Neste mês delas, as mães, o Jornal A Vindima faz uma homenagem às matriarcas
que exercem importante papel no desenvolvimento da agricultura familiar
O Dia das Mães é oficialmente comemorado em maio, mas, certamente, as mães devem ser homenageadas todos os dias. Nesta edição, o Jornal A Vindima traz dois exemplos de mães, agricultoras e verdadeiras matriarcas que não deixaram as adversidades do clima e do trabalho pesado na terra levarem seus sorrisos e seus olhares atentos sobre suas grandes famílias. Mães que tiveram sempre uma rotina dupla, do trabalho em torno da terra e do cuidado e zelo com filhos.
Da cidade de Cotiporã – conhecida como a ‘Joia da Serra Gaúcha’ – título que se refere às belezas naturais do município, conheça Anna Idavina Pitol Wearich, de 88 anos. Agricultora desde jovem, criou nove filhos, sempre aliando a rotina do trabalho no cultivo dos vinhedos à família e ao trabalho comunitário. Tem na fé e no amor à família seu modo de viver e desfrutar a vida. Conheça também a florense Ingês Zin Mascarello, 78 anos. Da ‘Terra do Galo’ – Flores da Cunha, Ingês tem 10 filhos, sendo sempre exemplar no trabalho, na educação, na fé e na personalidade carismática. Do cultivo das videiras, criou também uma família com raízes fortes e profundas.
Como dizem, mãe deveria ser eterna. Nela temos um conselho de amiga, um exemplo de trabalho e amor. Conheça a seguir as histórias dessas duas matriarcas nesta que é uma homenagem do Jornal A Vindima a todas as mães que têm força em lidar com a terra e, ao mesmo tempo, delicadeza em um abraço de filho.
Dona Anna: uma senhora batalhadora
Na comunidade Nossa Senhora do Rosário, interior de Cotiporã, em meio aos vales cobertos por vinhedos, mora dona Anna Idavina Pitol Wearich, 88 anos. Mãe de nove filhos, ela e o esposo Pio Wearich residem na comunidade há 55 anos e sempre obtiveram da agricultura o sustento da família. Anna é conhecida por ser uma mulher batalhadora, corajosa, amiga e muito feliz, levando, principalmente, a fé como companheira. “Deus está em primeiro lugar”, valoriza dona Anna. No seu dia a dia, apesar da idade, Anna se dedica à família, onde preza sempre pelo o amor e pelo respeito – valores herdados dos seus pais João Pitol e Ângela Sartoretto Pitol, hoje falecidos.
Quando jovem, Anna morava na comunidade Nossa Senhora Auxiliadora com os pais e irmãos, onde estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental. Aos 19 anos de idade casou com o também agricultor Pio Wearich, com quem começou a construir a vida na comunidade São Jerônimo, na Linha Barra, município de Guaporé. Depois de dois anos, mudaram-se para a Linha Leopoldina, atualmente Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, para trabalhar como agregados no cultivo da uva, na época na propriedade da família Giordani. Nesse endereço Anna e Pio trabalharam durante 11 anos, até adquirirem, em 1960, a área da família na comunidade Nossa Senhora do Rosário, em Cotiporã, onde moram até hoje.
O trabalho na terra própria começou com o cultivo da uva, há 55 anos. Em Cotiporã, o jovem casal teve nove filhos: Marilde (em memória), João Carlos (em memória), Olivar, Ivaldo, Dinorá, Zenaide, Marinês, Ivone e Marilde. Como mãe e agricultora, durante sua vida dona Anna trabalhou no cultivo dos parreirais, além de ser uma excelente dona de casa, uma mãe extremamente cuidadosa, amável e exemplar. Sempre ensinou aos filhos a importância de participar da comunidade, tanto na parte religiosa, como na social. Hoje dona Anna tem 16 netos e 10 bisnetos. Para ela, estar sempre cercada pela família é a melhor forma de aproveitar cada coisa boa da vida, por isso adora receber visitas e sempre fica à espera dos filhos, noras, genros, netos e bisnetos. “Quem é bom, nunca se arrepende, e paciência nunca é demais. Ser mãe exige tudo isso. Ser mãe, avó e bisavó é um presente de Deus. Ter e conviver em família é uma bênção”, valoriza dona Anna.
Ao longo de seus 88 anos de vida, Anna desfrutou de muitas alegrias e também muitos momentos de dificuldades, que sempre foram superados com fé, força e persistência. No último dia 17 de abril, o simpático e feliz casal Pio e Anna comemorou 68 anos de matrimônio, cercados pelo bem mais precioso para ela: a família.
Agricultor-repórter: Essa sugestão de pauta foi enviada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cotiporã.
Disposição, simpatia e carisma
Dona de um sorriso contagiante e uma personalidade carismática, dona Ignês Zin Mascarello, 78 anos, parece ter um pouco da juventude de cada um dos 10 filhos. Hoje aposentada do trabalho na agricultura e morando na cidade de Flores da Cunha, sob os cuidados deles, os filhos, Ignês se orgulha muito da vida de trabalho e da família que construiu ao lado do esposo Aurélio Mascarello, que faleceu em 2000, aos 63 anos de idade. Dona Ignês casou-se aos 21 anos e, um ano depois, teve seu primeiro filho. Sempre trabalhou na agricultura, sem nunca descuidar da atenção da qual os filhos precisam.
A florense é natural da pequena comunidade de São Roque, no interior de Flores da Cunha. Após casar-se com Aurélio, passou a morar na casa paterna dele, na localidade de Sete de Setembro. Naquelas terras, era plantado “um pouco de tudo”, como recorda dona Ignês. Trigo, milho, batata, arroz, tudo para consumo da família, e os vinhedos que serviam como principal fonte de renda. “O que era produzido a mais nós vendíamos também, mas a uva era o principal negócio. Eu fazia de tudo um pouco, na colônia e em casa, não era fácil, não tínhamos muitas condições e não podíamos comprar tudo, por isso vivíamos das coisas que plantávamos, e com isso tínhamos que trabalhar mais”, conta dona Ignês.
Um ano depois de casada, ela deu a luz ao primeiro filho. Daí por diante a casa ficou cada vez mais cheia. Foram 10: Valter, frei José, Gilmar, Vani, Adiles, Itacir, Otavino, Eliane, Ironite e Daniel. Ser mãe sempre foi uma alegria para ela, que não se arrepende em nada em ter tido uma família numerosa. “Quando eu tive meus filhos, não tinham fraldas descartáveis, não existia nada pronto. Tudo nós fazíamos, costurávamos e dávamos um jeito. E hoje ,com tudo pronto, mais prático, os casais têm apenas um filho, poucos têm dois”, opina. Aos poucos os filhos mais velhos foram buscando outras profissões, como serralheiro, construtor, comerciante, a vida religiosa, entre outros. Dois deles mantêm a propriedade rural da família, ainda levando os vinhedos como trabalho. A propriedade de cerca de 20 hectares está produtiva e certamente ainda leva a identidade de dona Ignês.
Há três anos ela mora com os filhos na cidade, após a morte do esposo ainda passou mais de 10 anos mantendo em dia a propriedade rural e auxiliando no trabalho com a terra. Hoje, depois de ter cuidado dos 10 filhos, é dona Ignês que recebe carinho, atenção e, claro, o reconhecimento de cada um deles. “Sempre trabalhei muito, desde minha juventude. Éramos em oito filhas e apenas três homens. Com isso precisamos ajudar em casa desde muito cedo. Minha família já era grande e eu também tive uma família numerosa. Hoje estou muito feliz, nunca fico sozinha, sempre tenho filhos ao meu lado e isso é muito bom. Nunca me arrependi de ter engravidado, estava sempre contente e agradeço sempre a Deus, pois tenho uma família maravilhosa”, valoriza a simpática florense que, segundo os filhos, tem um ritmo acelerado que as vezes nem eles acompanham.