Primeiramente minha saudação a todas e a todos.
A nossa Diocese de Caxias do Sul, desde há muito tempo, tem colaborado com a construção e solidificação do modelo de Agricultura Familiar, baseado na Cooperação, através de muitas e variadas ações, mas sempre com motivação Pastoral nas Comunidades, nos Grupos de Famílias, de Mulheres e Jovens da Agricultura Familiar, contribuindo, inclusive na consolidação de muitas dessas Entidades Cooperativas e Associativas. Hoje, ainda estamos empenhados, como Diocese, no fortalecimento do espírito cooperativista. Entretanto, fica cada dia mais evidente a necessidade de novas motivações, novos métodos, novas alegrias e um novo modelo para a Agricultura de nossas realidades rurais. Se uma outra agricultura familiar é possível, também um renovado e necessário cooperativismo é possível. Sinto uma angústia grande em ver Cooperativas sendo leiloadas, fechadas. Me angustia por demais, ver Famílias perdendo safras por vários motivos, que vão corroendo a realidade da Família Agricultora.
Por isso, queremos reafirmar e assumir estes PRINCÍPIOS da nossa intervenção como Igreja, neste serviço:
1) Construir uma visão motivadora da agricultura familiar como um todo, para uma base mais ecológica e de um melhor relacionamento com os ecossistemas naturais; 2) Implementar uma possível combinação entre saber científico e o saber popular; 3) Reconstruir a viabilidade econômica e social da Agricultura Familiar; 4) Famílias, a construção de novos princípios e práticas de integração entre: famílias agricultoras e consumidores, a sociedade civil organizada, o poder público e o mercado, a vida rural e a urbana; 5) Aumentar e fortalecer as parcerias com pastorais, entidades e ONGs afins, poder público e outros.
O objetivo e como entendemos hoje nossa Missão e presença da Comunidade-Igreja nessa realidade
O objetivo de um serviço e/ou pastoral de caráter voltado para a agricultura familiar, necessariamente tem que ser a ação resgatadora e evangelizadora do povo de Deus das Comunidades, dos Grupos de Jovens e Mulheres das famílias associadas às Cooperativas e Sindicatos, comprometidas em:
Promover, Preservar, Defender, Cuidar, e Celebrar a Vida, a fim de que tenhamos como ponto de luz a nos iluminar, a profética opção pelo associativismo cooperativo.
Para tanto, é necessário participar da reconstrução e do rejuvenescimento das Cooperativas, das associações, dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e das comunidades, em vista de um mundo justo e solidário.
Sobre isso, o Papa Francisco nos lembra, como disse à juventude: “solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase parece um palavrão: solidariedade”, a serviço da vida e da esperança.
E de novo fazemos nossas as palavras do Papa aos jovens, “…para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança”.
Nós, todos e todas, da Igreja e das Entidades de apoio à Agricultura Familiar, precisamos revolucionar as Comunidades da agricultura familiar, atendendo o recado do Papa Francisco aos jovens no Rio: “…jovens se “rebelem” e sejam “revolucionários” contra a “cultura do provisório”. Peço que vocês remem contra corrente, que se rebelem contra essa cultura do provisório”. “Tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. E também peço que vocês tenham a coragem de serem felizes”.
Depois animou a Eles, e agora anima a nós, dizendo: “…por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e crescer. Sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”, nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Queridos jovens, o Senhor hoje os chama. Não a muitos, mas a você, a você, a você, a você… a cada um. Escutem-no no coração”.
Ou seja, o nosso objetivo deve ter presente que precisamos promover as boas práticas agrícolas e uma agricultura familiar com base ecológica tendo como parâmetros: 1) A preservação e reconstituição das bases ecológicas de sustentação dos agroecossistemas e dos ecossistemas naturais; 2) A viabilibilidade econômica e social da agricultura familiar; 3) A construção de relações solidárias, transparentes e justas entre os diferentes agentes e entidades envolvidas na produção de alimentos; 4) O fortalecimento da autonomia e cidadania das populações rurais e urbanas na construção de uma nova economia, popular e solidária, e de um desenvolvimento social baseado na valorização da família agricultora, do trabalho e no respeito à vida em todas suas diferentes manifestações; 5) Ressignificar e repensar o cooperativismo das famílias associadas e, ao mesmo tempo, redimensionar a nossa capacidade para aumentar o número e o volume de famílias cooperadas, na agricultura e na cidade, através da idéia do consumo consciente para uma melhor qualidade de vida. Se queremos a paz na roça e na cidade, é bom lembrar mais uma vez as palavras do Papa Francisco, orientando neste sentido: “Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”.
Em curto prazo, o que pretendemos alcançar com este projeto de Evangelização e de animação cooperativista?
1. Reforçar e estreitar a parceria e as relações de compromisso entre as Entidades de apoio à Agricultura Familiar, primeiro com Fecovinho e Centro Ecológico, e depois com as demais do setor;
2. Promover e divulgar as boas atividades que estão ocorrendo, tipo grupos de boas práticas do ATER (assessoria técnica e extensão rural), associações de agricultores ecologistas, Grupo de Saúde nas Comunidades, hortas de ervas medicinais nas comunidades e retomada das hortas caseiras;
3. Celebração de festas das sementes crioulas nas Comunidades e/ou Paróquias-Municípios, mas especialmente a partir das Entidades Cooperativadas e Associadas;
4. Capacitar e acompanhar os agentes ou pessoas dos Grupos de Mulheres e Jovens, de Prevenção, de boas práticas agrícolas, Saúde das Comunidades em vista de fazerem um bom serviço de animação e prevenção, bem como assessorar e articular as pessoas e lideranças envolvidas nos grupos, entidades e atividades;
5. Encaminhar pessoas e/ou lideranças para participarem e intervirem nos Conselhos municipais que decidem sobre políticas públicas de agricultura, de saúde, de meio ambiente e outras afins com a agricultura familiar, promovendo debates e/ou seminários de estudos e reflexão sobre participação popular em processos de controle social, de justiça social e de participação nas decisões de políticas públicas e sociais;
6. Fortalecer a consciência dos Grupos para: Ressignificar a mística e a espiritualidade próprias para a agricultura familiar, nos grupos, nas Comunidades e Entidades; O espírito cooperativista da família agricultora; Aumentar a consciência crítica, para poder ter senso crítico diante da realidade e dos desafios que esta nos impõe e propõe; A prevenção e a recuperação da saúde e qualidade de vida; Resgate da medicina natural e tradicional e comunitária; Preservar da biodiversidade (cuidar da água, das plantas, da terra, das sementes, das pessoas, dos seres vivos, agricultura ecológica, etc);
Apresentação sintética do Projeto
Apoiamos a parceria existente entre Diocese, Centro Ecológico e Fecovinho, que está desenvolvendo um serviço de organização e articulação de atividades e eventos, ao qual chamamos de “Missões nas Cooperativas”, o que envolve ao menos 5000 famílias da Região e está sentindo a falta da participação da Mulher e dos Jovens nas ações das Comunidades-Igreja, Cooperativas e Entidades, muito aquém do desejado ou possível, onde o trabalho de base foi insuficiente, ou seja, pouca sensibilização/mobilização para o espírito cooperativista, comunitário e/ou coletivo.
Vendo isso, sentimos a urgência de promover a participação das mulheres e jovens na ação cooperativista e associativista, mas para que possamos ter essa presença ativa, antes devemos encantar Mulheres e Jovens em grupos de sensibilização, mística e motivação, junto com ações concretas de transformação da realidade, partindo do espaço assim chamado das Comunidades-Igreja ou dos grupos de famílias associadas que residam mais perto, primeiramente com encontros de formação, de reforço de uma mística e/ou espiritualidade bíblicas e próprias, para daí possibilitar atividades e eventos nas Entidades e na Sociedade em geral é um meio bom e necessário de desenvolvermos.
Mas o grande objetivo é que possamos reunir as mulheres e jovens e a família agricultora em grupos e iniciar esse processo de ajudarmos no sentido de conseguirmos ver a Família toda participar ativamente da Cooperativa e das Entidades que lhe são próprias, promovendo-as para uma participação cidadã efetiva, desenvolvendo um novo jeito de toda a Igreja ser e, consequentemente, uma nova agricultura familiar é possível servindo como porta de entrada para iniciarmos o trabalho de mobilização e renovação necessários na nossa época.
Caxias do Sul, 4 de agosto de 2013, festa do Dia do Padre.
Dom Alessandro Ruffinoni
Bispo de Caxias do Sul