Herbicidas hormonais: impactos, desafios e caminhos para o futuro da vitivinicultura no Rio Grande do Sul

O setor agrícola enfrenta os prejuízos das derivas enquanto governo e indústria buscam soluções

As derivas de herbicidas hormonais continuam a impactar gravemente o setor agrícola do Rio Grande do Sul, com prejuízos recorrentes para produtores de uvas, maçãs, nozes-pecã e outras culturas sensíveis. Embora normas e fiscalizações estejam em vigor, produtores apontam dificuldades na aplicação e na eficácia das medidas de controle.

José Sozo, membro do Conselho Consultivo da Agapomi e produtor de maçã, uva e noz-pecã, relata a gravidade do problema. “O que tem acontecido é que, com as chuvas tardias, o plantio da soja foi empurrado para frente, agravando a situação. As aplicações de herbicidas hormonais em períodos críticos, como na florada da nossa pecã e no desenvolvimento inicial das uvas, têm causado danos irreparáveis. Estou há dois anos perdendo cinco mil enxertos de novos plantios”, afirma.

Sozo destaca a fragilidade do pequeno produtor em um cenário onde o grande agro domina: “Se quebrarmos o agro das mãos, deixaremos milhares de pessoas desempregadas. Perder a produção manual significa perder empregos e rotas turísticas fundamentais para o estado”, alerta.

Fabio Kagi, gerente de Relações Institucionais e Regulatório do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), explica o papel da entidade e da indústria. “A análise das situações ocorridas pode ajudar a compor ações para melhorias futuras. No Rio Grande do Sul, foi criado em 2022 um sistema de habilitação para aplicadores de produtos hormonais. A indústria é a que mais investe em pesquisa e desenvolvimento para tornar os produtos mais seguros ao ser humano e ao ambiente. O Sindicato sempre reforça a necessidade de promoção do uso correto e seguro”, aponta.

Sobre a possibilidade de proibição sazonal dos herbicidas, Kagi destaca: “Seria catastrófica e ilegal. Interrupções abruptas na cadeia de suprimentos causam enormes prejuízos e precisam ser analisadas com a cautela, rigor científico e análise dos fatos”.

Rafael Friedrich de Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da Secretaria da Agricultura (Seapi), apresenta os esforços realizados para conter os impactos das derivas. “Desde o implemento das normativas estaduais, já realizamos quase mil autuações relacionadas ao comércio, uso e prescrição técnica de agrotóxicos. Além disso, capacitamos mais de 20 mil produtores e implementamos o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS) para orientar a aplicação dos produtos”, afirma.

Lima também enfatiza os avanços obtidos. “Há casos que a presença da fiscalização leva ao acordo entre as partes. Em outros, a fiscalização levou a uma mudança de comportamento do produtor rural, em que o mesmo passou a adotar boas práticas na aplicação. Foi através do serviço oficial da Secretaria que fabricantes de agrotóxicos hormonais corrigiram bulas dos produtos, de tal forma a constar a exigência de equipamentos que diminuem risco de deriva”, ressalta.

Apesar dos esforços da indústria e do governo, o problema das derivas ainda desafia a sustentabilidade do setor. Para Sozo, o respeito ao pequeno produtor e a adoção de práticas mais rigorosas são fundamentais. “Não queremos apenas compensações pelos prejuízos do ano, queremos salvar nossos investimentos e o futuro das nossas culturas”, defende.

Com o planejamento de 2025 voltado para o fortalecimento das fiscalizações e a ampliação do diálogo entre produtores e aplicadores, o desafio é equilibrar produtividade, sustentabilidade e convivência entre o grande agro e os pequenos agricultores.

O setor vitivinícola, essencial para a economia e a cultura do Rio Grande do Sul, depende de soluções efetivas que garantam a preservação de suas riquezas e a valorização do trabalho manual que sustenta milhares de famílias e atrai turistas de todo o Brasil e do mundo.

 

 

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