Leandro Venturin – Técnico
em Viticultura e Enologia
stventur@gmail.com
Como apresentamos na edição de agosto, os biofertilizantes enriquecidos são a melhor alternativa para alcançar um suplemento alimentar que mantenha a planta equilibrada. Para isso, é importante tratar especificamente de seu preparo.
O uso de biofertilizantes vem aumentando de forma significativa, particularmente aqueles enriquecidos com diversos tipos de minerais. Diante da diversidade cultural do Brasil e dos diferentes tipos de solos e cultivos, é bem positivo que cada região adapte as formulações para a sua realidade e dê nomes criativos.
Contudo, esta concepção nem sempre garante que tenhamos desenvolvimento adequado das culturas comerciais. Por fatores externos (clima, solos, manejo) ou internos (genética, fisiologia, adaptabilidade) ou a interpelações destes fatores, poderemos lançar mãos de práticas de controle de pragas e doenças, mas com intuito de favorecer ou reestabelecer o equilíbrio.
Veja algumas receitas de insumos para a produção orgânica
Água de Cinza: Diluir 1 kg de cinza em 10 L de água, deixar em repouso durante um dia. Retirar os resíduos que ficam na parte superior da solução, e sem movimentar o resíduo que ficou no fundo, retirar somente a água.
Cada litro desta água de cinza deve ser diluído em mais 9 litros de água. Ou seja, em um pulverizador de 1500 para fazer 5 ha (300 lt/ha) vamos precisar de 15 kg de cinza e 150 litros de água de cinza.
Calda Sulfocálcica líquida. Usar 1% a 2% (1000 a 2000 ml por 100 L, de calda a 32ºBé)
Calda Bordalesa (sulfato):
– usar de 250 g a 1000 g de sulfato de cobre (0,25 a 1%) + cal (suficiente para neutralizar), para 100 litros de água.
OBS:
1) durante a floração pode ser utilizado de 250g a 700g
2) aplicado com calda de pH próximo a 7 (pH neutro) até a floração, podendo aumentar a quantidade de cal depois da floração;
Leite Crú: para 100 litros de água.
– 1 a 2 litros, misturado com Água de Cinza a 1%. O leite azedado tem em sua composição muitos microorganismos que ao se depositarem sobre a folha, estimulam a planta a ativar seus mecanismos de defesa. Bom como preventivo para controle de oídio.
Calda de Cinza + Cobre:
100 g de Sulfato de Cobre diluído em 10 L de água. Acrescentar água de cinza a 10% até neutralizar (PH 7) (utilizar sempre papel indicador). Após a neutralização acrescentar água limpa até completar 100 L.
Silício:
– utilizar 1 a 2 kg por hectare em cada aplicação
– tem efeito interno, estimulando as defesas da planta e externo aumentando a dureza da folha e da casca do grão, ajudando no controle da mufa, podridões e insetos-praga;
Controle biológico
Thricoderma aéreo
– Dosagem = utilizar 1 litro por aplicação por hectare.
– Na aplicação deve ser misturado leite cru azedo (1 litro/100 litros) ou açúcar mascavo (800g/100l), para servirem de alimento para o Trichoderma, fazendo com que ele se reproduza mais rápido sobre a planta.
– Intervalo de aplicação: nas variedades sensíveis as podridões aplicar 2 vezes, durante o período de floração. A 1ª com 20 a 30% das flores abertas e a 2ª em pleno florescimento.
– No caso de riscos de muita umidade no fechamento do cacho, aplicar uma vez próximo ao fechamento do cacho, junto com os demais tratamentos.
– O produto comprado deve ser armazenado em geladeira.
– Outras opções: Kamoi (clonostachys rosea) – 2 a 3 Kg por hectare para botrytis, 3 aplicações consecutivas – Bactel (baccilus subtilys) – 2 a 3 vezes na compactação do cacho e 2 a 3 vezes na maturação.
Extratos vegetais
Figo da India – adesivo
– Um (1) quilo de folhas picadas, colocar em 10 litros de água; Deixar de molho por 2 dias e retirar as folhas (coar); Usar 1 litro desta água para cada 100 litros de calda; Colocar por último no tanque. Pode ser armazenada, desde que em recipiente fechado, na sombra em local fresco por 20 dias.
Extratos Inseticidas
– Arruda, pimenta, chichilho e aromáticas;
Extratos Fungicidas/Fungistáticos
– boldo, urtiga, cavalinha e camomila.
Extrato de alho: quebra de dormencia
– Colocar 1 kg de alho triturado (liquidificador) em 10 lt de água e deixar um dia de molho
Coar e misturar 100 ml de espalhante figo da índia ou de óleo de cozinha usado e realizar aplicação diretamente sobre as gemas com costal, pincel ou esponja.
Agricultor aponta benefícios dos tratos orgânicos
Há mais de uma década o agricultor Márcio Ferrari, de Farroupilha, fez uma mudança fundamental em sua propriedade. Adotou o sistema de produção orgânica nos três hectares e meio de parreiras da família. Com o acúmulo de experiência deste período, ele explica que para algumas variedades esse tipo de cultivo apresenta mais dificuldade, principalmente, em razão da ocorrência da glomerela, mais difícil de superar com os tratamentos orgânicos. Segundo ele, a bordô é a que mais facilmente produz no cultivo orgânico, devido a sua resistência e robustez.
Associado da Cooperativa Nova Aliança, Márcio acredita que a organização dos agricultores é fundamental para fortalecer a produção orgânica e promover a adoção das tecnologias que esse tipo de cultivo exige. O agricultor salienta que economicamente a produção orgânica tem uma série de vantagens, especialmente no valor do final do produto. No ano passado, por exemplo, enquanto a uva convencional teve seu preço médio em 57 centavos, a orgânica foi entregue na cooperativa a 92 centavos. Outra vantagem importante é a redução dos custos de produção. No ano passado, esse valor ficou em 37 centavos ao quilo, sendo que 80% é de mão de obra, já incluída a remuneração da família e dos trabalhadores contratados na colheita.
Para ter um bom produto, a uva orgânica necessita de vigilância constante para as doenças, como no cultivo convencional. Até dezembro, por exemplo, as aplicações são feitas no máximo a cada semana.
Para combater as doenças, Márcio Ferrari utiliza somente componentes recomendados para a produção orgânica. Aplica basicamente calda de cinza, cobre, melaço, açúcar mascavo e adesivo orgânico extraído do cactus. Como adubação utiliza a cobertura verde, biofertilizante e outros componentes que a análise de solo aponta a necessidade. Outro fator importante é que toda a preparação dos produtos para aplicação no combate às doenças que atacam a parreira é feita na própria propriedade, contribuindo decisivamente para a redução de custos. “É uma maneira de produzir mais tranquila”.
Uma resposta
Sr. FERRARI, tenho um pomar em vaso e faço pulverizações preventivas e para tratamento de fungos. Utilizo leite com bicarbonato de sódio. Estou querendo preparar sulfato de cobre, porém a indicação de diluição é de 30g para 17 litros de água. Eu utilizo no máximo 0.5 litros. Minha dúvida é se posso armazenar o sulfato de cobre diluído e por quanto tempo? Desde já agradeço a atenção.