A alma da Sociedade Vinícola Rio-Grandense
Os anos de 1920 não estavam nada fáceis para o setor vitivinícola. Havia falta de união no setor e também um desentendimento constante entre os vinicultores. Preocupados com a situação, alguns empreendedores setoriais e líderes políticos incumbiram o contador José de Moraes Vellinho em buscar melhorias e constituir uma sociedade comercial a partir da união dos empresários. Após muitas negociações de Vellinho, foi formada a Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. Em 5 de junho de 1929, a empresa deu início as suas atividades com o intuito de ajustar interesses historicamente antagônicos, construir novos padrões de qualidade para o vinho e ter o encargo de receber, homogeneizar e comercializar a produção de seus fundadores e associados. Por meio de um dispositivo legal toda a comercialização de vinhos feita sem a intermediação da Sociedade seria onerada de taxas e, por isso, muitos empresários não-associados se tornaram aderentes, vendendo seus produtos sempre através da empresa.
Com a fundação da Sociedade Vinícola Rio-Grandense ocorreu a introdução de muitas novidades (e também de desentendimentos) e expansão do setor vitivinícola. A empresa comprava uvas dos produtores e coordenava a vinificação nas cantinas dos associados, inovando as atividades. Naquele ano mesmo, importou cerca de 130 variedades europeias e iniciou a formação dos famosos vinhedos da Granja União em Flores da Cunha. Eram os primeiros passos na produção de vinhos varietais finos em contraposição aos vinhos de mesa. Cinco anos depois, a Sociedade comercializou a primeira produção de vinhos finos com a marca Granja União, que fez sucesso em todo o país. Eram vinhos de Bonarda, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, entre outras castas. Com isso, estava consolidada a Sociedade Vinícola Rio-Grandense e uma nova fase vitivinícola no país. Mas, quem era o homem que liderou essas mudanças?
José de Moraes Vellinho nasceu em Santa Maria em 8 de janeiro de 1898. De origem portuguesa, era filho de João Rodrigues Vellinho e Adalgiza de Moraes Vellinho. Em 1911, após o falecimento do pai, sua mãe junta dinheiro e coragem e muda-se para Porto Alegre com os seis filhos. O objetivo era fornecer estudos de qualidade para a prole. Na capital, o jovem de 13 anos é matriculado no Colégio Anchieta, onde forma-se em Contabilidade.
Aos 20 anos, é convidado pelo tio José Penna de Moraes, intendente municipal em Caxias, a passar as férias no município. Penna de Moraes possuía uma pequena cantina e pediu para Vellinho dar uma olhada nos livros da contabilidade. Ao analisar os números, o jovem contador afirmou ao tio: “os negócios não estão nada bem”. Foi, então ,convidado para assumir a cantina do tio. Aos poucos, conseguiu recuperar os negócios, conviveu com os líderes do setor vitivinícola e percebeu que a classe não andava nada bem. Apoiado pelo tio Penna de Moraes, um dos primeiros políticos a defender a indústria vinícola, começou a estigmatizar o sonho da Sociedade Vinícola Rio Grandense. Com 48 cantineiros associados liderou a formação da companhia, em 1929, como já visto. “Era um homem de muita visão e a primeira coisa que fez foi uma avaliação dos vinhos. Só entrava na vinícola bons vinhos e os vinagres. Foi a primeira vez que uma empresa tinha como marca registrada a qualidade”, conta o filho de José, Paulo D’Arrigo Vellinho.
Vinho de qualidade
Apesar do perfil discreto e tímido, Vellinho tinha um espírito empreendedor. Contratou um enólogo italiano e mantinha uma sistemática de trabalho voltada para a qualidade e a estabilidade da Sociedade. Abriu filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Rio Grande, além das instalações em Caxias do Sul, a unidade em Bento Gonçalves e a matriz em Porto Alegre, cidade que voltou a residir por volta de 1930. A empresa também possuía sua própria tanoaria. Conforme seu filho Paulo, Vellinho tinha a preocupação em proporcionar a todos os públicos um vinho de qualidade e mostrar uma imagem homogênea do vinho brasileiro. Tendo uma relação próxima com o presidente Getúlio Vargas, já que seu irmão, Moysés de Moraes Vellinho era oficial do Ministro da Justiça Osvaldo Aranha, ele conversava regularmente com o presidente sobre o setor vitivinícola, que na década de 1930 enfrentava uma nova crise devido ao excesso de produção. Dessa preocupação, nasceu, em 1936, o Instituto Rio-Grandense do Vinho, um órgão de fiscalização da bebida. Vellinho se uniu com o ‘antigo rival’ Humberto Lotti, da Cooperativa Garibaldi, para o bem do setor e acordou a fundação do Instituto. “Ele pensava no setor como um todo e lutava pela qualidade do vinho brasileiro”, lembra Paulo.
Na década de 1950, a Sociedade Rio-Grandense comercializava para outros estados mais de 13 milhões de litros anualmente, o custo do transporte era elevado e para reverter o quadro, Vellinho teve uma ideia inovadora: adquiriu um navio-tanque que transportava o vinho a granel, saído das pipas da vinícola direto para o porto da capital gaúcha. O navio, batizado de Vinho Castelo, passou a transportar a bebida para os portos de Santos, Rio de Janeiro e região Nordeste. Isso perdurou até 1957, quando numa viagem para a Argentina o navio acabou se chocando com um rochedo e foi a pique, o que causou grandes prejuízos.
Na década de 1960, a Sociedade Vinícola Rio-Grandense mudou seu nome para Companhia Vinícola Rio-Grandense e detinha cerca de 30% das vendas de vinhos no país. O carro chefe era o vinho comum Castelo. Vellinho permaneceu na liderança da vinícola até 1970, mas continuou no seu conselho administrativo. Na metade dessa década, a Companhia passa a ter dificuldades e vê sua participação no mercado reduzir com a fundação de empresas estrangeiras e do crescimento das cooperativas. Em 1998, a empresa se desfez totalmente.
Timidez e ousadia
O tino empresarial também fez com que Vellinho investisse em outros ramos, além do setor vitivinícola. Na década de 1940, a Sociedade Rio-Grandense investiu no mercado de papel e celulose e fundou a Celulose Irani S.A, no estado de Santa Catarina. Apesar do envolvimento com líderes políticos, Vellinho jamais se envolveu com política ou assumiu cargos públicos. Essa discrição estava ligado ao seu perfil tímido, descrito pelo filho Paulo. “Foi um grande empreendedor e um líder empresarial do seu tempo. Era ousado e dedicado. Para se ter uma ideia, em 1960 a empresa já fornecia a participação dos lucros para os funcionários e ele tinha um respeito muito grande pelos empregados. Quando tinha que entrar em ação se revelava, mas gostava de ficar quieto, sem se expor”, conta o filho Paulo.
O empresário foi casado com Iracema D’Arrigo Vellinho com quem teve sete filhos (dois já falecidos). Morreu aos 94 anos, deixando na memória de muitos o ‘o mito e o sonho do que foi a Sociedade Vinícola Rio-Grandense’.
Fontes: Filho Paulo D’Arrigo Vellinho/ artigo ‘O mito chamado Sociedade Vinícola Rio-Grandense, de Sergio Inglez de Sousa.
Por Danúbia Otobelli
Uma resposta
Boa noite, estou fazendo meu TCC sobre vinícolas da Serra Gaúcha e gostaria de evr se consigo algum dado com vocês especifico e um pouco mais atualizado sobre dados de cultivo de uvas, vinícolas, propriedades entre outras coisas relacionadas a viticultura.
Desde já agradeço a atenção.
Att.: Emanuele Deves