Mercado de carnes orgânicas, especialmente a de aves, cresce no Brasil. Preço pode ser 30% maior

Foto/Paulina Riquelme
Família Rossi, de produtores orgânicos – Créd – Paulina Riquelme

Nos dias de hoje, e cada vez mais, as pessoas estão buscando viver uma vida mais saudável. Fazer exercícios físicos e seguir uma dieta equilibrada estão se tornando práticas comuns para grande parte da população. E quando o assunto é vida saudável, é impossível não relacionar o tema à Agricultura Orgânica, modelo de produção no qual não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. No Brasil, esse processo ganha novos adeptos, tanto de consumidores quanto de produtores e o cultivo vai muito além de frutas e de verduras.

Hoje, um mercado que cresce consideravelmente é o de carnes orgânicas, especialmente a de frango. Aí você se pergunta, mas, o que seria um frango orgânico? O agrônomo e pesquisador do centro nacional da Embrapa Suínos e Aves, localizado em Santa Catarina, Dr. Everton Luís Krabbe, explica. Segundo ele, atualmente existem três tipos de frangos no mercado nacional: o de corte, o caipira e o orgânico. E para entender o que é frango orgânico é necessário, primeiramente, conhecer os demais tipos.

Krabbe explica que o frango de corte possui características industriais. É criado confinado, em um aviário, de acordo com uma planilha que objetiva a produção da forma mais econômica possível. Sua alimentação é essencialmente à base de ração e, por meio dessa, a ave recebe pequenas doses de antibióticos que auxiliam no seu desenvolvimento mais acelerado. Já o frango caipira é criado livre, e não cresce com a mesma velocidade que o de corte. A diferença é que ele demora mais tempo para ser abatido, come capim, hortaliças e outros alimentos produzidos na propriedade, além da ração. Porém, esses alimentos não precisam ser de base orgânica.

Já o sistema de produção do frango orgânico é totalmente diferente dos demais. Para que se enquadre nesta nomenclatura é necessário que o produtor siga uma série de critérios e regas, inclusive de preservação ambiental. Conforme Krabbe, existe uma cadeia que envolve a produção de aves orgânicas. Além de ser criada solta na propriedade, a ave precisa ter uma alimentação absolutamente natural, ou seja, qualquer alimento consumido deve ser livre de agrotóxicos e a terra livre de fertilizantes químicos. “Esse animal precisa ser criado em uma propriedade orgânica, com oferta de alimentos orgânicos. Além disso, precisam ser certificados e ter rastreabilidade reversa. O fabricante deverá conseguir voltar no tempo e revelar todas as informações da vida desse animal, inclusive os fornecedores de alimentos e grãos, que também devem ser certificados”, explica.

Mercado

Atualmente, a oferta desse tipo de produto no mercado nacional ainda é pequena. Isso ocorre porque, normalmente, são os pequenos produtores que se dedicam a essa atividade, em virtude da dificuldade que grandes empresas têm em se adaptar às exigências legais e da falta de insumos de origem orgânica para a produção de ração. Conforme o presidente do Centro Ecológico de Ipê, Leandro Venturin, o Rio Grande do Sul não possui nenhum produtor com certificação de produção de frango orgânico. Apesar da atividade ainda ser tímida por aqui, Venturin destaca que algumas ações já estão sendo efetivadas para alavancar a produção de frangos orgânicos certificados no Estado. “Em Vacaria já existe uma plantação de soja e de aveia orgânicas e em Sananduva estão cultivando trigo e milho. A partir disso, a ideia dos produtores é fazer ração. Creio que em pelo menos um ano a gente inicie a produção em escala. Daí sim, poderemos contar com a produção significativa de aves”, revela o agrônomo.

O mercado consumidor estadual e nacional é abastecido pela Korin Agropecuária, sediada em Ipeúna (SP). A empresa é a pioneira na criação de frangos Antibiotic Free (AF), orgânico e caipira. A Korin abate, por mês, cerca de 370 mil aves. A escala ainda é pequena devido aos custos de produção, mas atende à demanda nacional. Conforme a gerente de produção animal, Leikka Iwamura, em 2015 foram abatidos 4.258.143 frangos, nos três modelos de produção da empresa.

Nos próximos anos, a Korin planeja incrementar sua linha de produtos. “Já em 2016 faremos o lançamento da carne bovina orgânica, truta sustentável, quibe e almôndegas sustentáveis, dentre outros. A produção de frangos também vai crescer a partir de agosto desse ano, passando de 20 mil aves/dia para 24 mil aves/dia, o que nos permitirá aumentar o nosso mercado consumidor. Outra expectativa está em torno da exportação. Vamos iniciar a primeira exportação do Brasil de frangos orgânicos. O primeiro local a receber o produto será Hong Kong”, adianta.

Atualmente, a Korin trabalha no sistema de integração para a produção de frangos. São 30 produtores situados num raio de 60 quilômetros de distância da sede da empresa. A partir de junho de 2016, o quadro será ampliado em 9% para atender o aumento de abate previsto para acontecer no mesmo ano. “Fornecemos ração, pintinhos, produtos para limpeza e assistência técnica semanal a cada produtor. Todo nosso sistema de produção é auditado por certificadoras. Para 2016, a previsão de alojamento é de 5.9 milhões de frangos”, explica Leikka.

Vantagens para produtores e consumidores

Apesar de parecer mais fácil do que a industrial, a produção orgânica exige uma série de cuidados por parte do produtor, que deverá sempre zelar pelo bem-estar dos animais, além de buscar a certificação de sua propriedade, por meio de uma empresa certificadora. Krabbe destaca que as vantagens para os produtores que decidem migrar para o modelo de produção de carne orgânica são diversas. A direta é o preço de comercialização, que é sempre maior, pois esses frangos possuem valor agregado, em média 30% a mais. Além disso, em virtude dessa ave não se alimentar exclusivamente de ração (70% ração), o produtor pode transformar o excedente da propriedade, como farelos, frutas, capim, entre outros, em alimento. Assim, o custo de produção também será mais baixo.
Outro fator interessante é com relação ao investimento necessário para iniciar a criação. “Hoje, se o produtor quiser iniciar a criação de frangos de corte, por exemplo, terá que adequar toda a sua estrutura aos padrões das empresas que fazem as integrações. Para isso é necessário um investimento muito alto em estrutura e tecnologia. Já no caso dos orgânicos, é possível, inclusive, adaptar um galpão utilizado anteriormente para outros fins e transforma-lo em um aviário”, exemplifica. Se for conduzida sistematicamente, essa atividade pode servir como um complemento da renda da família.
Para os consumidores, as vantagens também são muitas. A principal delas é a segurança quanto à procedência. Por meio da rastreabilidade reversa é possível ter certeza da origem dos produtos. Em termos nutricionais, o especialista afirma que o frango orgânico não difere muito do de corte. Porém, a características visuais, a consistência e o sabor são bem diferentes.

O que é preciso para iniciar a produção de aves orgânicas

Primeiramente, para ser considerado orgânico é preciso que o produto possua uma certificação que garanta que os procedimentos usados na produção estão de acordo com os princípios básicos da criação ou cultivo orgânico. “Nenhum produtor pode produzir para comercializar, ao menos não legalmente, sem que tenha uma inspeção. Então, ele precisa procurar a Secretaria de Agricultura do seu município, que irá disponibilizar um responsável técnico para acompanhar essa produção, orientando-o sobre alimentação, manejo e demais procedimentos de sanidade que devem ser seguidos. Inicialmente, ele precisa ter disponibilidade de água e de alimentos e uma infraestrutura mínima”, explica Everton Luís Krabbe, da Embrapa Suínos e Aves.
Para que o negócio seja viável, o pesquisador destaca que o produtor precisa ter condições de distribuir sua produção. “O que vemos acontecer muito com os pequenos produtores é que eles dependem de atravessadores para fazer a comercialização e com isso acabam perdendo toda a margem de lucro do negócio. Para quem faz esse contato efetivo e direto com o comércio, esse é um mercado que cresce muito. São produtos de boa aceitação não somente em grandes centros, mas também em cidades de médio e pequeno porte. As pessoas pagam mais caro por produtos com essas características diferenciadas”, pontua.

Frango de corte não faz mal à saúde, diz pesquisador

Hoje, a maioria da população brasileira consome o chamado frango de corte, que é produzido confinado em um aviário e recebe uma dieta que atende todas as exigências nutricionais. Essas aves recebem alguns medicamentos/antibióticos que são utilizados em doses muito baixas e que funcionam como estimuladores de desenvolvimento. “Esses complementos contribuem de uma maneira muito discreta para que o animal tenha uma saúde do seu sistema digestivo, de maneira que ele otimize mais os nutrientes da alimentação dele e converta isso em ganho de peso”, explica o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luís Krabbe.

Contudo, o especialista esclarece que os frangos de corte não recebem hormônios, conforme a maioria das pessoas acredita. “Essa é uma informação completamente mal difundida na sociedade. Isso nunca se mostrou algo econômica e nem operacionalmente viável de fazer, já que seria necessário aplicar hormônio injetável em cada frango, o que não seria viável. Na verdade, existe um processo intenso de melhoramento genético, associado às práticas do manejo e instalações adequadas. Hoje, os balcões de criação de frangos são totalmente climatizados. Esses animais vivem num ambiente totalmente controlado e isso contribui para a rápida velocidade de crescimento”, pontua.

Dessa forma, Krabbe aponta que o consumo de frango de corte não causa nenhum risco à saúde humana. “É totalmente saudável, sem nenhum hormônio. Esse alimento recebe pequenas quantidades de antibióticos que funcionam como mero modulador de micro-organismos presentes no sistema digestivo. Tudo é estudado e avaliado para saber se isso se deposita ou não nas carnes e se pode chegar ao prato do consumidor. Para isso existem normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura que determina o que é permitido para usar nos frangos de corte. Nenhum promotor de crescimento além do que é descrito pode ser utilizado.“Além disso, existe uma ração destinada somente à última semana de vida do frango, que não pode conter antibióticos, para garantir a completa ausência de resíduo de antibióticos na carne”. explica o pesquisador.

Para mais informações sobre a criação de frangos orgânicos
Embrapa Suínos e Aves
Endereço: km 110, – BR-153, Concórdia – SC, 89700-991 | Telefone: (49) 3441-0454
E-mail: suinos-e-aves.imprensa@embrapa.br

Por: Mirian Spuldaro

Uma resposta

  1. Bom Dia!

    Favor informar qual a maior quantidade de frangos orgânicos, abatidos dentro das normas Halal, tem para oferecer em seis meses – um ano ?
    Grato
    Demetre Calimeris

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