Julio Seabra Inglez de Sousa – Um especialista na viticultura nacional

Julio em 1935, quando coordenava a Festa da Uva de Jundiaí.
Julio em 1935, quando coordenava a Festa da Uva de Jundiaí.

Julio Seabra Inglez de Sousa foi um engenheiro agrônomo de grande importância para a vitivinicultura brasileira. Nasceu em 3 de julho de 1915, na cidade de São Paulo. Filho do doutor Octavio Inglez de Sousa e de Adilia Seabra Inglez de Sousa, dedicou-se desde cedo ao desenvolvimento da viticultura nacional. Em 1936, um anos após a formação no curso de Engenharia Agrônoma na Escola Superior de Agricultura ‘Luiz Queiroz’ da Universidade de São Paulo, iniciou cruzamentos controlados com variedades de videiras e ingressou no Instituto Agronômico de Campinas, onde atuou como chefe da Estação Experimental de São Roque e da Estação de Jundiaí. Ali trabalhou até 1964, quando se aposentou. Durante os quase 30 anos de atividades na Instituição, realizou pesquisas nas seções de viticultura, citricultura e fruticultura.

 

Conforme seu filho, o jornalista e escritor Sérgio Inglez de Sousa – que seguiu a paixão do pai pela vitivinicultura -, Júlio foi um grande especialista em “técnicas florestais, um dos maiores técnicos brasileiros em fruticultura e a autoridade máxima brasileira em viticultura”. Estudava in loco e academicamente toda a produção de uvas brasileira e na Estação de Jundiaí desenvolveu um intenso programa de pesquisas relacionado ao desenvolvimento de técnicas culturais e a obtenção de novas variedades de videiras.

 

Foi membro da Comissão de Estudos Frutícolas no Vale do São Francisco, atuou como secretário da Agricultura de São Paulo, trabalhou na viticultura goiana e foi contratado pelo Ministério da Agricultura do Paraguai para elaborar um parecer sobre a vitivinicultura do país, na metade da década de 1960. Junto com o filho Sérgio viajou pelas principais regiões vinícolas do mundo e do Brasil. “Dizia que a região da Campanha d o Rio Grande do Sul era o futuro e participava de muitos encontros e fóruns sempre insistindo para que houvesse qualidade nos vinhedos”, recorda Sérgio, que nas viagens e encontros abordava as questões do vinho, enquanto o pai falava da uva.

 

Apaixonado pelas questões vitícolas, escreveu uma dezena de livros que abordavam o assunto, além de um grande número de artigos científicos e técnicos publicados em jornais e revistas especializadas. São de sua autoria as obras Origens do Vinhedo Paulista (1956); Poda das Plantas Frutíferas (1961), Cultura de Videira (1955); Viticultura Brasileira – Principais Variedades e suas características (2002); Mutações Somáticas da Videira Niágara (1959); Isabel Cinza – Provável Mutação da Videira Isabel (1962); e o clássico Uvas para o Brasil, considerada a obra mais completa sobre a cultura da videira no Brasil. A primeira edição do livro foi publicada em 1969 e reuniu um estudo técnico e histórico sobre as uvas no Brasil servindo de base para enólogos e pesquisadores. “A uva dá em qualquer lugar no Brasil!

 

Não, isso não é exato. Repetimos pela terceira vez que a videira não vai bem em muitas partes do Brasil, naquelas em que o calor e a umidade agem conjuntamente durante o ano inteiro. Mesmo nas demais regiões brasileiras, onde o calor e a umidade não são constantes é preciso frisar que a videira não tolera em absoluto: situações expostas ao vento dominante; terrenos encharcados; baixadas ácidas e impermeáveis; terrenos de campo árido, terras rasas e com camada dura próxima à superfície”, ensinava Júlio na obra.

Embora crítico com os deslizes dos produtores nacionais, não se deslumbrava com a grandeza das grandes regiões europeias ou mesmo latinas e sempre acreditava na sagacidade da produção brasileira. Amigo íntimo do enólogo e viticultor Celeste Gobbato, trocava ideias sobre a produção brasileira. “Foi um batalhador do vinho nacional e deu uma atenção especial para a melhoria das uvas que gerariam condições para bons vinhos. Boa parte da qualidade dos vinhedos brasileiros se deu pela sua contribuição e pesquisa. Não teve uma ação direta na vinicultura, sua contribuição ao vinho se deu nos vinhedos. Não era um degustador de vinho, ele discutia a matéria-prima”, lembra o filho.

 

O engenheiro junto com o amigo Celeste Gobatto, durante as visitas ao sul do Brasil.
O engenheiro junto com o amigo Celeste Gobatto, durante as visitas ao sul do Brasil.

 

Além da uva
Sua contribuição para à agricultura ultrapassou os limites da viticultura. Integrou grande número de Grupos de Trabalho e Comissões Técnicas constituídos para tratar de assuntos relativos à fruticultura. Em 1987, foi agraciado com o título de Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Fruticultura pelos relevantes serviços prestados à fruticultura nacional. Atuou também com grande afinco na preservação da natureza realizando diversos projetos florestais. Nessa questão, também foi homenageado com a Medalha da Primavera da Sociedade Geográfica Brasileira por sua contribuição efetiva à proteção do meio ambiente.

 

Foi também o coordenador e idealizador do Projeto Enciclopédia Agrícola Brasileira, trabalho no qual se dedicou até a sua morte. Por esse projeto, recebeu o prêmio Jaboti. Atuou como jornalista profissional nas seções agrícolas dos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo e foi redator técnico, executivo e acionista da revista agrícola Chácaras e Quintaes, considerada a mais importante do setor agrícola na época em língua portuguesa.

 

Julio era casado com Zoraide Dias Inglez de Sousa com quem teve o filhos Julio, Marcelo, Roberto, Sérgio e Eduardo. Faleceu em 8 de dezembro de 1998, tendo dedicado toda a sua vida a favor de uma viticultura brasileira vitoriosa.

 

Fontes
Sérgio Inglez de Sousa/ Livros Uvas para o Brasil e Viticultura Brasileira – Principais Variedades e suas Características de Julio Seabra Inglez de Sousa

 

Por Danúbia Otobelli

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Respostas de 4

  1. Parabéns muito bacana seu trabalho.um pecado e deixar uma pessoa como essa cair no esquecimento.uma pessoa que fez tanto pela uva no Brasil e outras frutíferas.
    Vcs estão de parabéns.

  2. Este tipo de pessoa nunca deveria morrer ,fazer tudo o que fizeram,pela nossa vitivinicultura , naqueles tempos ,é admirável ,realmente eram gênios, ele e o Celeste Gobatto .
    Mesmo sendo antigos, os seus livros ,são atuais e de perfeita consulta .Faltaria um monumento em sua homenagem..(s)

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