que um projeto inédito na região alta do Vale do Taquari, a iniciativa incentiva os jovens a permanecerem na colônia. “A granja onde hoje criamos os perus antigamente pertencia a um grupo para a criação de matrizes. Há cinco anos estava desativada e a empresa colocou a área à venda e, por ser divisa com as terras do meu pai, ficamos interessados. O propósito era vender para alguém que mantivesse a criação de perus para o próprio grupo, foi aí que começamos a pesquisar sobre a viabilidade do negócio, que até então era desconhecido na nossa região”, conta Moisés.
São quatro galpões que totalizam 6,2 mil metros quadrados (m²). “Nos machos são cerca de três animais por m² de área, o que resulta em 19,2 mil animais. Já as fêmeas são seis por m², totalizando 37,2 mil animais. Iniciamos nossa criação em setembro, com um lote casado com dois galpões de fêmeas – estas permaneceram cerca de 30 dias conosco –, e dois com machos que ficam 110 dias. Hoje, esses machos foram distribuídos nos quatro galpões onde devem ficar até o dia 20 de dezembro. Ressalto que, além de machos e fêmeas, também podem ser criadas fêmeas pesadas, que ficariam 80 dias na nossa granja. Cada lote é de uma forma diferente que varia de acordo com a demanda da empresa da qual somos integrados. Neste caso fizemos lote casado, mas pode ser feito separado, somente macho ou fêmea”, explica o produtor. O abate dos animais é realizado pela Seara Alimentos, em Caxias do Sul.
A rotina diária
Além da lida diária com os perus, a família Gavineski também tem criação de frangos de corte e lavoura de soja e milho. O trabalho é dividido para uma melhor organização da propriedade e também por questões sanitárias. “Devemos tomar muito cuidado para não levar doenças suscetíveis de um tipo de ave para a outra ou de um lugar para o outro”, conta o produtor Moisés. A rotina de trabalho inclui vistorias de três a quatro vezes por dia nos galpões, recolhendo aves mortas ou machucadas, além da leitura dos hidrômetros e termômetros, que mostram o consumo de água e as temperaturas (máxima e mínima). “Mais ou menos até os 100 dias de vida mexemos a cama dos aviários uma ou duas vezes por semana de acordo com a necessidade. Depois desta idade, devido à grande densidade das aves, esse trabalho fica difícil. No restante do tempo fizemos manutenções, limpezas nos entornos dos galpões, controle de roedores, e assim por diante”, lista Moisés.
A lucratividade do negócio do jovem casal está por vir, o que não deve demorar em função da grande área e número de aves alojadas. O fator é determinante para mantê-los na agricultura. “O nosso cuidado é imprescindível para um melhor desempenho das aves, nos rendendo mais lucro. Ainda estamos pagando o investimento feito, mas sabemos que tem tudo para dar certo”, comemora Moisés, que, apesar da pouca idade, já foi vereador por dois mandatos e está concluindo o curso de Engenharia de Produção. Jéssica é formada em Ciências Biológicas e hoje cursa Pedagogia. Para eles, o ensino superior agregou no negócio próprio, principalmente na gestão de custos.
Para as épocas de final de ano, o produtor explica que o alojamento das aves, muda pensando na maior criação das fêmeas leves, que são vendidas como peru natalino. “Tem toda uma programação diferenciada para que essas fêmeas cheguem ao mercado um tempo antes”, explica. Para o futuro, a família pretende se estabelecer financeiramente e então partir para ideias que aumentem a capacidade produtiva da granja. O projeto recebeu incentivo da Prefeitura de Vespasiano Corrêa, como isenção do Imposto de Transferência de Bens Imóveis (ITBI), além de fornecimento de horas-máquinas para terraplanagem e brita.
Saiba mais sobre a ave
– Todas as aves chegam à propriedade de Moisés e Jéssica com aproximadamente 30 dias de vida.
– As chamadas fêmeas leves (peru natalino) ficam na granja por mais 30 dias, até atingirem um peso aproximado de 4 a 4,5 kg. Esta produção requer mais cuidado, pois como a carcaça é vendida inteira não pode ter nenhum arranhão.
– As fêmeas pesadas permanecem 80 dias na granja e chegam ao peso de 12 a 13 kg.
– Os machos são mantidos até o 110º dia de vida, quando atingem cerca de 20 kg.
– Moisés explica que esses valores são aproximados, já que a idade e o peso variam de acordo com a necessidade da empresa e as questões sanitárias do lote.
Os números do setor
Em 2016, de acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o país produziu 367,9 mil toneladas da carne – maior produção dos últimos quatro anos. O destino dessas aves é 62% no mercado interno e 38% exportado para países como África do Sul, Chile, Uruguai, Coréia do Sul, Rússia, Espanha e Itália.
A produção brasileira se concentra nos Estados do Paraná (29%), Goiás (23%), Santa Catarina (21%), Minas Gerais (13%) e o Rio Grande do Sul (13%). No país são aproximadamente 2,5 mil produtores e cinco centros industriais, sendo que estes centros são de apenas duas empresas. O desafio do setor é ampliar o negócio doméstico, que consome apenas 1,7 quilo de peru per capta por ano.
A ABPA quer incentivar o consumo do peru também durante o ano, para que o consumo da ave não fique restrito às festas natalinas, quando o setor aquece para abastecer as mesas e ceias de Natal.