Dedicado à vitivinicultura no Vale do São Francisco

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Enólogo Flávio Durante é natural de Pinto Bandeira e há oito anos atua
como gerente da Vinícola Terranova, da Miolo Wine Group, na Bahia

Camila Baggio

O enólogo Flávio Durante trabalha com mais de 200 hectares de vinhedos localizados na Bahia e que passam o ano em produção. O resultado: excelentes espumantes e vinhos, muitos deles premiados
O enólogo Flávio Durante trabalha com mais de 200 hectares de vinhedos localizados na Bahia e que passam o ano em produção. O resultado: excelentes espumantes e vinhos, muitos deles premiados

Quem acompanha o roteiro da novela ‘Velho Chico’ da Rede Globo vai se familiarizar com a história do personagem desta edição da série ‘Cultivando Terras pelo Brasil’. Na teledramaturgia, surgem nas margens do Rio São Francisco um dos mais importantes cursos d’água do Brasil e da América do Sul, a produção de diversas culturas frutíferas, entre elas as potencialidades dos vinhedos. Fora das telinhas, sem coronéis e desavenças, o terroir do Vale do São Francisco conserva sua característica atípica. Além das latitudes, onde geralmente se produz vinhos com sol o ano inteiro, é a única região do mundo onde se trabalham duas safras ao ano.

Os vinhos produzidos nesta região possuem uma jovialidade única e particularidades locais que a Miolo Wine Group, com sede em Bento Gonçalves, percebeu quando fez o endereço, no município de Casa Nova, na Bahia, se tornar um dos seus seis projetos distribuídos em cinco regiões vitivinícolas brasileiras: Vinícola Miolo (Vale dos Vinhedos, RS), Seival Estate (Campanha, RS), Vinícola Almadén (Campanha, RS), RAR (Campos de Cima da Serra, RS) e Vinícola Terranova (Vale do São Francisco, BA, antiga Ouro Verde).

É nesta vinícola, e neste cenário lindo que, há oito anos, atua o enólogo Flavio Durante, 44 anos. Durante é natural de Pinto Bandeira – antigo distrito de Bento Gonçalves, hoje município, na Serra Gaúcha. Em outubro de 2008, o profissional aceitou o convite da Miolo em assumir o cargo de gerente da unidade no Vale do São Francisco. Desde então, trabalha com os vinhedos na Bahia e mora a pouco mais de 40 quilômetros dali, na cidade de Petrolina, no Estado de Pernambuco, ao lado da esposa Carine Skrepec e dos filhos Mateus e Willian. O enólogo é o responsável pelas linhas da Terranova, que tem 85% de seus investimentos voltados aos espumantes.

Para ele, além das novidades na rotina diária do novo Estado, trocando o friozinho do Sul pelas altas temperaturas do Nordeste brasileiro, estavam os desafios de uma produção vitivinícola totalmente diferenciada. “Com o convite, resolvi aceitar o desafio. No início, como sempre, tudo foi uma questão de adaptação no âmbito profissional e pessoal. Na questão pessoal, foi desafiante nos acostumarmos ao clima no semiárido nordestino, onde a temperatura é alta todo ano e umidade é baixa. No lado profissional, foi uma grande surpresa chegar ao sertão e ver o bioma caatinga sobrevivendo à falta de água (média de chuva de 300-500 mm/ano) e ao mesmo tempo ver um oásis devido à irrigação que o Rio São Francisco proporciona às mais variadas culturas existentes no Vale do São Francisco como manga, uva, goiaba, acerola, coco, banana e maracujá”, conta Durante.

Duas safras por ano

Vinícola Terranova
Vinícola Terranova

Dentre as principais experiências do enólogo Flávio Durante na Bahia, ele destaca o manejo dos vinhedos e a enologia diferenciada e que exige expertise para lidar com um clima tão diferente do já familiarizado na Serra Gaúcha. O resultado é incontestável: grandes grupos nacionais e internacionais se estabeleceram por lá e produzem uma diversidade considerável de castas vinícolas. “Foi um aprendizado elaborar vinhos em uma região de clima tropical, totalmente diferente das demais, na qual é possível produzir duas safras ao ano, devido à carência de inverno que provoca a dormência do vinhedo”, explica Durante.

O que acontece no Vale do São Francisco é que, devido à ausência de inverno, as plantas estão sempre em atividade. Enquanto que na Serra Gaúcha a videira descansa no inverno e produz no verão, no Vale do São Francisco o descanso da vinha é de 40 dias, em média. Com isso, pode-se obter até duas safras e meia por ano. Períodos curtos, no entanto, não resultam em vinhos inferiores: a nova e improvável região produz vinhos e espumantes premiados. Na Vinícola Terranova são produzidos anualmente 2 milhões de litros entre espumantes e vinhos em 200 hectares de vinhedos próprios das variedades Syrah, Tempranillo e Grenache (tintas) e Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Moscato Itália (brancas), todos irrigados por sistema de gotejamento.

Os protagonistas desse trabalho são os espumantes e vinhos. “Aqui o aprendizado é constante. A cada dia se descobrem coisas novas, especialmente no manejo dos vinhedos e do solo. Isso muda totalmente se comparado ao trabalho no Sul do país devido ao clima. Existem variedades que não se adaptam, então o desafio maior é no vinhedo. Aqui estamos em safra praticamente todo o ano, sempre elaborando e podendo programar o vinhedo para produzir todo o mês”, conta o enólogo.

Flávio tem familiares em Bento Gonçalves e conta que costuma retornar para a cidade natal uma ou duas vezes ao ano para visitá-los. Das coisas que despertam a sua saudade da Serra Gaúcha, ele destaca algumas. “Com certeza a distância dos familiares, da cultura, da gastronomia e um pouquinho do friozinho da Serra Gaúcha”, diverte-se.

Sobre o Vale do São Francisco

A produção vitivinícola no Vale do São Francisco teve início na década de 1970 e hoje a região só perde para o Rio Grande do Sul na produção de vinhos finos no Brasil. O Vale do São Francisco quebrou o tabu de que seria impossível produzir vinhos em locais de clima tropical ou, mais especificamente, onde o clima não é temperado ou pelo menos próximo disso, como acontece no Vale dos Vinhedos. Essa rica produção agrícola, com uma infinidade de frutas está diretamente ligada ao Rio São Francisco, popularmente conhecido por Velho Chico. São suas águas que servem como alimento para as plantações através da irrigação.

O Velho Chico nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e possui uma extensão de 2,8 mil quilômetros. Atravessa cinco Estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, passando por 521 municípios. O rio desemboca no Oceano Atlântico. Além da sua importância agrícola, o São Francisco é usado, em alguns trechos, para navegação e também garante o sustento de muitas famílias de pescadores.

Mande sua dica
Nos ajude a mostrar histórias de mais personagens na série ‘Cultivando Terras pelo Brasil’. Se você conhece alguma família que deixou sua cidade de origem na Serra Gaúcha e hoje trabalha longe daqui, envie sua dica para o email camila@avindima.com.br ou entre em contato pelo telefone (54) 9983.3588.

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