Evidências científicas apontam que a variedade, que no Brasil tem aproximadamente 50% de sua produção concentrada no município, seja única no mundo, o que deve impulsionar o projeto da Indicação de Procedência de vinhos finos e espumantes moscatéis de Farroupilha
Recentemente, a Serra Gaúcha recebeu o ampelógrafo (cientista que identifica e classifica as cultivares de videira) francês Jean-Michel Boursiquot, da Universidade SupAgro, de Montpellier (França). Mundialmente conhecido por ter redescoberto no Chile a variedade Carmenère, ele esteve na região para contribuir na confirmação de uma suspeita antiga: a de que a cultivar de uva ‘Moscato Branco’ presente na Serra Gaúcha desde os anos 1930 somente é cultivada comercialmente no Brasil, principalmente na região de Farroupilha, município que responde por cerca de 50% do volume de produção da casta no país.
Com o avanço do projeto de desenvolvimento da Indicação de Procedência (IP) Farroupilha, para vinhos finos moscatéis, iniciado em 2009, cresceu o interesse sobre a Moscato Branco cultivada no município. Ela é utilizada na elaboração de vinhos secos finos moscatéis e do moscatel espumante – um sucesso da vitivinicultura brasileira –, entre outros. Em 2012, a Embrapa Uva e Vinho aprovou uma ação de pesquisa específica para aprofundar a caracterização genética e molecular da uva. Tal atividade conta com a participação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e apoio financeiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através da Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários (CIG). Essa ação multi-institucional envolve os produtores da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin), titular da IP – cujo pedido de registro deve ser encaminhado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) ainda neste primeiro semestre.
A hipótese da originalidade surgiu a partir da observação antiga de que a Moscato Branco cultivada em terras brasileiras se distinguia das uvas moscatéis cultivadas na Europa. Os primeiros resultados indicam que a suspeita é verdadeira, e que a variedade seja realmente exclusiva. A experiência de Boursiquot, conjugada ao trabalho dos pesquisadores da Embrapa, tornou possível a comparação, sem encontrar um par idêntico entre amostras da Moscato Branco cultivada no Brasil e de uvas Moscato existentes em amplas coleções dos bancos genéticos de uva brasileiro e francês. Os estudos seguem, buscando-se mapear a origem e estabelecer a paternidade dessa cultivar, com a expectativa de que, em breve, possa-se conhecer que tipo de uva, afinal, ela é.
“A confirmação da hipótese certamente ampliará o interesse pelos vinhos moscatéis elaborados em Farroupilha, fortalecendo os conceitos de tipicidade e qualidade associados a essa origem, que são os elementos de base no processo de desenvolvimento da IP”, analisa o coordenador do conselho técnico da Afavin, João Carlos Taffarel.