Estudo avalia grau de intoxicação por agrotóxico entre os agricultores

Acadêmicos da Faculdade da Serra Gaúcha, de Caxias do Sul,
registram dados de agricultores em 22 municípios do RS

 

Em cada município visitado,  em média 100 agricultores participam da pesquisa. (Foto: FSG/Divulgação)
Em cada município visitado, em média 100 agricultores participam da pesquisa. (Foto: FSG/Divulgação)

Um verdadeiro ‘check up’ na saúde dos agricultores. Assim pode-se denominar a pesquisa de campo que está sendo realizada por alunos da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), de Caxias do Sul, em um projeto pioneiro que tem como objetivo analisar e avaliar a contaminação de agricultores no uso e manejo de agrotóxicos. O estudo completo deve ser concluído no final deste ano e passará por 22 municípios da região. Já foram visitadas as cidades de Vila Flores, Garibaldi, Salvador do Sul, Protásio Alves, Nova Petrópolis, Veranópolis, Antônio Prado e Nova Roma do Sul. Os próximos municípios a receberem a visita dos estudantes serão Nova Bassano, Flores da Cunha, Paraí, Guabiju, Barão e Cotiporã. A lista completa dos 22 municípios ainda está sendo montada, de acordo com a confirmação dos municípios. Os acadêmicos dos cursos de Biomedicina e Educação Física analisam amostras de sangue, urina, medem a capacidade pulmonar e verificam as condições de saúde do trabalhador rural, seja ele das mais variadas culturas agrícolas.
Iniciado no ano passado, o estudo que busca avaliar o grau de intoxicação por agrotóxico entre os agricultores já esteve em oito municípios do Rio Grande do Sul. Em 2014, a pesquisa, que iniciou pela cidade de Vila Flores com 111 agricultores, recebeu o apoio de outros alunos e entidades como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de diversos municípios.
De acordo com a professora Julia Poeta, do curso de Biomedicina, que atua como coordenadora da pesquisa, juntamente com a professora Caroline Dias, de Educação Física, a iniciativa surgiu de uma atividade obrigatória da faculdade e depois foi ganhando aprofundamento. “Temos atividades práticas supervisionadas que a faculdade desenvolve com seus alunos. Uma das estudantes é de Vila Flores e filha de agricultores. Com isso, surgiu a ideia de analisar esses parâmetros dos defensivos nesta cidade. A iniciativa foi ganhando o interesse do curso de Educação Física, do STR e foi crescendo”, conta Julia. A pesquisa tem ainda a colaboração dos professores Adriana Rodrigues e Cristian Roncada e está sendo desenvolvida por uma equipe de 15 alunos dos cursos de Biomedicina e Educação Física.
Os resultados finais devem ser conhecidos no final do ano, quando os estudantes já terão percorrido os 22 municípios. Em média, serão atendidos 100 agricultores por cidade. “O objetivo é avaliar esses perfis de trabalhadores. Não sabemos ao certo o que vamos encontrar. Alguns podem estar com tudo normal, pois essa exposição com o agrotóxico normalmente é um efeito crônico e vai se desenvolver ao longo dos anos”, adianta a professora. As próximas cidades a serem visitadas serão Cotiporã e Flores da Cunha.

 

Sobre o estudo

Por meio dos Sindicatos Rurais das cidades, os agricultores se cadastraram previamente para fazer parte das pesquisas. A equipe de estudantes realiza uma série de análises que detectam os perfis de cada trabalhador. Dentre as principais observações está o perfil hepático (do fígado), hematológico (do sangue), colinesterase (enzima existente principalmente nas terminações nervosas e músculos), além do perfil toxicológico e as condições físicas do agricultor, com a aferição de peso, altura e medição de circunferência abdominal. Com isso, são coletadas amostras de sangue e urina e o agricultor é submetido a um teste de espirometria (que mede a quantidade de ar que um indivíduo é capaz de colocar para dentro e para fora dos pulmões e a velocidade com que o faz) para medir a capacidade pulmonar. “A Biomedicina e a Educação Física avaliam juntas cada agricultor. Após, para os resultados que chamam atenção ou resultam em alteração, emitimos um laudo e buscamos encaminhar para médicos. Contamos com a comunidade nesta etapa”, explica a professora Julia Poeta.
Em cada cidade, os alunos concluem a pesquisa com uma palestra informativa sobre o manuseio e os cuidados com os agrotóxicos. “São disponibilizadas informações como o melhor local para armazenagem, a maneira correta de lavar as embalagens, o manuseio dos defensivos, tudo para que os agricultores ganhem em qualidade de vida”, valoriza Julia. São municípios que produzem diferentes culturas agrícolas e, consequentemente, utilizam agrotóxicos variados.
De acordo com a docente, os agricultores se mostraram interessados em participar da pesquisa, o que agregou ainda mais valor aos resultados que serão obtidos. “Tanto os alunos como nós professores notamos uma grande comoção dos agricultores. É chuva ou sol e eles estão trabalhando e muitos valorizaram que é a primeira vez que alguém se importa com eles neste sentido. Isso está tendo uma relevância muito grande no projeto, os alunos estão crescendo profissionalmente, estão vendo a diferença que podemos fazer na vida de alguém”, acrescenta Julia.
Dentre as primeiras impressões da pesquisa uma está diretamente associada ao dia a dia do agricultor, que sempre utilizou o agrotóxico: a idade de quando iniciam a vida na lavoura. “Percebemos que a maioria deles começou a trabalhar com menos de 10 anos de idade, a média é de sete a nove anos. Então se eles têm hoje 30 anos, já são 20 de exposição, isso deve ser levado em consideração. Não é uma exposição crônica, mas por todos esses anos acaba se tornando uma”, lamenta a professora.
Ao final do estudo, os acadêmicos devem verificar os efeitos do uso de agrotóxicos no dia a dia dos agricultores.

 

Cuidados com os agrotóxicos

Segundo dados do Centro de Informações Toxicológicas do Estado (CIT – RS), no período de 2005 a 2012 o Rio Grande do Sul registrou mais de 5,5 mil casos de contaminação por agrotóxicos. Somente em 2012 foram 571 intoxicações em solo gaúcho. Os números chamam atenção para a necessidade de aumentar os cuidados no manejo desses defensivos, utilizando equipamentos de proteção e, ao lidar com as substâncias químicas, estar atento a uma série de ações para prevenir problemas de saúde como intoxicações, impotência, depressão e, até mesmo, abortos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) produziu uma cartilha sobre cuidados com agrotóxicos. Confira alguns deles:
– O transporte de agrotóxicos tem que respeitar regras para diminuir os riscos de acidentes e cumprir a legislação de transporte de produtos perigosos. Procure deixar as embalagens de forma segura, sem deixar com que elas se desloquem ou entornem.
– Só aplique agrotóxicos em sua lavoura quando for recomendado pelo agrônomo. Mostre a ele as pragas ou doenças que atacam sua lavoura e, se ele indicar, use produtos para prevenir pragas ou doenças.
– Os agrotóxicos devem ser guardados de forma segura para você, sua família e para o meio ambiente. Deposite o agrotóxico sempre em um local livre de inundações e separado de fontes de água, residência ou instalações de animais. As portas devem ficar sempre trancadas para não permitir a entrada de animais ou crianças.
– Se tiver que aplicar o agrotóxicos, não fique em dúvida em usar aquelas roupas quentes e pouco práticas, chamadas de EPI – Equipamento de Proteção Individual. Utilize sempre o EPI para preparar e aplicar o defensivo.
– Após o uso, as embalagens flexíveis (sacos plásticos, de papel, metalizados) devem ser colocadas dentro de outras grandes sacolas de resgate, fechadas e identificadas, até serem devolvidas ao revendedor. Para os galões, faça sempre a tríplice lavagem como indicado na bula do produto. A água utilizada na lavagem deve ser colocada dentro do pulverizador. Em seguida perfure o fundo dos galões para evitar que ele seja reutilizado.

Por: Camila Baggio

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Respostas de 2

  1. Bom dia.
    Trabalho com palestras sobre prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho e dentre elas a intoxicação por agrotóxicos. Tenho interesse no resultado da pesquisa acima. Como faço para ter acesso a ela?
    Att
    Sandra Busatta (enfermeira)

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