Época de condução e amarração dos ramos na viticultura

Uma das modalidades de poda verde, procedimento deve ser feito
até a primeira quinzena de dezembro, antes do início da maturação

A época, na viticultura, é de condução e amarração dos ramos da videira. Com o procedimento, no qual se conduzem e amarram os ramos, visa-se à organização das brotações do ciclo, que devem ficar de modo paralelo entre si, para se evitar sobreposições de brotos e folhas – e, consequentemente, autossombreamentos, que comprometeriam o microclima no parreiral no período de maturação/colheita. “Além disso, a condução e amarração adequada dos ramos facilitará a realização da modalidade seguinte de poda verde, que é o desponte, aumentando a eficácia desse manejo”, explica o pesquisador em fisiologia vegetal da Embrapa Uva e Vinho Henrique Pessoa dos Santos. A condução e amarração, observa o pesquisador, deve ser feita desde o momento em que os ramos do ano apresentam cinco folhas até duas ou três semanas antes do início da maturação (neste ano, respectivamente, desde meados de outubro até a primeira quinzena de dezembro).
Já o desponte, que consiste no corte da ponta de cada ramo, deve ser efetuado pouco antes do início do amadurecimento da uva. Pessoa dos Santos assinala que tal modalidade de poda verde pode ser antecipada, especificamente em áreas de vinhedo que estejam muito vigorosas. Mas é necessária muita cautela: “Um desponte muito precoce combinado ao vigor em excesso das plantas estimula as brotações laterais (feminelas) em demasia, o que também compromete o microclima no parreiral em termos de luminosidade, ventilação e umidade”, diz o pesquisador.
Ele destaca que é muito importante que o produtor preste atenção ao desenvolvimento da videira, tanto em termos de surgimento de brotos laterais, quanto na continuidade do crescimento apical do ramo, após o início da maturação, no final de dezembro/começo de janeiro. Se a planta ainda apresentar desenvolvimento ativo e vigoroso durante o amadurecimento da uva, determinando a continuidade de novos despontes, é porque a videira está em desequilíbrio. “Se a planta estiver demandando muito desponte, o viticultor deve atentar para outros aspectos, como eventuais excessos na adubação nitrogenada e/ou na irrigação ou, ainda, em relação à poda seca/de inverno”, ressalva o pesquisador. Ele anota que em condições de alto vigor a poda seca/de inverno não deve ser drástica – ou seja, deixando-se um número de gemas muito pequeno por planta. Com a restrição no número de gemas e em uma condição de alta disponibilidade de nitrogênio (adubação química ou orgânica), a planta é estimulada a emitir um vigor excessivo e com muita exigência de poda verde para controlar o crescimento.
A poda verde – da qual faz parte, ainda, a desbrota inicial (confira mais adiante) – deve ser considerada como uma ‘ferramenta de ajuste fino’ da planta, para que se possa garantir um microclima favorável no momento da safra. “Contudo, se qualquer das modalidades de poda verde estiver sendo muito demandada, é porque outros problemas de manejo estão ocorrendo na área”, ressalta Pessoa dos Santos.

Por uma viticultura sustentável
Com a poda verde feita corretamente, promovem-se uma maior exposição dos cachos à radiação solar, menor tempo de molhamento do vinhedo após a ocorrência de chuva, menor umidade relativa do ar e maior nível de exposição dos cachos e das folhas aos tratamentos fitossanitários. “Esse conjunto de benefícios aumenta consideravelmente a eficácia das aplicações que, assim, poderão ter seu número diminuído. Além disso, o volume de calda por hectare e a mão de obra no manejo fitossanitário poderão ser reduzidos significativamente, diminuindo os custos de produção”, aponta o pesquisador da Embrapa. “Afora isso, favorece-se a qualidade enológica da uva, e com menor impacto sobre o meio ambiente e o produtor, considerando a menor exposição aos produtos químicos”, acrescenta Pessoa dos Santos.
Ele enfatiza que a preocupação com práticas culturais é imprescindível em uma zona vitivinícola como a Serra Gaúcha, com condição climática sujeita a excesso de chuvas. Na região, a média da precipitação pluviométrica mensal é de 144,7 milímetros – mais do que o dobro do ideal para a videira, que necessita de 700 milímetros de chuva por ciclo/ano. Toda essa precipitação excedente é favorável à ocorrência de doenças. “Nesse cenário, práticas que reduzam o vigor da planta (menor adubação nitrogenada, uso de porta-enxertos menos vigorosos, podas com maior carga de gemas por planta e, principalmente, o emprego de poda verde) são essenciais para se ter incrementos na qualidade enológica da uva”, sublinha o pesquisador da Embrapa.

A desbrota inicial
A desbrota inicial é a primeira modalidade de manejo de poda verde a ser efetuada no ciclo vegetativo da videira. Ela deve ser levada a efeito logo após a brotação, quando cada ramo apresenta três ou quatro folhas, tendo por finalidade principal a eliminação de futuros ramos indesejáveis. Nesta prática é considerado o controle da quantidade de ramos (em excesso, podem comprometer o microclima no vinhedo) e também o posicionamento destes na planta. É importante que os ramos tenham um espaçamento, para evitar autossombreamentos, e que eles estejam localizados adequadamente na estrutura da planta, considerando o posicionamento dos fios de sustentação do parreiral para facilitar a condução dos mesmos ao longo do ciclo. Além disso, na posição dos ramos que ficam se deve considerar também o posicionamento das futuras gemas de produção para o ciclo seguinte.
Este ano, o momento de desbrota deu-se em meados de setembro/início de outubro.

Recomendações diante do granizo
A ocorrência de forte granizo na Serra Gaúcha na primeira metade de novembro significa atenção redobrada para o produtor quanto ao manejo, diz o pesquisador Henrique Pessoa dos Santos. De acordo com ele, em casos em que a intempérie foi leve, além dos impactos quantitativos em cachos e bagas, pode
ter acontecido a quebra de ápices de ramos. Com isso, poderá haver um maior estímulo à emissão de novas feminelas, vindo a ser necessário realizar um desbaste e condução adequada dessas novas brotações, para evitar excesso de sombreamento no período de maturação da uva. Também é importante que os ramos quebrados sejam retirados imediatamente do dossel para evitar barreiras físicas aos tratamentos. Deve haver, ainda, atenção às lesões que o granizo causou nos ramos do ano, pois elas podem comprometer a fertilidade de gemas do ciclo seguinte. Neste caso, nas áreas que foram muito afetadas, deve-se ter o cuidado de selecionar ramos/gemas adequados no momento da poda de inverno no ciclo seguinte. Nos casos em que houve a supressão total da produção, com muito dano nos ramos do ano, é necessário que o viticultor realize uma poda verde mais drástica, para que ocorra a emissão de novos brotos, com a intenção de formar ramos/gemas produtivas para o ciclo seguinte.

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