O produtor Ernesto Pilatti, natural de Nova Pádua, resolveu deixar para trás as baixas da vitivinicultura e hoje, depois de 56 anos, descobriu a lucratividade das terras da cidade de Paraíso, em Santa Catarina
Uma época onde a uva “não valia nada” foi o incentivo para que o agricultor Ernesto Pilatti, 79 anos, e a esposa Adélia Bordin Pilatti, 77 anos, decidissem largar o cultivo das videiras e buscar um futuro com mais condições econômicas. O casal, natural de Nova Pádua, partiu da Serra Gaúcha em 1960, na companhia de um irmão de Ernesto que também resolveu deixar as dificuldades já tão conhecidas para trás. O novo destino, contudo, não foi tão acessível, era necessário desmatar a área de terras para depois começar uma produção no, então, distrito Paraíso, que na época pertencia à cidade de São Miguel do Oeste, situada na região Oeste de Santa Catarina. Aos poucos, as dificuldades foram sendo enfrentadas.
Ernesto é natural da comunidade do Travessão Bonito, Nova Pádua. Desde pequeno, ele viu o sustento da família provir da agricultura. Porém, o passar dos anos, o dia a dia o fez perder o estímulo pela terra da qual conhecia tão bem. “A uva tinha um baixíssimo preço, não valia nada. Eu já estava casado com a Adélia e nossas famílias tinham terras em Santa Catarina – estava muito difícil conseguir comprar colônias onde estávamos morando, então acabamos optando por tentar a vida em outro lugar”, conta Ernesto. A família pagou frete a um caminhão e partiu para o novo lar. Além de roupas, móveis e objetos, levaram também algumas galinhas e porcos.
A chegada, como na maioria das vezes, não foi fácil. A área era de mata fechada e o trabalho para desmatamento precisou ser braçal. Adélia ajudava como podia, afinal o casal já tinha sua primeira filha, Vanice, com pouco mais de dois anos, além de a matriarca carregar consigo, aos sete meses de gestação, a segunda filha, Ivete. “Sofremos muito nesta época, a exemplo dos imigrantes italianos quando chegaram ao Brasil. Era só mato fechado e precisamos colocar tudo abaixo com ferramentas manuais, primeiro para construir a casa, depois a lavoura”, conta o agricultor.
Adversidades e muito trabalho
Depois de desmatar uma área de cerca de 2,5 hectares, as primeiras culturas plantadas foram o milho e feijão. O preço estava em alta e era já uma grande diferença do trabalho com as uvas. “Teve um ano que a safra de feijão foi muito boa. Para conseguir guardar tudo, espalhamos o feijão dentro de casa, no chão mesmo. Vendi para um comerciante e acabei não recebendo um real. Na época, além do trabalho pesado, era difícil fazer negócios, pois tudo era longe e vinham muitos compradores de fora”, recorda Ernesto. A mudança da família aconteceu em 1960 – há mais de 56 anos. As colônias ficavam na comunidade de Grápia, interior de Paraíso, que era então distrito da cidade de São Miguel do Oeste. “Tudo era muito longe. A cidade era pequena, não tínhamos muita estrutura, era longe do comércio, mais de 40 quilômetros de ônibus – que ia apenas nos dias secos, porque a estrada não permitia passar em dias de chuva de tão precária que era”, relembra Ernesto. Os porcos levados de Nova Pádua foram vendidos para comprar uma mula que ajudava no trabalho e também servia como transporte para vender a produção na cidade.
Cada saco de milho e feijão era levado até São Miguel do Oeste, cerca de 30 quilômetros em picadas de cavalo. “Hoje as coisas mudaram muito. Paraíso virou uma cidade desenvolvida, com comércio e indústria fortes e temos estradas asfaltadas e muito boas. Nem parece o lugar onde chegamos há mais de 50 anos. Na época, só não voltamos porque não tínhamos dinheiro, porque as dificuldades foram muitas”, complementa Adélia. A produção e as vendas da família foram crescendo e Ernesto chegou a vender produtos até na Argentina, que por ser divisa com São Miguel do Oeste, tem uma proximidade muito grande entre os dois países. Os negócios começaram a valer a pena e foram complementados com a compra de uma trilhadeira de milho – aquisição feita em conjunto com algumas famílias. “Trabalhávamos muito durante a noite. Pedi dinheiro emprestado para comprar, mas valeu a pena”, garante Ernesto.
Além de feijão e milho, em 1965 a família começou a plantar soja e também a trabalhar com suínos. Daí por diante as mudanças na propriedade e nos negócios foi somente positiva. Onde eram 30 hectares de colônia, hoje são 120 hectares de muita rentabilidade. “Aos poucos fomos comprando as colônias próximas da nossa. Hoje, trabalhamos com soja, milho, criação de suínos e gado em confinamento também para corte. São cerca de 200 cabeças de gado e maquinário para plantar, colher e tudo o que precisar”, destaca Ernesto. Além disso, a família vende aproximadamente 8 mil litros de leite ao mês.
Ernesto e Adélia têm cinco filhos: Vanice Pilatti Mazarotto, Ivete Pilatti Marin, Salete Pilatti, Gilmar Pilatti e Odete Pilatti Ballico. Hoje, são nove netos e o trabalho na colônia conta com o auxílio do filho Gilmar, da nora e netos. “Hoje, estamos muito contentes. Construímos nossa vida aqui e nossos filhos também estão estruturados. Valeu a pena tentar uma realidade diferente”, valoriza Adélia.
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Por: Camila Baggio – camila@avindima.com.br