Confira a segunda e última parte do artigo assinado por pesquisadores da Embrapa Uva e Vinhos sobre a importância de o viticultor investir em mudas de qualidade
As plantas de cobertura apresentam diferentes formas de diminuir a disponibilidade do Cobre às videiras. Diretamente, podem absorver este elemento do solo e alocá-lo nas suas raízes ou parte aérea. Indiretamente podem exsudar, através das suas raízes, ácidos orgânicos que complexam o Cobre da solução do solo.
Em vinhedos com elevados teores de Cobre no solo, muitas vezes, nem mesmo as plantas de cobertura (especialmente as gramíneas) conseguem se desenvolver, já indicando o possível efeito fitotóxico na muda que será plantada (Fig. 4a).
Também, a manutenção de espécies vegetais no interior do vinhedo, tem efeito direto na mitigação das pragas relacionadas a morte precoce de mudas como fungos, nematoides, filoxera e pérola-da-terra. Quando maior a diversidade das espécies vegetais, maior a quantidade e variedade dos inimigos naturais (predadores e parasitas).
Da mesma forma, o uso de espécies não hospedeiras preferenciais (por exemplo, as gramíneas) têm efeito na interrupção do ciclo epidemiológico das doenças, especialmente dos patógenos de solo relacionados ao declínio de vinhedos.
Finalmente, plantas de cobertura têm efeitos positivos sobre atributos químicos e físicos do solo, tais como: ciclagem e disponibilização de nutrientes; menor erodibilidade e compactação do solo e maior proteção contra flutuações de temperatura e umidade. Portanto, a manutenção da cobertura vegetal no vinhedo só traz benefícios ao desenvolvimento das mudas.
A ideia de que estas espécies são competidoras da videira por recursos naturais e insumos é equivocada. Esta situação só ocorre quando há o manejo inadequado da cobertura vegetal.
Indicações
Implantação e manutenção de espécies de cobertura vegetal, não sendo permitida a exposição do solo durante o período de pré e pós-plantio das mudas (Fig. 4b). Qualquer espécie de cobertura vegetal é estimulada, especialmente se envolver alta diversidade vegetal.
No caso de introdução de novas espécies após o preparo do solo, uma opção de consórcio para o Sul do Brasil é a semeadura a lanço da aveia preta (60 kg ha-1) mais ervilhaca (120 kg ha-1) na proporção 50% de cada espécie (Fig 4c).
A janela preferencial para semeadura da maioria das espécies de cobertura no Sul do Brasil é de março até metade de abril, priorizando-se semeadura o mais antecipada possível.
Manejo da cobertura vegetal na linha de plantio
O manejo inadequado das plantas de cobertura, na linha de plantio poderá determinar subcrescimento ou morte de mudas devido à competição por luz, água e nutrientes (Fig. 5a).
Esta competição também prejudica a eficiência de algumas aplicações fitossanitárias, cujos insumos são absorvidos pelas raízes da muda (como a aplicação de inseticidas para o controle da pérola-da-terra).
Existem várias formas para o manejo da coberta vegetal na linha de plantio (Fig. 5b).Porém, a mais usual ainda é o herbicida. Neste caso, têm ocorrido inúmeras situações de fitotoxicidade por mau uso da tecnologia. Qualquer fitotoxicidade causará o aumento da sensibilidade da muda aos estresses bióticos e abióticos, especialmente a incidência de doenças. Herbicidas sistêmicos podem causar fitotoxidez quando aplicados em época muito próxima ao plantio, causando retardo no desenvolvimento, amarelecimento ou deformação foliar da muda e a morte em situações extremas.
Já os herbicidas de contato podem causar fitotoxidez quando aplicados em pós-plantio. Ao atingir qualquer área fotossinteticamente ativa da planta, causarão queima foliar. Esta queima, quando extrema, poderá acarretar definhamento e morte (Fig. 5c).
Muitas vezes, o viticultor não percebe que a muda já está metabolicamente ativa e absorve qualquer tipo de herbicida. Este momento de maior sensibilidade ocorre quando as gemas da planta estão na fase de ponta verde.
Indicações
– Manter a linha de cultivo sem a presença das plantas de cobertura no pós-plantio. Este manejo deverá ser realizado, de forma intensiva, no primeiro ano e no máximo até o terceiro ano. Após este período, o efeito de competição da espécie de cobertura torna-se mínimo, não justificando o seu manejo intensivo.
– Priorizar métodos alternativos ao herbicida, especialmente no pré-plantio, como: capina, roçagem ou gradagem da linha de cultivo e o disco de papelão para cobertura de solo na região da “coroa” da muda (Fig. 5b).
– Aplicação do herbicida sistêmico pré-plantio realizada pelo menos 30 dias antes para minimizar riscos de fitotoxicidade. No caso da aplicação do herbicida de contato préplantio realizar, pelo menos, cinco dias antes.
– Não utilizar herbicida sistêmico em pósplantio devido aos altos riscos de morte por fitotoxicidade. Na aplicação do herbicida de contato pós-plantio deve-se realizar, obrigatoriamente, com proteção anti-deriva.
Plantio da muda
A técnica de plantio é um momento, muitas vezes, ignorado pelos viticultores, pois o que se verifica, frequentemente, é o plantio de mudas desidratadas e o excessivo “enterrio” das mesmas.
Mudas com a região da enxertia enterrada (Fig. 6a) tem alto risco de declínio, pois os patógenos de solo infectam a planta através desta região. Com o “enterrio” é inevitável o “afrancamento” da muda. Quando ocorre, o efeito do porta-enxerto é anulado, aumentando o risco de infecção por patógenos de solo diretamente sobre a cultivar copa (como a fusariose, por exemplo).Outro aspecto relacionado ao plantio refere-se à manutenção da simetria das raízes na cova, pois, se houver a torção das mesmas, a planta manterá esta assimetria radicular ao longo do crescimento, causando baixo aproveitamento da adubação e irrigação.
O plantio de mudas desidratadas é um estresse pouco observado pelos viticultores. A consequência desta prática é observada quando ocorrem veranicos após o plantio ou em plantios tardios. Nestas situações, a muda rapidamente entra em déficit hídrico, cessando seu desenvolvimento e até mesmo morrendo. É normal que mudas do tipo raiz nua, estejam desidratadas após seu armazenamento em câmara fria. Portanto, sua reidratação é obrigatória.
Indicações
– Plantio da muda com a região da enxertia no mínimo 20 cm acima do solo (Fig. 6b). Em função da recomendação de poda do sistema radicular para mudas tipo “raiz nua”, a profundidade da cova de plantio deverá ser rasa.
– Colocação da muda na cova de forma que as raízes mantenham a simetria. Após o plantio, a região do entorno da muda deverá ser compactada para evitar seu tombamento pelo vento ou arrasto por chuvas.
– Hidratação da muda durante as 24 horas antes do plantio. A hidratação poderá ser feita em tanques cobrindo apenas o sistema radicular da muda (Fig. 6c). Nestes tanques, deverão ser adicionados produtos à base de agentes para controle biológico (ex: Trichoderma spp.) para o manejo dos fungos relacionados ao declínio de plantas.
– A época preferencial para o plantio de mudas do tipo “raiz nua”, no Sul do Brasil, é de julho à agosto. Porém, nas regiões onde o risco de geadas tardias, é recomendável retardar o plantio. Neste caso, tornase complementar o uso de irrigação devido ao maior risco de estresse hídrico a partir da brotação.
Manejo fitossanitário para prevenção de pragas
O vinhedo, no qual a muda será plantada, muitas vezes, já está infestado por insetos-praga e fungos relacionados ao declínio de plantas (especialmente nos vinhedos em
renovação). Por isto, métodos preventivos de controle, baseados no uso de inseticidas e fungicidas, favorecem a proteçãodamudanosestádiosiniciaisde desenvolvimento pós-plantio.
No que se refere aos patógenos que infectam as mudas pelas raízes, têm-se observado que agentes de controle biológico inoculados junto às mudas em pré-plantio, contribuem na formação de uma biota antagonista a estes fungos patogênicos.
Quanto aos insetos-praga de solo, eles potencializam as perdas causadas pelos patógenos de solo, através de ferimentos nas raízes (ex.: pérola-da-terra (Fig. 7a e 7c)).
Mesmo que a muda tenha uma qualidade fitossanitária superior, o risco de morte é elevado, caso nenhum manejo preventivo seja realizado.
Mudas infectadas por patógenos de solo após o plantio, tornam-se subdesenvolvidas já no primeiro ano e, ao serem arrancadas, frequentemente já apresentam raízes e tronco necrosados (Fig. 7b).
Indicações
– As raízes da muda deverão vir podadas do viveiro no comprimento de 10 a 20 cm. Ferimentos não cicatrizados nas raízes são “portas” preferenciais para infecção dos patógenos de solo. Caso seja necessário podar as raízes, realizar antes da hidratação no pré-plantio com o uso de tesoura desinfestada (utilizar Hipoclorito de Sódio 3%).
– Para o manejo dos fungos relacionados ao declínio de plantas, produtos a base de agentes para controle biológico (ex.: os fungos Trichoderma ssp.) ou compostos naturais indutores de resistência, deverão ser aplicados diretamente na cova antes do plantio. Para reforço da colonização dos organismos antagonistas é recomendado a reaplicação destes produtos no pós-plantio, de forma dirigida à coroa das mudas.
– Para o manejo dos insetos pragas relacionados ao declínio, em pós-plantio, no mês de novembro do primeiro ano, realizar o controle das ninfas de pérola-da-terra (Eurhizococcus brasiliensis) pela aplicação de inseticidas neonicotinóides (imidacloprid e/ou thiametoxam). De forma continuada, eliminação das plantas espontâneas hospedeiras do interior do vinhedo (ex.: língua de vaca). Não cultivar a área do vinhedo com culturas hospedeiras (ex.: mandioca e batata doce – Fig. 7c). Não plantar nas bordas do vinhedo árvores hospedeiras (ex.: figueira).
– Realizar a proteção da muda contra os principais fungos da parte aérea que geralmente incidem na seguinte ordem cronológica, a partir do plantio: escoriose, antracnose e míldio.
– Não utilizar mudas não enxertadas (“pé-franco”). Devem-se buscar materiais propagativos com resistência a insetos pragas de solo como a filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) (ex.: P1103) e patógenos de solo como a fusariose (Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis) (ex.: P1103).
Para ter acesso à matéria completa, com dicas de ‘adubação nitrogenada de pós plantio’ e ‘condução da muda e poda de formação’, assine a versão impressa ou a digital do jornal A Vindima.
Artigo assinado por: Daniel Grohs, Marcos Botton, Lucas da R. Garrido e George Wellington B. de Melo.
Uma resposta
MATÉRIA MUITO BOA.