Tomar remédios por conta própria pode resultar em problemas graves para a sua saúde. Atenção também com as plantas medicinais
Não é difícil nem raro recebermos diversos diagnósticos quando estamos com algum problema de saúde e conversamos com amigos, vizinhos ou até mesmo familiares. Junto com os diagnósticos vêm dicas e mais dicas de medicamentos que podem resolver seu problema rapidamente. Mas, cuidado, é exatamente nesta fase que, ao invés de melhorar, você pode agravar ainda mais a sua saúde, ocasionando desde uma intoxicação medicamentosa, até acidentes vasculares cerebrais, piora no quadro clínico e aumento das dificuldades para combater doenças já instaladas no seu organismo.
A orientação é uma só, mesmo para aqueles Medicamentos Isentos de Prescrição, os MIPs, é fundamental buscar a ajuda de um profissional da saúde para evitar erros que podem ser irreversíveis. Para moradores de zonas rurais, onde a automedicação é relativamente maior em função da distância dos centros de saúde e dos profissionais da área, as terapias alternativas são as principais formas de tratamento, como as plantas medicinais. Contudo, a falta de informações adequadas sobre as propriedades dessas plantas ou seu consumo concomitante com os medicamentos tradicionais pode ocasionar problemas sérios de saúde.
A farmacêutica Marlei Baggio, de Caxias do Sul, aponta que entre as classes de medicamentos mais procuradas na automedicação estão os analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios, descongestionantes, anti-helmínticos, antimicóticos e corticódes. A lista de problemas que a automedicação pode causar é longa. “Estudos do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) mostram que os medicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações, à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos”, reconhece a profissional. Além das intoxicações, a automedicação pode ocasionar ainda reações alérgicas; gastrites e/ou úlceras; acidentes vasculares cerebrais (AVC); desenvolvimento de resistência medicamentosa (especialmente no caso de antimicrobianos); aumento dos efeitos adversos; dependência física e/ou psicológica (especialmente no caso de psicotrópicos); combinação inadequada de medicamentos (onde um medicamento pode anular ou potencializar o efeito de outro); piora do quadro clínico; aumento das dificuldades para combater doenças já instaladas; entre outros problemas.
Seja consciente
A automedicação pode ser definida como a seleção e uso de medicamentos para tratar sintomas e doenças identificadas pelo próprio usuário ou pelo seu responsável, por sua iniciativa ou por influência de outros usuários, sem a prescrição por profissional habilitado (médico, dentista ou farmacêutico). De uma maneira geral, após a experiência positiva com determinado medicamento, os usuários passam a selecionar este remédio sempre que surge uma condição análoga. Inclusive para aconselhar amigos e familiares. E aí mora o perigo. “Todo medicamento pode causar efeitos colaterais que surgem dependendo da resposta do organismo e da dosagem. Já dizia o médico e alquimista Paracelsus: ‘a dose correta é o que diferencia um veneno de um remédio’. Uma dose acima da indicada, administrada por via inadequada ou para fins impróprios, pode transformar-se em algo perigoso. A resolução desse problema passa pela conscientização da importância de um trabalho mais estreito entre médicos e farmacêuticos, resultando em benefícios para a saúde no âmbito de promoção e prevenção, e não somente no tratamento”, salienta a farmacêutica Marlei Baggio.
A profissional explica que, segundo estudos recentes, a prática da automedicação não distingue classe econômica – apenas os motivos são distintos. Entre eles estão maus hábitos culturais (indicações feitas por outros usuários de medicamentos); facilidade de compra de medicamentos sem receituário médico; e uso de receitas emitidas anteriormente, apesar de não terem especificações de uso contínuo. A teoria de que plantas medicinais não prejudicam a saúde também é errônea. É importante salientar que são os componentes químicos das plantas que garantem sua ação no organismo, portanto, deve-se ter o mesmo cuidado que o com medicamentos industrializados. “Sugere-se que a população utilize apenas plantas com reconhecidas propriedades benéficas e que sempre informe seu médico sobre o uso desta terapia alternativa, uma vez que a mesma pode interferir no tratamento medicamentoso”, explica.
Automedicação responsável
A farmacêutica Marlei Baggio explica ainda que existe a automedicação responsável, quando o paciente trata seus problemas de saúde com os MIPs aprovados pela Anvisa, em sintomas agudos autorreconhecidos e condições recorrentes com diagnóstico médico inicial. Essa prática ajuda a evitar congestionamentos nos serviços de saúde, além de representar economia para o paciente. “Porém o indicado é sempre buscar a ajuda de um profissional da área da saúde para evitar erros que podem ser irreversíveis. É importante salientar que os sintomas variam de pessoa para pessoa e que os diversos medicamentos disponíveis exigem uma utilização personalizada”, recomenda.
Para Marlei, não há como acabar com a automedicação, mas existem, contudo, meios para minimizá-la. “Programas de orientação para profissionais de saúde e população em geral, além do estímulo à fiscalização apropriada são fundamentais nessa situação. O farmacêutico, por sua vez, é um importante profissional de saúde, capacitado a informar ao consumidor sobre os riscos potenciais relacionados ao seu uso. Ele também pode ajudar a identificar se os objetivos terapêuticos esperados estão sendo alcançados de forma a contribuir para garantir a efetividade do tratamento. Este é o último profissional a entrar em contato com o paciente antes do início do tratamento, portanto seu papel social torna-se essencial”, finaliza.
Camila Baggio
camila@avindima.com.br
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