Jesus que salva ou que ensina?

Tenho pregado muito sobre esse tema. Percebo uma diferença fundamental entre salvar e ensinar. Nós recebemos uma imagem de Jesus, desde o início, carregada com o elemento divino, que é real, onde encontramos Nele, logo algo misterioso e poderoso. Desde o nascimento até a Cruz tudo está carregado de mistério. Nos foi anunciado Jesus a partir da ressurreição. Isso faz com que acolhamos Dele mais o que é divino e menos o que é humano. De certa forma, o humano em Jesus fica quase aniquilado na nossa mente. Embora saibamos que ele nasceu, se encarnou, foi crucificado, o vemos a partir da ressurreição. Desde o nascimento até a glória tudo fica envolto pela divindade. Ou seja Ele é o Cristo, o Senhor, Ressuscitado que está junto de Deus. Ele é Deus, costumamos afirmar. Temos dificuldade de afirmar com a mesma intensidade que Jesus é homem.

Quando dizemos isso, parece que na mesma fala temos que dizer que Ele é homem e Deus ao mesmo tempo. Se dissermos que Jesus é homem parece que estamos negando sua divindade. Observar isso é interessante. Eu creio que temos que afirmar também com a mesma intensidade que Ele é homem. Ser humano, Filho de Deus, igual a nós. E como diz a teologia, exceto no pecado. Olhar Jesus só pela ponto de vista de sua divindade retira muito a perspectiva do ensino que ele tem. E Jesus é Mestre e Salvador e não só Salvador.
Se vemos Jesus como mestre nos interessamos em saber o que um Mestre faz. O mestre ensina com sua palavra, com sua presença e atitude. Ele faz o discípulo andar a partir de sua palavra. A palavra abre a mente e o coração, orienta, anima e reanima, desbloqueia, abre possibilidades novas. Precisamos recuperar em Jesus a dimensão de Mestre. Ele quer fazer discípulos. Ele quer nos ensinar.”Levanta pega a tua cama e anda”. Essa me parece ser uma passagem onde Jesus quer fazer com que o prostrado perceba a força que há dentro dele. Ele não precisa ser carregado por outro. Ele deve levantar e ele mesmo carregar sua cama, sua vida. Ninguém carrega a vida por outro. A presença de Jesus mobiliza minhas forças interiores para fazer com que eu perceba que devo andar por mim mesmo. O Mestre ensina isso. Ele desperta a força que há no interior de cada um. Um pai e uma mãe são chamados a fazer isso. Eles devem ensinar seus filhos. Não devem carregá-los sempre é continuamente. É possível em algum momento fazer isso. Mas não sempre. Eles devem despertar a força de construção e de criatividade que há no coração dos filhos. Agora, se eles decidirem salvar o tempo todo seus filhos, carregá-los quando não precisa e nem devem, blinda- lis contra qualquer dificuldade. Se isso acontecer, possivelmente seus filhos não vão vencer. Vão ser sempre dependentes.
Nisso percebemos a diferença entre ensinar e salvar. Jesus é Salvador, nós sabemos. Mas antes ele é Mestre. Para isso, antes de pedir ajuda deveríamos querer apreender com ele. Estar dispostos a olhar para ele com ouvidos de escuta. Aproximar-se da palavra. Querer entender o que quer dizer. Destruir em nós crenças mágicas e ilusórias criadas a partir de compreensões pouco bíblicas de Jesus. Jesus deve nos encantar, antes de tudo, pela palavra e jeito novo que tem.
Se nos encantarmos mais pela maestria de Jesus do que pela força de fazer milagres que tem, muita coisa mudará em nossa vida e na Igreja. Observaremos sempre o que podemos aprender Dele para lidar com nossas cegueiras, nossos medos, nossas angústias, traumas e doenças. Aqui Jesus será o mestre da vida. Jesus humano que fez passos na história e apreendeu como nos. Depois transmitiu a verdade de forma brilhante a todos nós. Os discípulos se encantaram por esse Jesus, o Mestre. Eles não sabiam e nem compreenderam, antes da morte, que este também seria o Salvador da humanidade. Depois o anunciaram não porque o descobriram Salvador, mas porque o Mestre também se tornou, pela ressurreição, o Salvador.

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